A poderosa união da luta pelas mulheres e pela Saúde pública

Diversos grupos internacionais propõem jornadas permanentes contra a longa precarização dos serviços públicos nas últimas décadas

Os dois primeiros meses de 2022 foram marcados por protestos e greves de profissionais de saúde em vários países do mundo. Mas algo muito maior e mais admirável veio à tona agora: a união dos movimentos globais em defesa da mulher, por sistemas de saúde menos precários e menos excludentes e contra as tentativas de ampliar ainda mais a privatização dos serviços básicos, inclusive os mais essenciais à população como a saúde.

Esses “problemas de longa data no sistema de saúde” levaram, por exemplo, os profissionais de saúde da Turquia a ampliar sua luta. Eles também pedem condições de trabalho decentes, reportou o jornal Peoples Dispatch no final de fevereiro. “Enfermeiros, fisioterapeutas, trabalhadores de laboratório, farmacêuticos e outros profissionais de saúde também organizaram greves no Sri Lanka, Eslovênia e Austrália. Todos eles pedem para ser tratados e pagos de forma justa e para receberem o reconhecimento por seus esforços na pandemia”, conta o jornal.

Os profissionais de saúde estão lutando por melhores sistemas de saúde para todos, afirma a reportagem, lamentando, por exemplo, que governo norueguês, supostamente comprometido com a democracia, insista em fechar o maior hospital de emergência do país, em Oslo. Essa demanda é comum a muitos setores sociais e a percepção dessa convergência, na França, reuniu entidades sociais e populares, junto com os sindicatos, que este mês lançaram uma grande jornada internacional.

Na Itália também se aponta a convergência: médicos de cuidados primários de saúde entraram em greve, dia 1º/3, contra “problemas duradouros no sistema de saúde, falta de reconhecimento da contribuição dos profissionais na pandemia, grave escassez de pessoal e privatização crescente”. A base desse movimento múltiplo foi um apelo feito na França no início de março às mulheres trabalhadoras de saúde, propondo que as mulheres se levantassem “contra a austeridade, o patriarcado e a violência”, enquanto elas se preparavam para uma greve feminista nos setores de saúde e de assistência social em 8 de março passado.

Em seguida, a campanha Mulheres, levantem-se pretendia fortalecer os vínculos entre os movimentos feminista e de saúde, de modo que, após 8 de março, a campanha permaneceu ativa, com o objetivo de realizar mais uma rodada de mobilizações, no próximo 7/4, Dia Mundial da Saúde – Dia da Saúde das Pessoas. Corinne Veegaert, do Movimento pela Saúde Popular na França, explicou que a articulação das duas ocasiões é de grande importância para construir uma oposição unida às políticas de austeridade e de privatização, que minaram o sistema social na França, como no resto do mundo, com graves consequências para as mulheres.

Eliane Mandine, integrante do coletivo Patentes Stop!, mencionou a importância do acesso a medicamentos para a população mundial e insistiu na necessidade de suspender patentes de tecnologias em saúde, incluindo medicamentos, vacinas e diagnósticos. Laurence Mathioly do SUD Santé Sociaux, lembrou que as mulheres representam mais de 85% das profissões de saúde e de cuidado, e que, como tal, exigem ser reconhecidos, receber melhores salários, melhores condições de trabalho e vida melhor fora do serviço.

Na Itália, a conexão criada pela múltipla exclusão chega ao absurdo, como relatou um dos grevistas em Roma. “A maioria dos médicos que trabalham nos cuidados de saúde primários e territoriais na Itália hoje são mulheres. No entanto, não podem usufruir da licença de maternidade devido à falta de médicos […]. São basicamente obrigadas a dar à luz nos ambulatórios onde trabalham”.

Publicado originalmente no OutrasPalavras