Jornalista critica papel da imprensa na legitimação da extrema-direita 

Milly Lacombe rechaça tratamento da mídia ao bolsonarismo e destaca que derrotar o atual presidente é missão de quem acredita na democracia — inclusive, da imprensa

Charge: Nando Motta

O papel da imprensa na naturalização do fascismo bolsonarista e a falta de uma comunicação adequada a partir da grande mídia a respeito das condutas ilícitas e da corrupção no governo de Jair Bolsonaro (PL) foram tratados de maneira contundente pela jornalista Milly Lacombe em artigo publicado no portal UOL nesta quarta-feira (5). “Nós da imprensa precisamos assumir nosso papel na legitimidade da extrema direita no Brasil”, escreveu. 

Após discorrer sobre a diferença entre o tratamento dado pela imprensa a casos ocorridos nos governos do PT e nos de seus antecessores, Lacombe lembra dos vários momentos em que escândalos envolvendo o atual governo não tiveram o mesmo acompanhamento. Ela também critica o fato de figuras grotescas da ultradireita brasileira ganharem espaço na mídia enquanto outras, de esquerda, são deixadas de lado — quando não abominadas — num paralelismo raso que busca estabelecer uma paridade de extremos que não existe. 

Para além da desumanidade e da violência do atual governo, Milly Lacombe lembra que “há pelo menos 26 casos de corrupção associados ao governo Bolsonaro: funcionários fantasmas no gabinete do presidente e dos filhos, apoio aberto a milícias no Rio, os repasses para a conta de Michelle, o advogado de Bolsonaro escondendo Queiroz em sua casa, obras feitas pelo ministério da saúde sem licitação, esquema de contrabando de madeira ilegal no Ministério do Meio Ambiente, vacina sendo negociada pelo Ministério da Saúde pelo triplo do preço, pedido de propina de um dólar por cada dose comprada da vacina AstraZeneca”. E critica: “Seguir usando nomenclatura tediosa para comunicar cada um deles não faz a informação chegar à população com a força que deveria chegar”. 

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Seguindo por este mesmo caminho, Lacombe lembra das “rachadinhas”: “Esquema de corrupção, crime organizado, extorsão? Um pouco de criatividade nos faria encontrar um nome que pudesse comunicar todo o horror do que é esse esquema institucionalizado por Bolsonaro e seus filhos (leiam o livro de Juliana Del Piva, “O negócio do Jair”)”.

A jornalista escreve ainda que “a cada absurdo não confrontado dito diante das câmeras por Bolsonaro estamos naturalizando a extrema direita”. 

Com relação aos articulistas, ela lembrou que “aceitar sem questionar que nomes como Paulo Guedes (colunista de O Globo por dez anos), Kim Kataguiri, Helio Beltrão, Merval Pereira, Augusto Nunes, Alexandre Garcia etc. sejam vozes normalizadas e centrais nos maiores veículos e que não encontram contra-argumentação nos trouxe até aqui. Quando Guilherme Boulos foi contratado como colunista da Folha, os mesmos que sempre aceitaram os nomes acima — que hoje vão sendo desmascarados como sendo de extrema direita — berraram em revolta e indignação”. 

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Ao falar sobre a diferença entre posições político-ideológicos, apontou: “Direita e esquerda são campos válidos. Mas seria preciso começar a dizer em alto e bom som que a esquerda que o PT representa nunca pregou o extermínio do campo adversário. E a extrema direita que Bolsonaro representa prega isso todos os dias há quatro anos”. 

A jornalista destaca, ainda: “Derrotar Jair Bolsonaro e seus métodos milicianos de gestão e de institucionalização de assédios é a missão de qualquer pessoa que acredite em democracia. E é a da imprensa”. 

(PL)

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