Por que quem ganha em Minas Gerais ganha no Brasil?
A última vez em que um candidato venceu as eleições para presidente sem ganhar no Estado foi em 1950, com Getúlio Vargas
Publicado 20/10/2022 14:55
Existe uma tese no mundo da política brasileira que diz que o candidato à Presidência que ganhar em Minas Gerais ganha no Brasil. Diante disso, os resultados do 1º turno trouxeram mais um dado que fortalecer essa ideia: os percentuais obtidos pelo ex-presidente Lula (PT) e pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) foram muito semelhantes ao histórico nacional da região. Lula venceu em Minas com 48,43% contra 43,2% de Bolsonaro.
Segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Minas possui 16,2 milhões de pessoas aptas a irem às urnas. É o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, ficando atrás apenas de São Paulo, com 34 milhões.
Mas não é só isso. O Estado mineiro é dividido em 12 mesorregiões, com todas as características encontradas nas 5 regiões do país. O que torna a conquista de votos do eleitorado mineiro, uma tarefa complexa. Segundo o jornal Estado de Minas, Minas tem, aproximadamente, o tamanho da França. E justamente por esse motivo, há uma enorme diversidade em termos culturais, políticos, artísticos e econômicos. Pode-se dizer que existe um estado do Brasil em cada parte de Minas Gerais.
De acordo com o doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Thiago Rodrigues Silame, “Minas Gerais é um estado muito diverso do ponto de vista cultural, econômico, político e nós podemos dizer que existem várias Minas Gerais. Nós temos a Minas Gerais paulista, a Minas Gerais carioca, a Minas Gerais goiana, a Minas Gerais nordestina, a Minas Gerais central e vencer em Minas significa uma grande possibilidade de vencer em outras partes do país e angariar a vitória no pleito eleitoral como um todo”, afirma.
Histórico
A última vez em que um candidato venceu eleições presidenciais sem ganhar em Minas Gerais foi em 1950, com Getúlio Vargas. Desde então, todos os presidentes eleitos venceram ganhando no Estado.
Já em 1989, Fernando Collor (PTB) foi eleito e teve 55% dos votos em Minas Gerais contra 44% de Lula. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito vencendo em Minas Gerais com 64% dos votos contra 21,9% de Lula. Quatro anos depois, o tucano venceu novamente liderando em Minas Gerais com 55% dos votos contra 28% de Lula.
Em 2002, Lula venceu as eleições revertendo as derrotas em Minas Gerais. Ele obteve 66,4% dos votos contra 33,55% de José Serra (PSDB). Quatro anos depois, ele voltou a vencer as eleições e liderar em Minas Gerais: 65% dos votos contra 34% do ex-governador de São Paulo e agora candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB).
O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff (PT) em 2010 e em 2014 e com Jair Bolsonaro, em 2018. Naquele ano, Bolsonaro venceu no segundo turno com 58,19% dos votos em Minas Gerais e 41,81% dos votos de Fernando Haddad (PT).
À CNN Brasil, Cristiano Rodrigues, cientista político e professor da UFMG, disse que existe uma convergência entre vencer em Minas Gerais e vencer as eleições presidenciais, mas não significa que uma coisa causa a outra.
“Não parece ser uma mera coincidência. A política é dinâmica e a nossa capacidade de prever é limitada, mas o fato é que, até agora, se pegarmos os dados desde 1989, por exemplo, nenhum presidente se elegeu sem ser o mais votado em Minas Gerais. Há uma correlação clara que me parece refletir a importância do estado na política brasileira”, disse o professor.
“Minas Gerais é o segundo maior colégio e um eleitorado muito heterogêneo […] à medida que esse eleitorado se move em direção ou em outra, isso tem um peso muito grande e pode pender a balança das eleições”, conclui.
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Com informações de agências