Novos parlamentares serão contraponto à extrema-direita

Deputada e vereadores do PCdoB assumem mandatos na Assembleia do RS e na Câmara de Porto Alegre com pautas ligadas às mulheres, negros, juventude e população LGBTQIA+

Giovani, Daiana, Bruna e Biga: representantes comunistas do RS nos parlamentos. Foto: Divulgação

Esta semana marca um novo momento para a política parlamentar do Rio Grande do Sul. Nesta terça-feira (31), tomam posse os 55 deputados estaduais eleitos em outubro. E na Câmara Municipal de Porto Alegre assumem, na quarta-feira (1º), os suplentes daqueles que deixaram a Casa para ocupar cadeiras na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal e em outros postos. 

Mesmo estando numa das principais zonas de influência do bolsonarismo, a região Sul, as eleições de 2022 — assim como as municipais de 2020 — trouxeram alguns feitos inéditos para o estado no que diz respeito à diversidade e à representatividade. Várias candidaturas furaram os bloqueios impostos pela extrema-direita e colocaram nas casas legislativas nomes ligados à juventude, à luta antirracista, aos movimentos de mulheres e da população LGBTQIA+. 

Bruna Rodrigues. Foto: redes sociais

Um desses nomes é o de Bruna Rodrigues, do PCdoB. A jovem negra de 35 anos, estudante cotista do curso de Administração Pública e Social na UFRGS, é uma das primeiras mulheres negras — ao lado de Laura Sito (PT) — a ocupar uma cadeira em 87 anos de existência da Assembleia Legislativa do RS. 

Dois anos antes, Bruna fora eleita vereadora da capital, formando a primeira bancada negra da Casa, juntamente com outros quatro jovens: Daiana Santos (PCdoB) — eleita deputada federal em 2022 —, Laura Sito (PT), Matheus Gomes e Karen Santos (PSol).

A conquista de Bruna é maiúscula, considerando tanto o machismo quanto o racismo que estão na base da sociedade brasileira em geral e gaúcha em particular e que ganharam força durante os anos de Bolsonaro no poder. 

“Nossa eleição para a Assembleia Legislativa é carregada de simbolismos. Ter sido a primeira mulher negra eleita para esse espaço na história fala muito sobre a nova forma que precisamos fazer política para o nosso povo, assim como a responsabilidade que isso carrega. Eu sei muito bem qual parcela da população eu represento: são milhares de mulheres e homens que nunca se viram naquele lugar, e que poderão contar com este mandato para fazer valer a sua voz e seus direitos”, explica Bruna.

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No que diz respeito à sua atuação, ela pontua: “Sempre que me perguntam o que eu pretendo defender nesse espaço, eu não consigo não pensar naquilo que é fundamental para a nossa mulherada e as nossas cidades. Quero estar ali para defender o direito à vaga na creche, a garantia da educação em turno integral. Quero ser deputada estadual para defender e fazer valer o que foi negado ao nosso povo nos últimos anos”. 

Sobre o cenário majoritariamente conservador da política estadual, Bruna salienta: “É bem verdade que hoje, dentro do política do Rio Grande do Sul, eu me encontro em oposição ao governo do estado. Mas quero fazer uma oposição que consiga travar a boa luta e conquistar tudo o que nossa gente merece — e nada a menos do que isso. Nós vivemos aqui no RS uma agenda privatista e liberal por parte do atual governo (de Eduardo Leite, do PSDB), e serei uma das vozes que não tirarão o pé da luta em defesa do nosso patrimônio público”. 

Comunistas na Câmara

Com a eleição de Bruna Rodrigues à ALRS e de Daiana Santos à Câmara Federal, os suplentes Abigail Pereira e Giovani Culau assumem como vereadores na Câmara de Porto Alegre. 

Biga e Manuela d’Ávila. Foto: redes sociais

Pedagoga e sindicalista, a ex-secretária de Turismo do RS durante a gestão de Tarso Genro (PT) Abigail Pereira terá como foco principal a luta feminista e dos trabalhadores. “Assumo essa cadeira com muito orgulho de representar as mulheres, a classe trabalhadora e o meu partido, o PCdoB”, destaca.

Nosso trabalho, afirma, “terá como centro a luta para que possamos fazer da capital gaúcha uma cidade boa para as mulheres, combatendo o feminicídio e as violências de gênero, estimulando a igualdade e garantindo às nossas trabalhadoras creches para seus filhos, saúde de qualidade e demais serviços públicos que contemplem as necessidades de nossas mulheres, sobretudo as das periferias, que tanto sofrem com o descaso e o abandono”. 

Biga, como é conhecida, lembra que “não era retórica quando dissemos, em 2020, através da candidatura da Manuela d’Ávila à prefeitura, que uma cidade boa para as mulheres é uma cidade boa para todas as pessoas.”

Governada por Sebastião Melo (MDB), aliado de Bolsonaro, a capital gaúcha também será desafiadora para a esquerda local, mas as mudanças trazidas nas últimas eleições, especialmente com a eleição de Lula à presidência, podem indicar o início de um processo de mudanças também em Porto Alegre. “Temos um prefeito alinhado ao bolsonarismo e sabemos que essa será uma dura batalha, mas certamente, com a eleição de Lula, com nossas bancadas na Câmara dos Deputados, na Assembleia e na Câmara Municipal e com o apoio dos movimentos sociais e populares, poderemos avançar nessas e outras pautas necessárias ao nosso povo”, salienta Biga.

Além de Biga, o PCdoB contará com o primeiro mandato coletivo de Porto Alegre, o mais jovem e o único LGBTQIA+, composto pelo jovem líder estudantil Giovani Culau e os co-vereadores Airton Silva, Vivian Ayres, Tássia Amorim e Fabíola Loguercio. No conjunto, estão representados não apenas a juventude e os estudantes, mas também os negros, as mulheres e os LGBTQIA+. 

Mandato coletivo. Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA

“É um grande desafio construir o primeiro mandato coletivo da história de Porto Alegre. Teremos mais do que uma representação e sim cinco e, por isso, seremos mais capazes de representar a diversidade dessa cidade, ter uma representatividade maior, uma descentralização do poder que permite transformar a forma como a política é feita”, explica Culau. 

Ele acrescenta que a representatividade do mandato deverá extrapolar o coletivo e ser um “convite para que cada cidadão e cidadã possa ser o vereador número seis”. Para tanto, o coletivo pretende criar grupos de trabalhos “em que todo mundo que queira participar possa se organizar, construindo ativamente, com protagonismo do nosso mandato. Queremos ter encontros mensais de articulação geral e de tomada de decisões”. 

Como bandeiras prioritárias do mandato, diz, está o de “desbolsonarizar Porto Alegre; e isso nos coloca na contagem regressiva para derrotar Melo nas eleições de 2024”. Além disso, o mandato vai encampar causas como a luta das mulheres, do público LGBTQIA+ e dos negros, além dos direitos da juventude, pela educação e a luta ecossocialista e pela sustentabilidade. 

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“Mas é claro que tem um lugar muito especial para a luta em defesa da educação. Queremos ajudar Porto Alegre a ser a capital do direito à educação, que hoje é negado para tanta gente. São quase 30 mil analfabetos na cidade, são milhares de famílias que não têm o direito a creche das suas crianças garantido”. 

Outro ponto salientado é luta por melhores condições de vida para a juventude, que está sofrendo em Porto Alegre com a negação do acesso aos direitos básicos. “Queremos falar do direito de a juventude existir porque ela está sendo exterminada, o direito de a juventude viver com cidadania e para isso é preciso garantir o acesso aos seus direitos, entre eles o de ocupar a cidade, os espaços públicos, o direito ao lazer, à cultura, à educação, que não estão garantidos a todos e todas”. 

Culau destaca ainda que um dos projetos do mandato é que Porto Alegre tenha um Conselho Municipal da População LGBTQIA+. “Essa não é  uma luta só nossa, mas a gente vai ter o desafio de representá-la dentro da Câmara”.