Oposição venezuelana demite ‘presidente interino’ Juan Guaidó

Decisão expõe a fragilidade da oposição e representa mais uma vitória do presidente de esquerda Nicolás Maduro.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Assembleia Nacional de oposição da Venezuela votou para remover o “presidente interino” Juan Guaidó e dissolver seu governo instaurado pelos EUA para administrar os ativos estrangeiros do país e golpear o governo eleito de Nicolás Maduro. Com isso, foi nomeada uma comissão com esta função, enquanto os parlamentares buscam uma frente unida antes das eleições marcadas para 2024.

A decisão expõe a fragilidade da oposição e representa mais uma vitória do presidente de esquerda. Desde que a guerra na Ucrânia inflacionou o preço dos combustíveis, os EUA têm retomado o diálogo com Maduro e aliviado sanções, liberando gradualmente os dólares do governo sequestrados pelos americanos. A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo.

Guaidó se autodeclarou presidente da Venezuela em meio as tentativas golpistas da direita contra as eleições de 2018. Foi reconhecido principalmente pelos EUA como mandatário e foi útil na gestão das sanções contra o país, que contribuíram para um período de desabastecimento generalizado e pobreza no país. O partido de Guaidó, Voluntad Popular, não apoiou a remoção, pois pediu aos parlamentares que o substituíssem em vez de dissolver o governo interino.

Apesar de todo esse esforço, as medidas foram incapazes de isolar o governo Maduro, que permaneceu no controle de quase todas as instituições da Venezuela, incluindo suas forças de segurança, enquanto o “governo interino” de Guaidó, que controla alguns ativos estrangeiros e embaixadas, viu seu apoio diminuir. Em uma pesquisa recente, apenas 6% dos venezuelanos disseram que votariam em Guaidó se ele participasse das primárias presidenciais no ano que vem

A votação, que ocorreu em uma sessão online na sexta-feira (30), reflete uma mudança no equilíbrio de poder dentro da oposição, que está tentando encontrar novas maneiras de se conectar com os eleitores antes da eleição presidencial de 2024 e ter algum fôlego contra Maduro.

O artigo que elimina o “governo interino” e o artigo que cria a comissão de patrimônio foi aprovado com 72 votos a favor, 29 contra e 8 abstenções.

Três dos quatro principais grupos de oposição – Justiça em Primeiro Lugar, Ação Democrática e Uma Nova Era – apoiaram o projeto de lei para remover Guaidó e criar a comissão de cinco membros para administrar ativos estrangeiros, especialmente a refinaria norte-americana Citgo, uma subsidiária da estatal petrolífera PDVSA.

Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA disse na sexta-feira que Washington continuará a apoiar a oposição, a assembleia e o governo interino “independentemente da forma que ele assumir”.

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