Rússia prestes a tomar região na origem da guerra, por Paulo Nogueira Batista Jr.

Ao contrário do que é dito pela mídia ocidental, o conflito da Ucrânia não se trata de expansionismo de Putin, é parte de uma questão de maior complexidade

Mapa Ucrânia (Viacheslav Lopatin)

A Rússia parece prestes a conquistar a região de Donbass, região importante, inclusive, para se explicar a origem desta guerra que começou em fevereiro de 2022.

No Ocidente, a visão predominante, tanto nos EUA como na Europa, é a de que a Rússia está embarcando em uma aventura expansionista. Putin tem sido comparado, até mesmo, a Hitler. A ideia que está por trás destas comparações é a de que ele não irá parar após a invasão da Ucrânia e ameaçará a outros países da Europa Oriental no intuito de reestabelecer o Império Czarista.

Essas versões me parecem bem exageradas. De qualquer maneira, não se dá a devida atenção à perspectiva russa do problema. Para se entender o que está acontecendo, é preciso que se volte, pelo menos, até 2014. Neste ano, a Ucrânia vivenciou uma “revolução colorida”, fortemente apoiada pelos EUA e que depôs o governo ucraniano de então, próximo politicamente da Rússia. Este episódio se assemelhou ao golpe sofrido pela ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016, com muito mais violência, no entanto, com a participação ativa de milícias de extrema direita.

A primeira ação legislativa do novo governo ucraniano foi retirar da língua russa o status de língua oficial, o que gerou revoltas em regiões russófonas do país, como Odessa, Kharkhiv e Donbass. O governo reagiu com forte repressão, bem sucedida em Odessa e Kharkhiv. Em Donbass, no entanto, a resistência local obrigou o governo ucraniano a realizar acordos que garantissem autonomia à região, negociações que ficaram conhecidas como Acordos de Minsk.

Os Acordos de Minsk nunca foram cumpridos e um de seus principais pontos, que previa a transformação do Estado ucraniano em República, não foi concretizado. As cidades de Lugansk e Donetsk, em reação ao não cumprimento dos acordos, passaram a enfrentar Khiev com armas, desencadeando um conflito que levaria a diversas mortes de ucranianos russófonos. Essas mortes, no entanto, não receberam a mesma atenção da mídia ocidental quanto a recente invasão russa à Ucrânia.

Nas semanas que antecederam a invasão russa, o governo ucraniano intensificou os ataques à região de Donbass. Putin, portanto, decidiu pela invasão do território ucraniano, a fim de proteger a população russófona do país. Os objetivos russos não se resumiriam à região de Donbass. Calculando os prejuízos que teria com as sanções e represálias ocidentais, o presidente russo definiu que a operação militar também teria como objetivo desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia.

O quadro, portanto, é mais complexo do que a visão passada pela mídia ocidental de que as ações de Putin seriam de cunho expansionista. Sugiro àqueles que quiserem que se inteirem mais sobre as diversas perspectivas da questão.

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