Eleições 2022: Assis Melo, um operário comunista na disputa à Câmara

“É na política, começando pelo voto, que podemos virar a página e reconstruir o Brasil”, afirma Assis Melo

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, Assis Melo

Na tarde de 26 de abril de 2017, Assis Melo roubou a cena no plenário da Câmara Federal. Os deputados da base do governo Michel Temer (MDB) queriam acelerar a tramitação da reforma trabalhista. Já a oposição, em menor número, denunciava a medida e tentava adiar a votação, em busca de mais apoios contra o desmonte da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Foi nesse ambiente de luta que Assis apareceu no plenário vestido com uniforme de operário soldador – sua profissão. Por cima do terno e da gravata, o então deputado federal pelo PCdoB-RS trajava macacão branco, máscara e luva.

“É uma forma simbólica de mostrar como os trabalhadores se vestem e entram nas fábricas todos os dias. Foi para sensibilizar os deputados”, declarou Assis, na ocasião. “Os trabalhadores não podem entrar nesta Casa. Eu, como deputado e trabalhador, posso me vestir, me fardar como trabalhador e entrar aqui.”

No plenário da Câmara, Assis se veste como soldador, em 2017, para protestar contra a reforma trabalhista

Cinco anos depois de protagonizar essa cena inusitada e histórica, Assis é novamente pré-candidato a deputado. Líder operário, ele preside tanto o Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região (RS) quanto a Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil), além de ser dirigente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

Ao ser eleito presidente da Fitmetal, no último dia 23 de abril, Assis deu a tônica de sua pré-candidatura: “É na política, começando pelo voto, que podemos virar a página e reconstruir o Brasil, com um projeto de desenvolvimento nacional que se centre na reindustrialização do País, na valorização do trabalho e na distribuição de renda”.

Ex-vereador de Caxias (2009-2011) – com a maior votação na história da cidade –, Assis foi deputado federal pelo PCdoB-RS em dois momentos (2011-2015 e 2017-2019). Seu desafio é voltar a um Congresso Nacional que, hoje, conta com apenas três representantes da classe operária – o senador Paulo Paim (PT-RS) e os deputados federais Vicentinho (PT-SP) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP).

Mesa de encerramento do Congresso da Fitmetal, com Wallace Paz, Flora Lassance, Marcelino da Rocha, Raimunda Leone, Assis Melo, Alex Custodio e Aurino Pedreira (Foto: Tiago Maestro)

Mesmo a batalha para ampliar a representação dos trabalhadores – a “bancada sindical” – na Câmara tem sido cada vez mais dura. Conforme o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), apenas 33 parlamentares de origem trabalhista foram eleitos deputados federais em 2018 – número inferior aos 83 paramentares eleitos em 2010 e aos 51 de 2014.

“É importante ser candidato a deputado federal não só por nossa trajetória de luta. Os trabalhadores precisam ter mais representantes na Câmara”, afirma Assis ao Vermelho. “Meu trabalho e minha experiência, seja como sindicalista, seja como parlamentar, abrem essa possibilidade de tentar novamente ser deputado federal. Precisamos ampliar a nossa representação.”

Os compromissos de sua pré-candidatura já estão definidos. “Participar de fato da vida política é o que me motiva e me dá coragem para encarar, de cabeça erguida, esse desafio, por mais difícil que ele seja”, diz Assis. “Que possamos ter um posicionamento firme em defesa da Nação, da democracia, dos direitos dos trabalhadores e do desenvolvimento do País.”

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