Gilberto Gil eleito para a Academia Brasileira de Letras

O consagrado artista brasileiro agora integra a galeria dos escritores imortais

Gilberto Gil foi eleito com 21 votos para a cadeira número 20 da ABL, superando o poeta Salgado Maranhão (7 votos) e o escritor Ricardo Daunt (nenhum voto). Ele se junta a outros acadêmicos de notável trajetória na MPB, como o filósofo Antonio Cicero e o poeta Geraldo Carneiro, ambos letristas.

Autor de canções clássicas como “Aquele Abraço” e “Domingo no Parque” e de álbuns revolucionários como “Refavela” e “Expresso 2222”, Gil é um dos nomes que ajudaram a mudar não apenas a música brasileira, como a cultura como um todo, a partir das inovações e transgressões do movimento tropicalista nos anos 1960. Em 1996,  lançou o livro “Todas as letras”, uma reunião de suas composições, cumprindo assim o pré-requisito de ter pelo menos um título publicado para poder se candidatar à ABL.

A eleição do cantor e compositor para a ABL representa também o ingresso de mais um negro na instituição, que até então contava apenas com o professor e pesquisador Domício Proença Filho.

— Tanto Gil quanto Salgado Maranhão situam-se significativamente no espaço de afirmação e de reprentatividade cultural do negro na realidade brasileira — diz Proença Filho.

A questão da representatividade na ABL ganhou destaque nos últimos anos, especialmente após a campanha da escritora Conceição Evaristo em 2018. Mesmo sem se eleger, sua candidatura mobilizou o movimento negro, que passou a questionar a falta de diversidade no quadro da instituição.

Gil é indiscutivelmente um dos maiores artistas da História do país — e um dos mais reconhecidos fora dele. Como um dos principais expoentes da Tropicália, o movimento cultural que trouxe inovações estéticas nos anos 1960, Gil mesclou tradições brasileiras com vanguardas estrangeiras. Durante a ditadura militar no país, o movimento foi atacado por progressistas e conservadores, mas logo se impôs como uma tradução ousada dos anseios de boa parte da sociedade. Preso pelos militares, acabou exilado em Londres entre 1970 e 1972.

No documentário “Refavela 40” (Gil), de Mini Kerti, Gil vê seu disco  “Refavela” como uma profecia do que a MPB iria se tornar. Divisor de águas da música brasileira, o álbum de 1977 reflete diversas vivências do artista na época, como sua viagem à Nigéria naquele ano, os blocos afro da Bahia, os bailes da Black Rio e o reggae de Bob Marley. O último álbum de estúdio de Gil é “Ok ok ok”, de 2018, em que reuniu três filhos músicos  (Bem na guitarra, José na bateria e percussão e Nara nos vocais) para celebrar a vida. Na época, ele acabara de sair de uma série de internações por problemas renais.

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Fonte: O Globo