Iso Sendacz resenha “China: o socialismo do século XXI”, de Elias Jabbour

A obra concedeu a Jabbour o mais importante prêmio literário chinês para escritores e pesquisadores estrangeiros, o “Special Book Award of China 2022”.

Foto: Boitempo

Em 2021 veio a lume o livro de Elias Jabbour e Alberto Gabriele sobre o socialismo chinês. “A obra”, segundo o editor, “analisa a República Popular da China, gigante que se tornou, nas últimas duas décadas, a locomotiva do sistema econômico mundial. Afinal, o que é o socialismo chinês? É possível afirmar que difere do capitalismo tal qual o conhecemos até aqui, embora ainda seja prematuro defini-lo como alternativa consolidada.”

Carlos Lopes, o diretor da Hora do Povo, refere-se à “bela e importante obra” como a “história de uma luta – não apenas uma obra de teoria geral sobre o socialismo e uma descrição do socialismo chinês (ou “com características chinesas”), mas a crônica da acirrada luta que está, inevitavelmente, implicada nestes temas, ontem e hoje”.

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Da leitura ele conclui que “o extraordinário na China foi a construção de um setor socialista – o representante concreto do modo de produção socialista – que subordina os demais modos de produção, inclusive o capitalismo”.

Os pilares da hegemonia socialista dão-se na propriedade social da terra, com contratos de responsabilidade sobre o seu uso pelas famílias camponesas; grandes conglomerados industriais estatais; um sistema financeiro público que restringe a atividade estrangeira e se endivida essencialmente na moeda local; e comissões de gestão dos ativos estatais e do comércio exterior como instituições públicas. E, principalmente, a direção do Partido Comunista Chinês sobre a economia e o Estado.

Conforme Lopes, são instrumentos auxiliares na economia chinesa o setor privado e o próprio mercado. E neste o “setor estatal avança e o setor privado recua”.

Na China houve “um processo vigoroso de substituição de importações e de forte empuxe das exportações”, esclarecem os autores do livro. “A China não cometeu o erro de tentar crescer com poupança externa, assim evitou que a taxa de câmbio se apreciasse e as empresas nacionais perdessem competitividade”.

Jabbour e Gabriele cognominam a formação social chinesa de “socialismo de mercado”, em razão de o país interagir globalmente com um mundo em que o capitalismo ainda é hegemônico. Mas defendem que a China ruma para a economia do projetamento – o projeto como provável sucessor do mercado enquanto núcleo do funcionamento da economia” (grifo nosso).

Os resultados alcançados pelos chineses são bem conhecidos dos leitores. É possível aprofundar o conhecimento dos avanços e vicissitudes do processo revolucionário chinês lendo a obra original e, como uma síntese, a resenha de Carlos Lopes.

O Brasil tinha uma condição econômica mais avantajada que a chinesa em 1980. Aonde teria chegado se, ao invés de se colocar crescentemente sob a dependência aos centros imperialistas globais, tivesse retomado o caminho do nacional-desenvolvimentismo dos tempos da era Vargas, seguido a trilha do desenvolvimento independente? Não é tarde para corrigir a rota mas, como diria Confúcio, é preciso dar os primeiros passos da longa e promissora jornada.

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