Nem excelência evita fechamento de pós-graduação em universidade do RS 

Unisinos anunciou que acabará com 12 de seus 26 programas de pós-graduação, alguns dos quais estão entre os mais bem avaliados do Brasil

Foto: Rodrigo W. Blum/ Unisinos

A notícia sobre o fim de 12 dos 26 programas de pós-graduação da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) — que figuram entre os mais bem conceituados do Brasil — tem gerado uma série de reações e mobilização do mundo político, acadêmico e da sociedade em geral. Na tentativa de reverter a decisão, esses setores apontam as perdas e o desmonte de pesquisas que o fim desses cursos acarretará para o desenvolvimento do conhecimento. 

Com sede na cidade de São Leopoldo e unidades em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a Unisinos tem alguns dos programas de pós-graduação com melhor avaliação segundo o Ministério da Educação. Um deles, o de Comunicação (PPGCOM), criado em 1994, obteve nota 6 numa escala que vai até 7. 

A decisão foi anunciada pela Unisinos na sexta-feira (22). Em nota, a universidade declarou que “o contexto do ensino superior brasileiro mudou radicalmente ao longo dos últimos anos. Houve significativa redução do número de matrículas, resultado da crise econômica do país, da redução expressiva de financiamento público para o ensino superior e da pandemia”. 

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Segundo a nota, “os alunos desses programas não serão prejudicados, pois lhes será garantida a continuidade do curso até que concluam sua formação”. Por outro lado, ao menos 40 professores serão demitidos. 

Uma manifestação está sendo chamada pelo Diretório Central Acadêmico (DCE) da Unisinos para esta terça-feira, 26, às 16h, no campus São Leopoldo. Além disso, o DCE publicou um “Manifesto em defesa do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos”, com abaixo-assinado, no qual destaca que “medidas como essa são um ataque não apenas à pesquisa em comunicação, mas a toda ciência brasileira, que deixa de contar com estruturas e profissionais de pesquisa conceituados e que, por meio de suas atuações, contribuem para a formação não somente de estudantes, mas também de investigações científicas e políticas públicas que são essenciais para o desenvolvimento do país”. 

Reações

Em reação à medida, o Fórum das Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras, Linguística e Artes (FCHSSALLA) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), emitiram nota, assinada por várias outras entidades da área da educação e da produção de conhecimento, na qual apontam que “tal atitude tem como fundamento privilegiar resultados financeiros em detrimento das contribuições da produção científica e do impacto social desses programas”.

A nota ressalta ainda que “estes programas, por fazerem parte do sistema de pós-graduação, foram contemplados com fatias importantes do investimento público por meio de bolsas e incentivos à pesquisa. Sua extinção institucional unilateral é um contrassenso do ponto de vista de qualquer intenção de fortalecimento da política científica no Brasil e configura também um atentado ao investimento público realizado durante estes anos todos de construção dos programas”.

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Pela presidência da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé se manifestou pelas redes sociais: “Minha solidariedade aos discentes e docentes da Unisinos pelo encerramento dos programas de pós-graduação da instituição, muitos amplamente referenciados como o de História. É preciso alternativas à demissão de professores  e fechamento  das atividades. Contem com a ANPG”. 

Por meio de sua conta no Twitter, a ANPG destacou: “Imprescindível que haja condições de no mínimo os pós-graduandos terminarem seus cursos e tenham as bolsas continuadas. Estamos monitorando e avaliando quais ações podemos fazer para reverter esse quadro”. 

Daiana Santos, vereadora do PCdoB de Porto Alegre e pré-candidata a deputada federal, também se manifestou e está engajada na luta pela manutenção dos programas. Ao Portal Vermelho, ela declarou: “A decisão pela ‘descontinuidade’ representa uma perda inestimável para os pesquisadores, gerando, dentre outras consequências, fuga de capital humano, o que prejudica o desenvolvimento do conhecimento e atraso no desenvolvimento da ciência brasileira. Diversos estudantes e programas são parte de projetos nacionais e internacionais, inclusive com financiamento – projetos esses, que serão encerrados com o fechamento do programa”. 

Isso tudo que está ocorrendo na Unisinos ganha contornos ainda mais graves, diz Daiana, “se pensarmos que em um curto espaço de tempo, essa mesma instituição anunciou pós-graduação da Taurus Armas e fechou a pós-graduação em várias áreas, dentre elas História. É algo que vai na contramão de um desenvolvimento sustentável e de inclusão social”. 

A vereadora se refere ao curso de pós-graduação “Engenharia e Sistemas de Produção Taurus”, aberto no ano passado na Unisinos. “Essa ‘falsa coincidência’ entre o fim dos cursos e o início de um novo escancara uma opção de parte do mercado, da sociedade e do governo brasileiro”, conclui Daiana.