Como o capitalismo molda o futebol

“A marca do clube vira uma grife e o próprio jogador é uma marca”, diz especialista

Seja no Brasil, seja no mundo, o futebol – esporte das massas por excelência – está consolidado como um grande negócio. Foi-se o tempo em que boa parte do lucro dos times vinha da venda de ingressos para os jogos. Conforme destaca reportagem da Agência Brasil, o torcedor, público-alvo dos barões do futebol, “ganha cada vez mais relevância pelo que se passa fora dos estádios”.

“Ao longo do século 20, a relação entre futebol e capitalismo sempre esteve presente”, resume o pesquisador Bernardo Buarque de Hollanda, professor da Escola de Ciências Sociais da Faculdade Getúlio Vargas (FGV). “Jornais esportivos são criados, o torcedor consome as notícias, vivencia, desloca-se para assistir ao jogo e conversa sobre ele ao longo da semana. Há toda uma estrutura condicionando o antes, o durante e o depois.”

Essa “jornada” do torcedor foi, aos poucos, capturada pelos capitalistas. “A indústria do esporte percebeu isso e vem acirrando esse potencial. A marca do clube vira uma grife e o próprio jogador é uma marca”, agrega Bernardo. “Hoje em dia você não está no estádio, mas tem outras formas de sociabilidade ligadas ao futebol que não passam, necessariamente, por se estar na arena. Essa quase onipresença da imagem também garante esse caráter que, parece-me, continua a fazer do futebol um elemento popular, em que pese, de fato, essa tendência mais concentradora e elitizadora, que as novas arenas têm.”

Um relatório da Consultoria Convocados, feito em parceria com a XP Investimentos, dá números a essa tendência. Em 2021, 53% das receitas dos principais clubes do País vieram de direitos de transmissão – uma fonte de renda turbinada neste século com o avanço do pay-per-view. Além disso, 18% da receita era oriunda da negociação de atletas e 16%, de publicidade e marketing, o filão que mais cresce. De 2020 para 2021, com o arrefecimento da pandemia, os rendimentos com publicidade deram um salto de 48%, indo de R$ 715 milhões para R$ 1,061 bilhão.

“Publicidade e marketing são as chamadas receitas recorrentes, aquelas que você pode prever”, explica Rafael Plastina, sócio-fundador da Convocados. “O ideal é que os clubes tenham um mix, uma divisão nas fontes de receita, que hoje ainda não é equilibrada. Em média, nos últimos cinco anos, apenas 14% das receitas vieram de publicidade e marketing.”

De acordo com a Agência Brasil, “a pulverização das plataformas que permitem acompanhar futebol e esportes em geral traz, consigo, o desafio de fidelizar o torcedor, acostumado a realizá-lo via TV (aberta ou por assinatura)”. O relatório da Convocados indica que 65% dos torcedores acompanham seus clubes pela TV aberta, 62% pelas redes sociais, 53% pela internet, 46% pela TV por assinatura e 45%) por rádio. Mais do que nunca, o capitalismo tem meios para moldar – e elitizar – o futebol.

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