Deputados europeus vêm ao Brasil para apoiar sistema eleitoral

Preocupação internacional com eleições brasileiras tem sido inédita. Itamaraty avalia o olhar atento do mundo sobre as mobilizações antidemocráticas de Bolsonaro

Sessão do Parlamento Europeu, em Bruxelas (Bélgica)

Tanto os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) às instituições eleitorais brasileiras, quanto as mobilizações da sociedade civil brasileira em defesa da democracia têm causado efeito internacional. No final de agosto, antes da celebração do bicentenário da Independência, no 7 de setembro, deputados europeus visitarão o Brasil para demonstrar apoio ao sistema eleitoral do país. Na convenção que aprovou a candidatura de Bolsonaro, ele discursou convocando seus apoiadores a um protesto na data nacional, ecoando as manifestações golpistas de 2021 contra o Supremo Tribunal Federal (STF).  

Segundo apurou Jamil Chade, do UOL, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil observa “como um sinal claro de que o mundo está de olho nos acontecimentos no país e que movimentos de esquerda e forças democráticas vão se mobilizar diante da tensão no Brasil”. Várias outras iniciativas de repercussão internacional têm afirmado o isolamento do bolsonarismo no ataque às urnas eletrônicas.

Na última semana, o Washington Brazil Office (WBO) promoveu um intercâmbio de encontros entre ONGs brasileiras ligadas a luta democrática, e o parlamento dos EUA, o Departamento de Estado e outras organizações sociais americanas. Além de denunciar os ataques autoritários de Bolsonaro, as organizações também pediram apoio ao reconhecimento do resultado eleitoral em outubro.

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Nesta segunda-feira (1º), representantes de 11 partidos políticos, entidades e lideranças de variados segmentos da sociedade participaram de ato realizado pelo movimento Direitos Já, na sede do Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro. Por vídeo, nomes internacionais da política e de diferentes entidades deixaram mensagens em que ressaltaram sua preocupação com a atuação de Bolsonaro e reforçaram a importância de fazer frente à escalada autoritária. 

A “Carta às brasileiras e brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, se aproxima de reunir um milhão de assinaturas. Já firmaram o documento juristas, as principais entidades da sociedade civil, entidades empresariais, centrais sindicais, parlamentares, artistas e personalidades públicas. Bolsonaro reagiu ao documento atacando a Fiesp e a Febraban, duas das mais importantes entidades representativas do setor empresarial.

Parlamentares europeus

O colunista do UOL relata que a delegação estrangeira estará no Brasil entre os dias 26 e 29 de agosto com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e se encontrará com a sociedade civil e ongs. O grupo será liderado por Iratxe Garcia Pérez, presidente do bloco Socialistas & Democrata dentro do Parlamento. A bancada é a segunda maior do Legislativo europeu ocupando 145 cadeiras. Também farão parte da delegação o vice-presidente do bloco progressista para Política Externa, Pedro Marques, além do co-presidente para a Assembleia Parlamentar Euro-América Latina, Javi Lopez.

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O mesmo grupo foi responsável por receber, no ano passado, Lula no Parlamento Europeu. Garcia Pérez, na ocasião, já havia manifestado preocupação com a democracia brasileira. “Transmitimos ao presidente Lula o apoio incondicional do nosso grupo para o regresso da democracia e dignidade ao povo brasileiro nas eleições do próximo ano. A sua luta não é apenas crucial para a democracia brasileira, mas para todas as democracias em todo o mundo que estão ameaçadas pela ascensão do autoritarismo”.

Observadores eleitorais

Em 18 de maio, após recusar um pedido da União Europeia para enviar uma delegação para atuar como observadora das eleições, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse que viu com “estranheza” o pedido. Segundo o chanceler, o bloco “não costuma desdobrar missões eleitorais” nem para os próprios membros, o que apenas confirma a preocupação internacional com os rumos institucionais do Brasil.

França respondeu à deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. A parlamentar questionava sobre a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro (PL) criar um problema diplomático com a União Europeia. “Eu achei deselegante, mal-educada, achei muito ruim a posição do Presidente do Brasil”, disse ela. França aproveitou para defender Bolsonaro, que não teria nada a ver com a decisão, embora o representante europeu tenha mencionado suas ressalvas.

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O TSE mantinha conversas com o bloco europeu e já havia proximidade nos discursos entre os dois. Contudo, a falta de apoio do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, encerrou o assunto. O TSE informa que haverá outras comissões de observadores para as eleições.

Segundo a corte, as missões de observação eleitoral envolvem estudos logísticos e procedimentos técnicos, que culminam na elaboração de relatórios com anotações e sugestões de melhorias e aprimoramentos do processo eleitoral como um todo.

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