Kalil aposta em debate, rua e fator Lula para ir ao 2º turno

Intenções de voto em Kalil têm crescido consistentemente – e as movimentações desta reta final da campanha injetaram ânimo em sua campanha

A quatro dias das eleições 2022, Alexandre Kalil (PSD) busca os votos que lhe faltam para estender a disputa ao governo de Minas Gerais. Pesquisas de variados institutos apontam que, se a eleição fosse hoje, o governador Romeu Zema (Novo) seria reeleito no primeiro turno. Mas as intenções de voto em Kalil têm crescido consistentemente – e as movimentações desta reta final da campanha injetaram ânimo em sua campanha.

A semana começou com uma boa notícia para o ex-prefeito de Belo Horizonte, que deixou a gestão municipal em março com aprovação de 73%. A mais recente rodada da pesquisa Ipec, divulgada nesta terça-feira (26), mostrou que, em uma semana, a vantagem de Zema sobre ele despencou de 17 para 11 pontos percentuais. O governador oscilou de 46% para 45%, enquanto Kalil saltou de 29% para 34%.

Não há mais dúvida: o sossego de Zema acabou. Eleito em 2018 no rastro da onda antipetista e bolsonarista, o empresário mineiro liderou um governo de viés liberal, sem grandes vitrines e sem nenhuma marca social. Embora tenha quitado salários e benefícios atrasados do funcionalismo público, seu governo elevou a dívida do estado em mais de 40% – de R$ 114,3 bilhões para mais de R$ 160 bilhões.

Ao longo de 2022, todas as pesquisas ao governo estadual lhe davam ao menos 40% de intenções de voto. Graças à blindagem da grande mídia e a uma atuação mais técnica no combate à pandemia de Covid-19, o governador iniciou a campanha deste ano com uma rejeição baixa e um favoritismo absoluto. Seu mantra era “Minas está nos trilhos”.

A perspectiva de vitória em primeiro turno, aliada ao uso da máquina pública, garantiu-lhe a maior coligação – e o maior tempo de propaganda eleitoral em rádio e TV. Tudo parecia apontar para uma reeleição sem percalços, a ponto de Zema, um bolsonarista enrustido, ter esnobado o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), além de ter faltado aos debates promovidos pela Band e pelo SBT.

Zema subestimou a disputa e, nas últimas semanas, tenta ressuscitar o fantasma do antipetismo – que tanto o ajudou há quatro anos. O problema é que, ao contrário de 2018, a esquerda está em alta entre os eleitores mineiros. Conforme o Ipec, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as intenções de voto no estado. Desde o começo oficial da campanha, em 16 de agosto, Lula passou de 42% para 49%, impondo uma vantagem de 18 pontos percentuais sobre Bolsonaro. Em Minas – mais até do que no Brasil –, o eleitorado quer a vitória do petista já no primeiro turno.

O “fator Lula” é um dos trunfos da candidatura de Kalil, da mesma forma que Minas é um dos colégios eleitorais prioritários do ex-presidente, atrás apenas de São Paulo. Kalil, a exemplo do senador e candidato à reeleição Alexandre da Silveira (PSD), alardeia sempre ser do “time do Lula”. É assim nos discursos, nos materiais de campanha, nas peças do horário eleitoral, nas sabatinas e nos debates.

A campanha foi prejudicada, porém, pelo fato de o ex-prefeito ser menos conhecido no interior do estado – os “grotões” mineiros –, onde a influência do Palácio Tiradentes é maior. Na capital, Kalil lidera as pesquisas e tem, em média, mais de 20 pontos de vantagem sobre Zema. Só que Minas tem nada menos que 853 municípios e 16,3 milhões de eleitores. A região metropolitana de Belo Horizonte, reduto de Kalil, responde por apenas 32% desse eleitorado.

Além do apoio de Lula, Kalil investiu em agendas externas. Nenhum candidato ao governo de Minas foi mais às ruas, nesta campanha, do que o ex-prefeito belo-horizontino. Zema priorizou agendas com prefeitos e empresários. Kalil foi para os braços do povo. Só com sindicalistas, foram três encontros.

Dono de um estilo “sincerão” – que o acompanha desde os tempos em que era presidente do Atlético-MG –, o candidato do PSD também topou participar do maior número possível de entrevistas e sabatinas. Nem sempre teve paciência diante dos jornalistas, mas preferiu correr o risco para se tornar uma figura mais familiar aos mineiros.

Kalil apostou igualmente no último debate entre os candidatos, o da TV Globo, na noite desta terça-feira (27). Zema, desta vez, compareceu, seja porque o impacto da ausência era imprevisível, seja porque precisava conter o “todos contra Zema”, seja ainda porque Kalil está se aproximando.

Afora uma ou outra frase de efeito, sua participação foi desastrosa. Alternando respostas curtas e evasivas com uma repetição monótona de dados, Zema centrou os ataques no ex-governador Fernando Pimentel (PT), com quem concorreu em 2018 e que agora é candidato a deputado federal. Curiosamente, foram 13 citações a “PT/Pimentel”, conforme levantamento do jornal O Tempo. Nervoso, sob ataque permanente, o governador trocou o nome da candidata do PSOL, Lorene Figueiredo, e chegou a dar um tapa no púlpito.

Já Kalil foi Kalil. Sem cair nas provocações de Zema – que o chamou de “mentiroso profissional” –, o ex-prefeito frisou que governar é cuidar das pessoas e comparou sua gestão em Belo Horizonte com a atual administração do Palácio Tiradentes. “Governar é um ato de amor. Não adianta gritar, isso não vai resolver”, afirmou. “Tem que mostrar atendimento e humanidade.”

Kalil contrapôs também os governos Lula e Bolsonaro, demarcando de que lado estavam os principais candidatos a governador – ele e Zema. Por fim, ironizou o tapa do adversário na mesa: “Queria ver essa valentia com minerador da Serra do Curral. Se houvesse essa valentia para bater na mesa para combater minerador, faria o estado melhorar”.

Há um clima de otimismo na campanha de Kalil. Os quatro dias derradeiros de campanha serão decisivos para determinar o destino do povo mineiro – se continuará por mais quatro anos sob a gestão neoliberal de Zema ou se vai inaugurar um ciclo mais virtuoso, de desenvolvimento econômico e progresso social. A depender do desprendimento, da sem-cerimônia e dos compromissos de Kalil, convém acreditar!

Autor