Multidão ocupa centro de Porto Alegre em apoio a Lula 

“Vamos recuperar o país para o povo, vamos derrotar o genocida e voltar a governar de forma democrática”, disse Lula em ato que reuniu cerca de 40 mil pessoas

Foto: Ricardo Stuckert

Faltando 16 dias para o primeiro turno, o comício de Lula (PT) em Porto Alegre, realizado nesta sexta-feira (16), teve clima de reta final com chamados à dedicação de militantes e apoiadores — em especial das mulheres — para garantir que a disputa presidencial seja decidida no dia 2 de outubro. Lula, por sua vez, procurou reafirmar as diferenças com relação a Jair Bolsonaro (PL) mostrando, de um lado, o legado negativo deixado ao país pelo atual mandatário e, por outro, ressaltando a disposição de reconstruir a nação com garantia de direitos para o povo. 

Segundo a organização do evento, cerca de 40 mil pessoas lotaram o Largo Glênio Peres, no centro da capital gaúcha, que recebeu caravanas de diversas cidades do estado. Ao iniciar sua fala, o ex-presidente Lula declarou: “Estou feliz porque vamos recuperar o país para o povo, vamos derrotar o genocida e voltar a governar de forma democrática”. Apontou, ainda, que o atual presidente “não fez absolutamente nada nesse país” e que não vai manter o teto de gastos. “Vou acabar, porque responsabilidade não precisa ter lei, Dilma e eu governamos por 14 anos e fizemos superavit todo o ano. Juntamos dinheiro que o Brasil nunca teve”. 

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Lula criticou o discurso segundo o qual recursos aportados no serviço público são gastos, ressaltando que trata-se, na verdade, de investimentos necessários ao atendimento da população. O ex-presidente voltou a enfatizar que não tem “problema com o agronegócio”, mas que muitos produtores “não gostam de nós porque sabem que vai acabar essa história de invadir a Amazônia. Vamos preservar aquele território” e “não vamos mais deixar ter garimpo em terra indígena”.

O ex-presidente salientou ainda que “só tem um sentindo em voltar a governar o país: fazer mais e melhor. Vamos acabar com a fome outra vez, gerar a quantidade de emprego que já geramos porque hoje a maioria dos trabalhadores está na informalidade, fazendo bico, sem carteira assinada, sem direito à seguridade e à previdência social. Estamos quase voltando à escravidão”. 

Foto: Ricardo Stuckert

Com relação à segurança pública, reafirmou que criará ministério para a área e lembrou que no estado do Rio Grande do Sul, somente neste ano, 76 mulheres foram assassinadas — a mais recente, foi a militante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Débora Moraes, vítima de feminicídio nesta semana em Porto Alegre. Indignado, Lula questionou: “O que leva um homem a praticar tamanha violência contra as mulheres? O que leva a essa falta de respeito apesar da Lei Maria da Penha?”. Ele defendeu que haja leis mais duras e reeducação da sociedade, mostrando que “a mulher não é objeto de cama e mesa, é sujeito da história”. 

Lula também criticou a falta de merenda escolar adequada às crianças e o fato de boa parte da população passar fome. “As pessoas estão pegando osso na fila do açougue, estão comendo carcaça de frango”. A fome nesse país, disse Lula, “não é por falta de comida, é por falta de dinheiro e de vergonha na cara das pessoas que governam este país porque nós provamos que é possível acabar com a fome”. Minha causa, disse, “é acabar com a fome, melhorar a vida do povo”.

Na sequência, declarou que “nunca mais um genocida como Bolsonaro vai ganhar eleições neste país” e criticou a falta de solidariedade do presidente com as vítimas da pandemia. “Seria louvável se tivesse ido no enterro de uma das famílias das 680 mil pessoas que morreram de Covid neste país e pelas quais ele não chorou uma única lágrima”. 

Lula também tocou em pontos nevrálgicos para Bolsonaro, como corrupção os sigilos de cem anos. “Ele agora está me ofendendo e me chamando de ladrão, mas não fui eu quem comprou 51 imóveis pagando 26 milhões de reais à vista como ele fez. Não fui eu quem fez decreto de sigilo para familiar. Quando a CPI descobriu as mazelas do ministro da Saúde, o que fez? Decreto de sigilo de cem anos para o Pazzuelo, e mais cem anos para os filhos dele. Ele precisa saber que o Lulinha paz e amor vai quebrar todo os sigilos dele e vamos saber o que ele está escondendo”. 

Por fim, Lula salientou: “quero que cada mulher tenha certeza de que seu filho não será vítima de bala perdida porque a gente tem um genocida que tem prazer em fazer decreto liberando arma, quando devia fazer decreto liberando livros e levando livros às escolas”. 

Ele lembrou ainda que durante a campanha pelo desarmamento, “foram recolhidas 620 mil armas e as queimamos em praça pública. Esse cidadão está liberando armas para quem? Quem está comprando arma é o crime organizado com os decretos do Bolsonaro. Para quê o cara quer dez fuzis, dez pistolas, metralhadoras e milhares de balas? O cara que faz isso não está pensando no bem”. 

Lula concluiu fazendo um chamado pelo empenho nos próximos 15 dias e salientou: “Esse país vai voltar a ser civilizado. Quero que vocês voltem a ter orgulho desse país, a respeitar um governo que respeita vocês”. 

Empenho na reta final

O ato teve início com a fala de lideranças políticas de alguns dos partidos que compõem a coligação Brasil da Esperança. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chamou atenção para a importância da mobilização nessa reta final e declarou: “se o senhor do fascismo ganhar, o direito de votar não existirá no futuro porque o que está em jogo é a nossa democracia”. E completou: “Vamos eleger Lula no primeiro turno. É um dever moral, um dever histórico. Não está em jogo a eleição de Lula, está em jogo a vigência da Constituição, a nossa existência como pátria”. 

Neste mesmo sentido, a vice-presidenta nacional do PCdoB, Manuela d’Ávila, destacou: “O candidato não faz milagre. Vocês sabem quem constrói a nossa vitória? Vocês. Cada mulher e cada homem que, nos próximos 15 dias, ao invés de perder tempo, ansioso, na frente da tevê, esperando pesquisa, vai construir o resultado da pesquisa na rua”. 

Manuela D’Ávila. Foto: reprodução

Manuela pediu ainda: “mandem mensagens no Whats App mostrando porque votam nessa turma. Vocês têm a razão de vocês. E nós, mulheres, qual a nossa razão? A gente não quer mais que nenhuma mãe durma sabendo que o filho não comeu, a gente não quer mais que nenhuma de nós seja tratada como cidadã de segunda classe, nem que ninguém mais enterre filho por falta de política de segurança. Nos próximos 15 dias, vamos honrar todos os que não estão mais aqui, são quase 700 mil brasileiros para honrar, todos aqueles menosprezados pelo genocida. A gente precisa botar gás, são 15 dias de gás por quatro anos de paz”. 

A deputada federal e vice-presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, salientou: “falta só um pouquinho para a gente ganhar essa eleição no primeiro turno. Por isso, temos de fazer um esforço muito grande para que a gente possa vencer”. Gleisi também conclamou as mulheres: “essa campanha será decidida pelas mãos das mulheres que são a maioria do eleitorado. Não podemos deixar que esse ser retrógrado, violento, continue governando nosso país, infernizando a vida do povo e nos levando ao retrocesso”. 

A ex-presidenta Dilma Rousseff também destacou o papel do eleitorado feminino. “Essa eleição mostra duas coisas: a força política e a consciência  elevada das mulheres que não se deixam convencer por aquele que é o pior presidente do Brasil, o pior para o seu próprio povo de todo o mundo”. 

Foto: Ricardo Stuckert

Dilma afirmou, ainda, que ao ver que está perdendo, Bolsonaro “começa a distribuir acusações a todos e a tudo; mas, é uma pessoa que não tem a menor moral para falar de corrupção contra ninguém porque seu governo é um dos mais corruptos que o país ja teve”.  

O ex-governador e candidato ao Senado, Olívio Dutra (PT), explicou que “nós entendemos a política como a construção do bem comum, com a protagonismo das pessoas”, acrescentando que “não devemos pedir voto em troca de um favorzinho de ocasião, mas de maneira que as pessoas reflitam sobre a situação do país e votem com o coração e a consciência”. 

Edegar Pretto. Foto: reprodução/redes sociais

Edegar Pretto (PT), candidato ao governo do estado, chamou atenção para o fato de que pela “primeira vez formou-se uma unidade tão potente de nosso campo político”. Ele conclamou os participantes a elegerem uma forte bancada gaúcha e defendeu como uma de suas prioridades o combate à fome no estado. “O tempo das oportunidades vai voltar ao RS e vamos ter o povo feliz outra vez”. 

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