Dia Nacional do Escritor

No Dia Nacional do Escritor, por que reduzi-lo somente às vozes da terra onde nascemos?

Foto: Pixabay

O coração da gente tão pequeno, mas ainda assim tão pretensioso, fica a se perguntar: a quem homenagear neste dia?

Sapo namorando a lua, aguinha de riacho a refletir estrelas, fica imaginando morar lá no alto. Mas eu lhes digo, num acesso de realidade, que eu por mim já me satisfaço demais em admirar a humanidade das estrelas. Por isso pergunto: espelho, espelho meu, existe beleza maior que Machado de Assis, Graciliano Ramos, Lima Barreto, João Cabral, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cruz e Sousa… e tantos, que a memória, menor que o coração, não lembra? E o que dizer das pessoas que nos legaram a literatura até mesmo sem palavras? Aquele pão com açúcar que a mãe nos deu quando sofríamos o amor impossível de criança pela menina mais bela do beco, o que era? Isso já não era um derivativo da angústia antes da psicanálise? Isso já não era mesmo uma antecipação do mais belo poema antes que um poeta maior o escrevesse? E o que dizer do beijo daquela menina em uma noite escura? E o que dizer da vergonha mais funda, que nos fez correr para chorar escondido no banheiro, magoado por magoar de modo mais vil, porque um amigo mais velho, que vivia sujo e embriagado, ter dito que eu não o reconheci na rua porque estava entre colegas de escola? Isso já não era uma antecipação da dor revelada nos melhores escritores?

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Então volto de outra maneira: no Dia Nacional do Escritor, por que reduzi-lo somente às vozes da terra onde nascemos? Mas a terra onde nascemos é o mundo que nos foi revelado, sempre. E digo essa frase para não dizer o nome de Hans Christian Andersen. Mais: por que reduzir um dia tão necessário à própria pátria, quando a terra do homem é a terra de todas as pessoas? E assim pergunto para não afirmar o nome de Miguel de Cervantes. E mais, enfim: por que reduzir ao Brasil a felicidade que exclui a vida e o trabalho de Leon Tolstói? Ah, coração pequeno, não sejas tão mesquinho.

E deste modo, para nada dizer, termino: melhor que o reflexo míope, deixem-nos por favor abraçar as estrelas que nos piscam lá de cima, Elas, com promessas generosas da mais alta esperança, nos dizem: “se nos amas, em nossa luz te abrigas. Teu também é este dia”.

Então ficamos assim a coaxar na beira do reflexo das águas. É como se cantássemos para as estrelas.

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