Violência de gênero na política, por Cida Pedrosa

A violência de gênero, marca registrada de uma sociedade patriarcal e machista, avança sobre os espaços públicos cada vez que uma mulher se atreve a levantar a voz para expor sua visão de mundo e lutar pelos seus direitos

Charge em crítica às interrupções sofridas pela então pré-candidata à Presidência da República Manuela D'Ávila no programa Roda Viva em 2018 | Ilustração: Mifô

Neste dia 14 março fez quatro anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e do motorista dela, Anderson Gomes. Até hoje, a polícia carioca não identificou os mandantes desse crime covarde que se tornou um símbolo da violência cometida contra as mulheres na política. Até chegar ao extremo do assassinato, mulheres que resolvem disputar cargos eletivo passam pelos mais variados níveis de agressão.

Exatamente como ocorre nos casos de violência doméstica, o crime de morte é o estágio final de um circuito de maus-tratos e opressões que, na maioria dos casos ficaram impunes. Extrapolando a barreira do lar, a violência de gênero, marca registrada de uma sociedade patriarcal e machista, avança sobre os espaços públicos cada vez que uma mulher se atreve a levantar a voz para expor sua visão de mundo e lutar pelos seus direitos.

Essa agressão se manifesta de várias formas, desde o boicote à campanha eleitoral, com poucos recursos para o financiamento, passando pelas tentativas de desqualificação, até chegar às agressões verbais e ao assédio sexual, como aconteceu recentemente na Assembleia Legislativa de São Paulo, quando o deputado federal Fernando Cury (Cidadania-SP) passou as mãos nos seios da deputada Isa Pena (PCdoB-SP) em plenário.

Exemplos de agressão se multiplicam pelo país. Algumas companheiras de partido, como Manuela D’Ávila e Daiana Santos, vereadora de Porto Alegre, têm sido alvo de constantes intimidações. Ex-deputada federal, Manuela já viveu o drama de ver a filha de apenas cinco anos ser ameaçada de estupro e ter sua foto exposta em grupos de whats app. Já Daiana dos Santos tem recebido recorrentes ameaças de morte, impedindo que possa exercer seu mandato com tranquilidade. Outra companheira, Jô Oliveira, primeira vereadora negra de Campina Grande (PB), tem sido alvo de violência até dentro da casa legislativa a qual pertence, com negativas constantes a seus requerimentos, ainda que seja um simples voto de aplauso.

Se é inquestionável a impossibilidade de alcançar uma democracia plena sem a participação de mais mulheres nos espaços de poder, isso não vai acontecer enquanto as instituições e a sociedade continuarem naturalizando e ignorando as violências cometidas contra elas. Em última instância, não podemos mais ignorar que toda essa brutalidade é um eficiente mecanismo de exclusão para manter as mulheres confinadas nos espaços de onde o machismo determinou que elas nunca deveriam ter saído.

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