Sanitarista vê Bolsonaro culpado por “holocausto” Yanomami
Gonzalo Vecina Neto cobra responsabilização criminal do governo Bolsonaro, pela política de extermínio contra indígenas em Roraima.
Publicado 24/01/2023 15:16 | Editado 25/01/2023 13:39
O professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Medicina da USP, disse que a situação dos povos Yanomamis é uma demonstração concreta da “capacidade genocida” do Governo Bolsonaro.
Ao comentar a catástrofe sanitária que levou à morte 570 crianças indígenas e continua matando de fome e doenças aquela população, o médico sanitarista que fundou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), qualificou a situação de “holocausto” e atribuiu aos ex-ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles e dos Direitos Humanos, Damares Alves, a responsabilidade pelo quadro verificado em Roraima.
“Quando vemos as imagens de desnutrição infantil, não estamos enxergando um desastre muito pior. Uma coisa demonstrável. A capacidade genocida do governo Bolsonaro. Isso não pode passar em brancas nuvens, e os responsáveis são o Ricardo Salles com suas políticas de meio ambiente para passar a boiada, a Damares Alves com suas políticas sociais para permitir a catequização desses povos. Um conjunto complexo de ações que levam a um desastre humanitário dessas proporções. Um holocausto em que os responsáveis precisam ser alcançados, sem anistia”, afirmou em entrevista à Fabio Pannunzio, na TV Democracia.
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Política de extermínio
Ele explicou que a invasão de garimpeiros leva à expulsão dos indígenas de seu território, queimam tribos e unidades de saúde, desmatam e poluem os rios com químicos que inviabilizam a pesca e o consumo de água por humanos e animais.
Ele explicou que o Estado brasileiro não tem responsabilidade direta sobre qualquer população, mas a Constituição determina que é sua responsabilidade direta o cuidado com os povos originários. “Quando fui secretário de saúde do município de São Paulo, era constantemente cobrado pelo Ministério Público pela responsabilidade na assistência médica com os três aldeamentos de Parelheiros e Jaraguá”, relatou.
Em Roraima, segundo ele, o Governo Federal, o Governo Estadual, o Ministério Público se fizeram de ausentes. Com isso, foi possível o massacre dos povos daquela região por mineradores, a ausência do estado na garantia de medicamentos, equipamentos de saúde e alimentos.
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“A consequência foram as piores imagens que ninguém imaginava ver neste país, num lugar tão exuberante como a Amazônia, indígenas morrendo de fome e crianças de pneumonia”.
Volta da kwashiorkor
Vecina diz que o kwashiorkor ou marasmo, a desnutrição grave, era uma doença erradicada. As últimas crianças internadas por essa doença ocorreram no início dos anos 2000. “Agora, ela voltou não apenas entre crianças indígenas, como na população em geral. Para que isso aconteça no meio da Amazônia, esses indígenas precisam ter sido impedidos de caçar, de pescar e de plantar. Perderam o acesso a alimentos do meio ambiente com a presença do garimpeiro invasor. Este inclusive é o objetivo, exterminar toda aquela população para que possam garimpar sem impedimentos”.
Ele também lembrou os casos de suicídio em Dourados, no Mato Grosso do Sul, onde ocorre a mesma coisa, “por culpa da sociedade e do estado brasileiro que é constitucionalmente responsável por essas pessoas”.
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Sobre medidas emergenciais para atender sanitariamente estas pessoas, o médico disse que o que se pode fazer de imediato é garantir comida. “Não há nada mais importante no combate à kwashiorkor que alimentação. A malária e a pneumonia matam uma pessoa desnutrida. É preciso tratar essas doenças, também, para não alastrar”, disse.