Igreja Católica autoriza processo de beatificação de Padre Cícero

Desafio, agora, é comprovar que algum milagre, aos olhos da Igreja, pode ser atribuído a Cícero e reconhecido pelo papa, confirmando o cearense como beato. Na sequência, caberá à Diocese de Crato apresentar um dossiê sobre seu maior líder

O sacerdote Cícero Romão Batista (1844-1934), mais conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço, pode se tornar o próximo santo brasileiro. A informação é de dom Magnus Henrique Lopes, bispo da Diocese de Crato (CE), a cidade natal do “patriarca do Nordeste”.

Neste sábado (20), durante missa ao ar livre no Largo da Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte (CE), dom Magnus anunciou que, a pedido do Papa Francisco, a Igreja Católica autorizou a abertura do processo de beatificação. Nos rituais católicos, a beatificação é o principal passo para que alguém possa ser canonizado e, assim, virar santo.

“É com grande alegria que vos comunico nesta manhã histórica que recebemos oficialmente da Santa Sé, por determinação do Santo Padre, o Papa Francisco, uma carta do Dicastério das Causas dos Santos, datada do dia 24 de junho de 2022. Recebemos a autorização para a abertura do processo de beatificação do Padre Cícero Romão Batista – que, a partir de agora, receberá o título de ‘servo de Deus’”, declarou o bispo de Crato.

Segundo o escritor Lira Neto, autor da biografia Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão (2009), a notícia era esperada há mais de duas décadas. Em 2001, o cardeal Joseph Ratzinger – que se tornaria o Papa Bento 16 – encaminhou uma carta “em caráter reservado” à Nunciatura Apostólica no Brasil. No documento, conforme Lira Neto, Ratzinger se mostrava “favorável à possível reabilitação canônica do sacerdote (Padre Cícero) que morreu proscrito pela igreja”.

A carta de Ratzinger era fruto de uma guerra santa e silenciosa que o Brasil já vivia na virada do século. “Havia a preocupação do Vaticano com o avanço das igrejas neopentecostais no País”, declarou Lira Neto ao site do jornal cearense O Povo. “Diante da sangria no número de fiéis, era contraproducente, na perspectiva da Igreja, deixar à margem do rito a devoção popular a um padre que é considerado, por milhões de fiéis, um homem santo.”

Em 2015, o religioso cearense foi formalmente perdoado pela Santa Sé, numa prova de que, como diz Lira Neto, “o tempo de Roma é diferente do tempo leigo”. A conversão de Padre Cícero em santo, se houver, também pode demorar anos. O desafio, agora, é comprovar que algum milagre, aos olhos da Igreja, pode ser atribuído a Cícero e reconhecido pelo papa, confirmando o cearense como beato. Na sequência, caberá à Diocese de Crato apresentar um dossiê sobre seu maior líder.

“O santo não precisa ter vivido uma vida perfeita. O importante é o processo que aquela pessoa viveu – de conversão de mobilizar outras pessoas para Deus”, explica Filipe ao G1 o vaticanista Filipe Domingues, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. “Ser santo significa dizer que a pessoa está no céu, com Deus, e de lá intercede pelas pessoas aqui na Terra.”

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