Economia é um risco para Lula? por Paulo Nogueira Batista Jr

A política concentradora não favorece a expansão da economia e desequilibra as contas públicas. Os juros praticados pelo Banco Central onera pesadamente o custo da dívida pública

Lula | Foro: Joseph Eid/AFP

Com a economia em desaceleração, o economista Paulo Nogueira Batista Jr pontua os obstáculos do governo Lula para superar o atual quadro de desemprego e PIB per capita quase estagnado.

Ao questionar se o governo pode fazer alguma coisa, o economista diz que “não só pode, como já fez” e fala das medidas tomadas até o momento que são distributivas e ao mesmo tempo estimulam o crescimento.

Por exemplo, o aumento moderado do salário-mínimo em termos reais; o aumento, também moderado, da faixa de isenção do Imposto de Renda pessoa física; a ampliação gradual do programa de renda mínima, pelo Ministro Wellington Dias, o Bolsa Família. Segundo ele, todas essas medidas impulsionam a distribuição de renda de um lado e o crescimento, do outro.

De acordo com o economista, o problema é que as medidas voltadas ao lado social, as medidas distributivas, estão sendo parcialmente anuladas pela política macroeconômica que pode, inclusive, se sobrepor aos efeitos dela.

Por exemplo, a política de juros altíssimos praticado pelo Banco Central – vale lembrar que o Brasil é o país com os juros mais altos do mundo – causa um duplo efeito: “restringe deliberadamente” a economia por um lado, e concentra renda do outro, porque ela transfere renda para setores que detém títulos públicos, que são os rentistas, pessoas de alta renda e baixo consumo, o que desequilibra as contas públicas.

“A política concentradora e que não favorece a expansão da economia e desequilibra as contas públicas porque a taxa de juros praticada pelo Banco Central onera pesadamente o custo da dívida pública. Então política monetária é um problema.”

Para ele, teria que haver uma política deliberada de estímulo ao crescimento de reativação da economia que está há dez anos estagnada. “O que se espera do governo Lula é que ele bote a economia em movimento. Isso significaria por exemplo rever as metas de inflação para cima, o que não é nada de excepcional e já aconteceu no passado, por exemplo, no governo FHC.”

Após fazer uma breve análise sobre a conjuntura economica atual, Paulo Jr diz que o governo precisaria criar uma combinação feita através de política monetária mais branda, política fiscal ativa e bancos públicos atuando para promover o crescimento do crédito da economia.

“Se isso não acontecer nós teremos a configuração de um cenário em que nos primeiros dois anos do novo governo do governo Lula a economia estaria provavelmente, ninguém sabe ao certo, mas possivelmente estagnada. O desemprego possivelmente aumentando e a questão, incerta, mas que o governo tem que pesar: qual efeito que esse cenário possível, até provável, terá sobre a situação política do governo? Governo que não entrega crescimento, não entrega emprego nos seus dois primeiros anos. Não terá sofrido uma derrota política importante, mas, talvez, difícil de reverter”.

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