Acordo com governo da Venezuela resgata recursos sequestrados pelos EUA

Acordo prevê que os EUA retomem parcialmente suas atividades de extração de petróleo no país caribenho, que recupera 3 bilhões de dólares para investimentos.

Presidente da Venezuela explica os termos do acordo que levou ao relaxamento de sanções dos EUA. Foto: PR

Desde o agravamento da guerra da Ucrânia, os Estados Unidos têm se reaproximado do governo venezuelano e isolado a oposição para garantir abastecimento de petróleo. Agora, sob pretexto de um acordo entre governo e oposição, o governo Biden resolveu aliviar sanções econômicas e liberar bilhões do governo, que estavam bloqueados em dólar.

O governo e a Plataforma Unitária, que representa a oposição, assinaram no sábado (26) o acordo para a criação do Fundo de Atenção Social ao Povo Venezuelano. O projeto visa liberar mais de US$ 2,7 bilhões que estavam retidos no exterior para ajudar a tirar a população da pobreza. O compromisso foi firmado durante os diálogos retomados no México e com mediação da Noruega.

O presidente Nicolás Maduro Moros, explicou, no programa de rádio-televisão “La Hora de la Salsa y la Alegría”, que o governo que lidera tem procurado manter o diálogo com toda a sociedade venezuelana, “de maneira particular com o setor político dependente do Governo dos Estados Unidos que responde às diretrizes daquele governo, com o setor que outrora se chamava guaidocista, agora não é mais, pois se autodenominam hoje a Plataforma Unitária”.

Maduro ainda diz, numa critica à imprensa internacional, que nunca interrompeu o diálogo com esse setor, e que é seu governo que está tentando devolver a oposição à democracia. “A União Européia, a imprensa internacional e os Estados Unidos sempre tentam superestimá-los e impô-los à Venezuela, que são a última Pepsicola no deserto, e não é o caso, são políticos da oposição que foram extremistas, que queriam dar um golpe de estado, instalar um presidente falso, invadir e, mesmo assim, aceitei o diálogo”, alertou.

Saída honrosa

O governo americano teria saudado o acordo alcançado no México entre o governo Maduro e a oposição, que permitiu o alívio imediato de sanções de Washington. O chefe da delegação do governo venezuelano e presidente do Congresso, Jorge Rodríguez, diz que o total é de 20 bilhões represados.

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“Juntamo-nos à comunidade internacional e saudamos a retomada das negociações entre as duas partes, após quase um ano e meio de paralisação”, declarou uma autoridade do alto escalão do governo dos EUA sobre as negociações relançadas no México. Com isso, Washington autorizou que a Chevron retome parcialmente suas atividades de extração de petróleo no país caribenho.

A Venezuela está sob sanções dos Estados Unidos e da Europa, adotadas para promover um golpe de direita contra Maduro, especialmente pelo controle que o estado passou a ter sobre suas gigantescas reservas de petróleo. Não conseguiram derrubar o presidente, nem recuperar o controle sobre o combustível e causaram enorme crise econômica que atinge o país. Com o boicote americano e europeu, o país passou a negociar com China, Rússia e Irã, entre outros países também sancionados.

As negociações foram retomadas em maio com a flexibilização de algumas sanções americanas, desde que a invasão da Ucrânia pela Rússia gerou impacto nos preços do petróleo. Os EUA tentam uma saída honrosa afirmando que está restaurando a democracia no país e forçando o governo a usar seus recursos para reduzir a pobreza. Maduro foi eleito nas urnas pelo voto da maioria e tem amplo apoio popular, apesar de toda a oposição.

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Até o senador democrata Bob Menéndez, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, falou em “passo urgente e necessário para enfrentar a miséria e o sofrimento do povo venezuelano”. Ele é um feroz opositor do governo de Caracas, e está mais alinhado com a tentativa de Biden reduzir o sofrimento de seu próprio povo, mergulhado numa inflação que parece não ter solução.

De acordo com o Departamento do Tesouro, a Chevron pode retomar parcialmente as atividades da empresa da qual é co-proprietária com a estatal Petróleos de Venezuela (PdVSA), desde que com a garantia de que “a PdVSA não receberá nenhuma receita com as vendas de petróleo feitas pela Chevron”.

O dinheiro liberado será destinado para minimizar a crise alimentar, que atinge parte da população, além de modernizar o sistema elétrico do país, que sofre com constantes apagões. O recurso também servirá de apoio aos afetados pelas inundações que atingiram a Venezuela recentemente. A Organização das Nações Unidas (ONU) será a administradora dos fundos.

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O presidente venezuelano Nicolás Maduro informou pelas redes sociais que “a assinatura do segundo acordo parcial entre o Governo Bolivariano abre caminho para um novo capítulo para a Venezuela e para continuar avançando rumo à paz e ao bem-estar que todos os venezuelanos querem”.

Essa suspensão parcial das disposições punitivas “reflete a política de longo prazo dos EUA que visa um levantamento das sanções sujeito a progressos concretos” que diminuirão o sofrimento do povo venezuelano e permitirão “apoiar o retorno da democracia” à Venezuela, comentou o Tesouro.

O governo americano já admitiu publicamente que o petróleo venezuelano pode ser útil num mercado internacional com preços elevados e contexto de forte inflação nos Estados Unidos devido, em grande medida, ao aumento dos preços dos combustíveis.