ANP: Preço médio da gasolina sobe pela 8ª semana seguida

Valor segue acima de R$ 6 por litro e afeta a inflação geral. Especialistas não conseguem prever queda nos preços, pois Bolsonaro insiste em manter paridade internacional de preços na Petrobras.

O preço médio da gasolina subiu pela 8ª semana nos postos de combustíveis do Brasil e permanece acima da marca de R$ 6 por litro, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

De janeiro até agora, a gasolina subiu 51% nas refinarias e nas bombas de combustíveis o aumento médio foi de 28%. A cotação média da gasolina comum nas bombas atingiu R$ 6,092 por litro nesta semana, ante R$ 6,076 na semana anterior.

Renê Carlos Abbad, vice-presidente da Brascombustíveis, uma associação brasileira de donos de postos, considera difícil avaliar se os preços vão parar de subir considerando as variáveis cambiais e dos preços das commodities internacionais. “Se, por um lado, o petróleo tem tido alguma queda recente, por outro, o dólar tem se valorizado em relação ao real”, exemplifica em entrevista à Rádio USP.

A pesquisa também mostrou alta nos valores do etanol, que chegou a R$ 4,715 por litro, versus R$ 4,704 na última semana. Abbad menciona as dificuldades do cultivo de cana de açúcar em meio às dificuldades climáticas como um fator de inflação para o etanol.

O óleo diesel teve leve recuo e foi cotado a R$ 4,707 por litro, pouco abaixo dos R$ 4,709 registrados na semana passada.

Em 2021, o combustível se transformou num dos vilões da inflação, responsável por afetar duramente o orçamento das famílias brasileiras – já prejudicadas pela alta dos alimentos e da energia elétrica. Segundo o IBGE, a gasolina acumula no ano uma alta de 31,09%.

A culpa é do golpe

Mesmo não sendo importado, a Petrobras cobra do brasileiro como se fosse. Os preços de venda dos combustíveis seguem o valor do petróleo no mercado internacional e a variação cambial. Dessa forma, uma cotação mais elevada da commodity e/ou uma desvalorização do real têm potencial para contribuir com uma alta de preços no Brasil, por exemplo.

Analistas consideram que a variação cambial tem maior incidência sobre a inflação que o preço internacional do petróleo.

O presidente Bolsonaro ataca os governadores alegando que a culpa é do ICMS, imposto estadual. De fevereiro para cá, embora o valor pago em ICMS tenha subido, a participação do tributo no preço total da gasolina caiu: naquele mês, representava 29% de todo o valor pago na bomba; em agosto, era 27,5%, segundo dados da Petrobras. 

A imprensa econômica culpa a instabilidade política, provocada por Bolsonaro, pela variação cambial, por criar insegurança nos investidores internacionais.

Mas todos fingem não saber que, desde 2016, com o golpe no governo Dilma e a política de Michel Temer e Pedro Parente, a Petrobras passou por uma mudança estrutural na formação de preços para seguir a paridade com o mercado internacional, com o objetivo de favorecer a lucratividade dos acionistas internacionais da estatal. A imprensa econômica acusava Dilma de “usar” a Petrobras para controlar os preços de combustíveis, quando a estatal deveria servir exatamente a isso.

Durante o governo Temer, a mudança de preços chegou a ser diária e acabou desembocando na greve dos caminheiros. A manifestação custou o cargo de Pedro Parente, então presidente da Petrobras. Ou seja, as variações no preço atual podiam ser ainda maiores se não houvesse pressão sobre a direção da estatal, já trocada de Roberto Castelo Branco para o general Joaquim Luna Silva.

O desmonte da cadeia produtiva do petróleo no Brasil também favoreceu a inflação, com a privatização de setores da empresa, que deixou de refinar e distribuir, para apenas extrair e exportar.

Não fosse essa intervenção do governo na Petrobras, todos os demais fatores, como variação cambial, preços internacionais de commodities ou instabilidade política, teriam pouca incidência sobre a inflação dos combustíveis.

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