Muito além do Capital: por que Marx estava à frente de seu tempo

Um século e meio após a morte de Marx (1818–1883), sua obra é lida e estudada. Mas há outras facetas curiosas do pai do “socialismo científico”

O Museu Histórico Alemão, de Berlim, abriu na quinta-feira (10) a exposição Karl Marx e o Capitalismo, que se propõe a demostrar quão moderno era o pensador alemão – um dos mais influentes na história. A mostra fica em cartaz até 21 de agosto.

Um século e meio após a morte de Marx (1818–1883), sua obra é lida e estudada. Acima, de tudo, é uma obra ainda atual, de referência. Mas a exposição revela outras facetas do pai do “socialismo científico” e autor de O Capital. A DW selecionou algumas dessas curiosidades e aponta por que Marx estava “cinco vezes à frente de seu tempo”. Confira

1. Casou-se com uma parceira em seu nível

Sem Jenny Marx (1814-1881), o trabalho de Karl Marx não teria sido possível. Nascida Johanna Bertha Julie Jenny von Westphalen, ela não foi apenas jornalista – mas também a primeira leitora crítica do pensador. Além de debater com Marx e o também filósofo Friedrich Engels, ela trabalhou no Manifesto do Partido Comunista. Na única versão manuscrita do manifesto que sobreviveu, as primeiras linhas são redigidas por ela. Como jornalista, Jenny escreveu sobre a Revolução de Março da Alemanha e fez resenhas de William Shakespeare para o renomado jornal Frankfurter Zeitung. Também negociou com editoras e falava várias línguas estrangeiras − melhor que o marido. Isso foi bom, porque a família teve de passar a maior parte da vida no exílio. Engels considerava Jenny e Marx “duas naturezas altamente talentosas”. Após a morte de Jenny, ele comentou que sentiria amargamente a falta de “seus conselhos ousados e inteligentes”.

2. Ajudou a tornar realidade a jornada de oito horas

Em 1866, Marx e Engels ajudaram a tornar a jornada de trabalho de oito horas uma exigência oficial da Associação Internacional dos Trabalhadores. Já na década de 1810, diz-se que o galês Robert Owen cunhou o slogan que também é retratado num relógio de bolso no Reino Unido:  “Oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer e relaxamento”. Embora no Reino Unido a jornada de oito horas para funcionários efetivos nunca tenha virado lei, essa conquista histórica é realidade no Canadá (desde 1899), na França (1919) e nos Estados Unidos (1938). A jornada de oito horas também foi introduzida na Alemanha em 1918, mas a lei foi relaxada. O expediente de seis horas diárias está agora sendo testado em vários países europeus.

3. É o ícone do movimento “Occupy”

Em 17 de setembro de 2011, sob o slogan “Ocupe Wall Street”, manifestantes ocuparam o Zuccotti Park, no bairro financeiro de Nova York. Eles protestavam contra um sistema econômico no qual alguns enriqueciam, enquanto a grande maioria está ficando mais pobre – e pediram mais controle político do setor bancário e financeiro. O movimento “Occupy” logo se espalhou pelo mundo e se apropriou de um retrato de Marx, com o cativante slogan “Eu disse que estava certo”, o que o catapultou ao status de ícone moderno. Na realidade, desde a eclosão da crise do capitalismo, em 2017/18, os escritos marxistas voltaram a receber atenção mundial.

4. Conduziu pesquisas no mais alto nível − e inspira ainda hoje

Muitos economistas ao redor do mundo continuam a se referir às ideias marxistas. É o caso do economista francês Thomas Piketty, que publicou em 2013 seu livro O Capital no Século 21, com referência direta ao estudo pioneiro de Karl Marx, O Capital, de 1867. Em seu livro, Piketty baseia-se na análise de Marx e conclui que, desde meados do século 20, algumas poucas personagens do mundo industrializado acumularam cada vez mais riqueza. Segundo ele, o aumento da desigualdade é inerente ao capitalismo e, pior ameaça a democracia. O livro provocou debates globais sobre o futuro do capitalismo. Também em 2013, a edição original de O Capital de posse de Marx, com suas anotações manuscritas, passou a integrar a lista da Memória do Mundo da Unesco – uma sugestão conjunta dos governos holandês e alemão.

5. Cidadão do mundo

Karl Marx foi um cidadão do mundo, que influenciou o debate político em muitos países, como França, Reino Unido, EUA, Índia e Rússia − e também viveu em alguns deles, sendo expulso várias vezes por tumultos. O pioneiro de uma “revolução proletária” passou quase toda a sua vida como apátrida no exílio. Após o casamento, foi para Paris com Jenny – e lá começou a trabalhar com Friedrich Engels, filho de um rico industrial. Quando o governo prussiano exigiu sua expulsão, o casal se mudou para Bruxelas, seguidos por Engels. Lá, começaram a trabalhar num documento programático que se tornaria o Manifesto Comunista, terminando com a chamada agora mundialmente famosa: “Proletários de todos os países, uni-vos!”. A família Marx também foi expulsa da Bélgica e, em 1849, finalmente encontraram refúgio em Londres, onde viveram até a morte: Jenny, em 2 de dezembro de 1881, Karl, em 14 de março de 1883. Quase 150 anos após sua morte, sua obra ainda vende muito bem.

Com informações da DW