No Paraná, esquerda enfrenta bolsonarismo e alinhamento da mídia com o governo

Oposição trabalha para reverter vantagem de Ratinho Júnior (PSD) e levar Roberto Requião (PT) ao segundo turno, no estado que está entre os mais bolsonaristas do país

Foto: Eduardo Matysiak

Os estados do Sul do país são, tradicionalmente, os que mostram maior apoio ao bolsonarismo, o que cria um cenário mais desafiador às candidaturas de esquerda. No caso do Paraná, a disputa estadual reflete bem esse embate. Na mais recente pesquisa do Ipec sobre a corrida ao governo, divulgado na terça-feira (23), o candidato à reeleição, Ratinho Junior (PSD) tem 46%, contra 24% do ex-governador Roberto Requião (PT).  Os demais candidatos giram em torno de 1% a 2% das intenções de voto. 

No estado, o presidente Lula tem, segundo o mesmo levantamento, 41% contra 35% de Bolsonaro, uma diferença menor do que a nacional. Para ficar no mesmo instituto, a sondagem divulgada dia 15 mostrava o ex-presidente com 44%, contra 32% do atual mandatário. 

Já no caso da disputa ao Senado, os dois principais candidatos estão à direita do espectro político-ideológico, com desvantagem para o ex-juiz da Lava Jato. Alvaro Dias (Podemos) tem 35%; Sérgio Moro (União Brasil) fica com 24%.

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Tal situação impõe desafios, mas está longe de inviabilizar as candidaturas do campo democrático no estado, que têm apostado na diferenciação entre as realizações dos postulantes dos dois campos para retomar a condução do estado. Requião tem demarcado sua posição mostrando que hoje “não existe governo no Paraná” e tem defendido ações que vão na contramão do “liberalismo selvagem” e da entrega do patrimônio público ao setor privado, além de enfatizar o combate à fome e à pobreza.

Logo na abertura, o programa de governo de Requião e da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB, PV) aponta que a tal frente apresenta-se neste pleito “com o objetivo de recolocar a população paranaense no centro da atenção da ação governamental. Causa indignação o descaso das últimas gestões e suas alianças sem transparência com a elite econômica para garantir-lhes a concentração de renda às custas da redução da qualidade de vida do conjunto da população”. 

Alinhado ao discurso do presidente, Ratinho Júnior pontua sua posição com termos caros  ao bolsonarismo, como “família” e “propriedade privada”. Ao abrir seu programa, diz: “Reafirmo meu compromisso com a felicidade do nosso povo, com a família, o respeito à vida, à liberdade de imprensa, à propriedade privada, e que todos e todas possam aspirar uma vida melhor”. 

Mídia e eleição

Ponto que tem gerado reações e críticas dos setores que se opõem a Ratinho Júnior é a relação entre o governo e as empresas locais de mídia. Tais segmentos da sociedade vêm denunciando a falta de espaço nos veículos locais e o alinhamento dessas empresas com o atual governador. A antiga ligação de Ratinho Júnior e sua família com os meios de comunicação possivelmente tenha motivado o governador a colocar a “liberdade de imprensa” como um dos princípios de seu programa.

“O Rato [governador Ratinho Jr.] colocou, neste ano, R$ 161 milhões para a publicidade no orçamento, uma farra. O Ratão [Carlos Roberto Massa], pai dele, tem 104 outorgas de antena de televisão e é dono do SBT, então, é uma parada dura, mas acho que esta eleição, para mim, é a mais fácil da minha história porque sou candidato não contra o Ratinho, filho do Ratão; sou candidato a preencher o vazio do governo do Paraná”, disse Requião em recente entrevista a veículos alternativos, entre os quais o Portal Vermelho. 

Elton Barz. Foto: redes sociais

O diagnóstico é corroborado por Elton Barz, presidente do PCdoB do Paraná. “Estamos enfrentando um grupo de comunicação grande do estado”, disse, acrescentando que “o governo tem hegemonizado a mídia”. Um dos reflexos desse poder é que “embora as pessoas avaliem bem o governador Ratinho Júnior, elas não conseguem citar uma obra que ele tenha feito porque foi um governo de poucas realizações, além do fato de ser um dos governadores mais atrelados ao Bolsonaro”. 

Por esse motivo, muitas das pesquisas realizadas no estado tiveram resultado questionados pela oposição. “A pesquisa do Ipec foi a primeira a ser feita por um instituto que não era pago pelo grupo político do Ratinho. Ela restabeleceu a ordem porque muitas das pesquisas davam ele com 63%, 50%, 52%. O Bolsonaro com 51% e Lula com 22%. Houve uma enxurrada de pesquisas antes do início da campanha”, explica Barz.

Na avaliação do dirigente, a pesquisa do Ipec mostrou que “cada vez mais Lula é Requião e Requião é Lula. É preciso cada vez mais juntá-los porque se a gente somar com os eleitores do Lula, o Requião pode chegar aos 35% e criar as condições para avançarmos para um segundo turno”. 

Projeto do PCdoB

Elton Barz explica que no estado, o PCdoB está empenhado tanto nas campanhas de Requião e de Lula, como também vem ajudando na organização das campanhas majoritárias e nas proporcionais do partido. 

Na disputa majoritária, o partido tem Elza Maria Campos como postulante a primeira suplente da candidatura encabeçada por Rosane Ferreira (PV), uma chapa de mulheres da Federação, que conta ainda com a professora Marlei (PT) na segunda suplência. 

Além disso, Elton explica que das sete candidaturas que o PCdoB tem a deputado — quatro a federal e três a estadual —, quatro são coletivas. Para federal, uma é a de Edna Baru – Mulheres em Luta. Outra é a de Adriano Esturilho – Esturilho Mandato da Cultura. Para estadual, vem Angelo Stroparo – Angelo Coletivo das Culturas, e Larissa, do Coletivizando. Além dessas, o partido está com os nomes de Amabile Leite e Marcio Sanches para federal e Professora Eliacir para estadual. 

Ele diz que o campo de esquerda está esperançoso no Paraná. “Acreditamos que a campanha do Lula é muito importante para nosso projeto político, tanto no caso das candidaturas majoritárias como também das nossas chapas proporcionais. Esperamos eleger uma boa bancada da Federação aqui no Paraná”.