Protestos contra a fome se espalham por São Paulo

Após a ocupação de supermercados em nove capitais, Marchas da Panela Vazia querem chegar as periferias e denunciar o Natal de fome de milhões de famílias.

Marcha das mulheres no dia 25 de novembro já protestava contra a fome e a inflação. Juliana Barbosa MST-PR

As Marchas Contra a Fome, organizadas por entidades como a Central de Movimentos Populares (CMP), chegaram a quinze protestos simultâneos realizados em diferentes pontos da capital paulista na tarde desta terça-feira (21). A proximidade do Natal torna a dificuldade das famílias com o desemprego e a inflação do gás, da energia e dos alimentos, ainda mais alarmante.

Na última sexta-feira (17), protestos contra a fome também aconteceram em supermercados de pelo menos nove capitais do país. Hoje, um protesto foi organizado também no centro da cidade de São José dos Campos (SP).

A iniciativa quer representar a retomada do movimento contra a carestia, que ocorreu no final dos anos 70 e início dos anos 80, quando eclodiu no país o desemprego, a carestia decorrente da alta da inflação e a fome. O movimento catalisou a sentimento da sociedade para o enfraquecimento da ditadura militar. “Hoje a situação é mais grave que naquela época”, diz a CMP.

Realizados próximos a supermercados, os manifestantes reclamam contra a fome, o desemprego e o encarecimento do custo de vida. Os protestos chegaram à região central, ao Butantã, às favelas de Heliópolis e Paraisópolis e nas regiões de São Mateus, Grajaú, Capão Redondo, Jardim Caraguatá, Vila Prudente, Tucuruvi, Sapopemba, Cidade Ademar e Brasilândia.

Os atos foram organizados em regiões periféricas e no final da tarde para facilitar a participação dos trabalhadores dessas regiões, segundo Raimundo Bonfim, coordenador da CMP.

Para Bonfim, “o drama do desemprego e da fome é de tal magnitude que não bastam palavras de ordem, do tipo Natal sem fome, pois milhões de pessoas passarão fome neste Natal. Por isso, faremos as marchas por emprego, contra a carestia e a fome. Mostraremos que há comida nos supermercados, mas o que falta é emprego e dinheiro para comprá-la”, afirma Bonfim

Os participantes dos atos carregam panelas, ossos e faixas em protesto contra a fome no país. Uma carta aberta que alerta para a desigualdade no país será entregue para comerciantes de cada região e lidas para o público ao final das marchas.

No centro da capital, o protesto começou por volta das 15h, em frente à Bolsa de Valores. O local escolhido ficou conhecido em novembro pelo Touro de Ouro, espécie de réplica da estátua encontrada em Wall Street, no distrito financeiro de Nova York. A escultura foi alvo de protesto contra a fome. O Touro de Ouro acabou saindo e, no início de dezembro, uma vaca desnutrida foi colocada no mesmo local.

Os manifestantes protestam também contra o que considera como um desmonte promovido pelo governo Bolsonaro das políticas de combate à fome, como a extinção do Consea (Conselho de Segurança Alimentar), encerrado no primeiro dia do mandato, em janeiro de 2019.

O desemprego atinge 13,5 milhões de trabalhadores e hoje 20 milhões de pessoas passam fome no Brasil.