Por que as “sanções do Ocidente” não intimidam a Rússia

Reservas internacionais do governo russo, em moeda estrangeira e ouro, chegaram a níveis recordes, e apenas 16% das divisas da Rússia são mantidas hoje em dólares

Os Estados Unidos e a Alemanha estão entre os países que, no afã de emparedar a Rússia, começam a anunciar sanções econômicas em razão do conflito na Ucrânia. Uma reportagem da BBC mostra, porém, que essas tentativas de intimidar os russos podem são cada vez mais ineficazes.

O governo do presidente Vladimir Putin parece avisar que vai suportar sanções por mais tempo do que o Ocidente supõe – e o país, de fato, está mais preparado a essa realidade. Há um precedente para isso.

Em 2014, quando tropas russas entraram na Crimeia, anexando parte da Ucrânia, houve uma primeira rodada de sanções internacionais. Esse período ensinou a Moscou uma importante lição: estar preparado para esse tipo de retaliação. Desde então, a Rússia vem reforçando sua defesa, reduzindo a dependência do dólar e tentando tornar sua economia à prova de sanções.

Em janeiro deste ano, as reservas internacionais do governo russo, em moeda estrangeira e ouro, chegaram a níveis recordes, valendo mais de US$ 630 bilhões. É a quarta maior reserva do mundo e poderia ser usada para ajudar a sustentar a moeda da Rússia, o rublo, por um tempo considerável.

Além do mais, apenas 16% das divisas da Rússia são mantidas hoje em dólares, abaixo dos 40% de cinco anos atrás. Cerca de 13% é composto por renminbi chinês. Tudo isso foi projetado para proteger a Rússia o máximo possível das sanções lideradas pelos Estados Unidos, numa iniciativa – até aqui – inócua do governo Joe Biden.

Também foram desenvolvidas outras mudanças na estrutura da economia russa. Com o tempo, o país reduziu sua dependência de empréstimos e investimentos estrangeiros e tem buscado ativamente novas oportunidades comerciais fora dos mercados ocidentais. A China é uma grande parte dessa estratégia.

Moscou também deu os primeiros passos para criar seu próprio sistema de pagamentos internacionais, caso seja cortado do Swift – um serviço global de informações financeiras que é supervisionado pelos principais bancos centrais ocidentais. “O que a Rússia está fazendo, na verdade, é construir quase um sistema financeiro alternativo para que consiga resistir a alguns dos choques de sanções que o Ocidente pode impor”, diz Rebecca Harding, presidente-executiva da consultoria Coriolis Technologies.

A Rússia também vem reduzindo o tamanho de seu orçamento, priorizando a estabilidade sobre o crescimento. Isso significa que a economia do país cresceu em média menos de 1% ao ano na última década, mas pode ter se tornado mais autossuficiente no processo.

As sanções aos principais bancos russos – sobretudo os estatais – podem ser prejudiciais à Rússia. Mas os países ocidentais têm interesses estratégicos ligeiramente diferentes a serem considerados.

Para algumas nações, é obviamente mais fácil, por exemplo, impor sanções à indústria russa de petróleo e gás do que a outros. A União Europeia obtém 40% do gás natural da Rússia; o Reino Unido recebe cerca de 3%. A decisão da Alemanha de suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2, portanto, é prejudicial para a Rússia, mas também terá um impacto direto nos preços da energia na Europa Ocidental.

Com informações da BBC Brasil