Covid continua, mas emergência global deve acabar no próximo ano

A queda nos casos e o surgimento de tratamentos e vacinas contribui para a Organização Mundial da Saúde declarar o fim da emergência.

O Peru foi o país que mais sofreu com mortes da pandemia, devido a disseminação do trabalho informal. Minsa/Peru

A covid-19 vai continuar sendo uma doença da rotina de todo o planeta, com internações, sequelas e mortes, especialmente de idosos e pessoas com comorbidades. Mas Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira (14) que está otimista de que 2023 marque o fim da emergência de saúde global pela pandemia do vírus Sars-Cov-2. No Brasil, o governo Bolsonaro declarou o fim da emergência sanitária precocemente, e sem consultar a ciência, em abril de 2022, apesar dos altos números de doentes, internações e mortes.

Segundo o diretor-chefe da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a esperança é poder dizer no próximo ano que a covid-19 “não é mais uma pandemia”. Ele observou que ainda morrem dez mil pacientes por semana no mundo, mas isto representa uma queda significativa, considerando os 50 mil que morriam, um ano atrás. Desde setembro, esta taxa vem se mantendo estável no mundo.

“O número ainda é excessivo, mas marca uma boa trajetória”, destacou, em entrevista coletiva realizada em Genebra, na Suíça, para revisar o trabalho da OMS em 2022. No Brasil a média móvel tem garantido cerca de 850 óbitos toda semana, ou 128 por dia. 

Ondas de mortes pela covid no mundo, desde o início da pandemia, com as piores taxas entre dezembro e janeiro de 2021.

Os critérios para decidir se a pandemia de covid-19 deixará de ser uma emergência internacional serão analisados em janeiro, na próxima reunião do comitê de especialistas que se encontra trimestralmente desde 2020 para analisar a evolução da crise sanitária.

Veio pra ficar

Tedros ponderou, porém, que “o vírus está aqui para ficar.” No entanto, diferentemente de 2020, agora o mundo tem as ferramentas e códigos de conduta para lidar com isso. A emergência implicava em garantir, ao menos, internação adequada, controle de distanciamento mínimo entre as pessoas e campanhas de vacinação bem sucedidas. No entanto, atualmente, com uma vasta porcentagem de população vacinada e o surgimento de medicamentos antivirais, os números de internações caíram, permitindo que os sistemas de saúde possam atender a todos de forma adequada. 

“O coronavírus não vai desaparecer, vai continuar e os países terão que aprender a administrá-lo junto com outros problemas respiratórios como a gripe”, destacou. A gripe tem campanhas anuais de vacinação para profissionais de saúde, idosos e portadores de comorbidades. Também conta com medicamentos para aliviar e acelerar o ciclo da doença.

“Nós o conhecemos melhor [o vírus], temos ferramentas como vacinas, tratamentos e, o mais importante, agora temos imunidade da população, tanto de vacinados quanto de forma natural [por pessoas que já tiveram a doença]”, analisou o especialista etíope.

Tedros salientou que o fim da emergência internacional devido à covid-19 “está nas nossas mãos”. “É uma questão de garantir que os grupos de risco, como os idosos e as populações vulneráveis, estejam protegidos”, completou. Para isso, é preciso continuar garantindo vacinação para estes públicos, assim como consciência de proteger essas pessoas do contato com o vírus na família.

A declaração de emergência visa, principalmente, alertar os governos para que tomem medidas de proteção e cooperem. No entanto, cada país impõe suas próprias condições separadamente.

Boas e más notícias

Na coletiva em Genebra, Tedros também citou outras boas notícias: a queda em 90% do número de casos de Mpox, como foi renomeada a varíola dos macacos, e que não há novos casos de ebola em Uganda há algum tempo.

O diretor-geral da OMS salientou que, apesar disso, o mundo ainda enfrenta inúmeros desafios sanitários, e citou especificamente os surtos de cólera atualmente declarados em 29 países – incluindo o que matou 280 pessoas no Haiti -, a fome iminente, especialmente na África, a persistência de falta de saneamento em muitos lugares, dietas pouco saudáveis em países desenvolvidos, malária e tuberculose.

“Para o ano de 2023 há motivos de esperança, mas também muitos motivos de preocupação e, nesse sentido, a OMS continua empenhada com os países-membros na construção de um futuro mais seguro e saudável para as populações”, ressaltou.