Senadores irão ao Amazonas acompanhar busca pelo jornalista e indigenista

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor da proposta, diz que a comissão externa terá um papel mais amplo do que apenas acompanhar as buscas pelos profissionais

Bruno Ferreira e Dom Phillips na região (Foto: Arquivo pessoal)

O Senado aprovou nesta segunda-feira (13) a formação de uma comissão externa para apurar o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, funcionário licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai). Eles estão sumidos há nove dias após expedição que realizaram na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor da proposta, diz que a comissão externa terá um papel mais amplo do que apenas acompanhar as buscas pelos profissionais. “Parece-me que tem o esforço das autoridades na busca por Dom e por Bruno, mas tem algo que precisa ser apurado, ser investigado, que são as causas que levaram. As raízes. Seja qual for o desfecho, não desfecha o caso. Dom Phillips e Bruno foram vítimas de uma circunstância que está em curso na Amazônia e com o aumento da violência”, disse.

A comissão será composta por três integrantes da Comissão de Direitos Humanos, três integrantes da Comissão de Meio Ambiente, e três integrantes da Comissão de Constituição e Justiça. Cada colegiado terá 24 horas para indicar os membros que viajarão para o Vale do Javari.

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Randolfe diz que o Brasil está assistindo, ao final de quatro anos do governo Bolsonaro, que a Amazônia foi entregue ao banditismo político, crime organizado, garimpo ilegal, madeireiras ilegais e narcotráfico. “Isso porque foram desmantelados todos os mecanismos e instrumentos que existiam de defesa da Amazônia”, criticou.

Para ele, era contra essa associação criminosa, no Vale do Javari, que Dom e Bruno e os povos indígenas lutavam. O crime se instalou na região, segundo o senador, porque o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis (ibama), a Funai e todas as formas de fiscalização foram desmanteladas.

“Instalou-se porque uma governança ambiental, que este país construiu ao longo de 30 anos, desde a Constituição de 1988, quando esculpiu o capítulo do meio ambiente no texto constitucional, foi destruída”, disse.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) -Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Apoio

A comissão externa foi incentivada pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para quem há um estado paralelo que se impõe num lugar em que o governo não está presente. Por esse motivo, ele considerou que o episódio é um motivo de alerta e reação para o Senado.

“Caso realmente se confirme o fato de terem sido eventualmente assassinados, é uma situação das mais graves do Brasil. Assim como nós já presenciamos promotores de justiça, no seu munus [encargo] de acusar, sofrendo atentados, e alguns pagaram com a vida; juízes e magistrados julgando a criminalidade organizada, igualmente sacrificados em função disso; crimes políticos de atentados a parlamentares em função de sua atividade política, prefeitos municipais, a jornalistas que, por vezes, perdem a vida em função de seu mister de denunciar, de investigar. Em tudo isso, para além do sentimento humano da vida que se perde num atentado dessa natureza, há uma ofensa ao Estado brasileiro, há uma ofensa às instituições gravíssima” avaliou.

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Confusão

Com base na informação da família de Dom Phillips, o jornalista da Globo News André Trigueiro informou que havia sido encontrado os dois corpos na região, mas, logo depois, a PF emitiu nota negando.

A confusão, como explicou Trigueiro, foi causada por uma ligação de um embaixador nesta segunda-feira (13). “A família de Dom Phillips recebeu às 8:42 (horário de Londres) mensagem de Roberto Doring, da Embaixada brasileira no Reino Unido, pedindo que ligassem. Paulo Sherwood, cunhado de Dom Phillips, ligou e recebeu de Roberto a informação de que os corpos foram encontrados”, explicou o jornalista.

“Até o momento, portanto, prossegue o conflito de informações: a da Embaixada do Brasil no Reino Unido (sobre o aparecimento de dois corpos naquela região da Amazônia) e a Polícia Federal (desmentindo a informação). Lembrando que o governo é um só”, completou.

A família emitiu nota confirmando a versão de Trigueiro. “Fomos informados por telefone que dois corpos haviam sido encontrados, mas que, devido ao fato de ainda ser de manhã no Brasil, nenhuma identificação havia ocorrido”, disse.

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