Torres se complica após suspeita de tentar sabotar eleição

Inquérito vai apurar suspeita de que ex-ministro de Bolsonaro tentou impedir o comparecimento de eleitores de Lula no Nordeste, no segundo turno,

Torres durante entrevista coletiva sobre a Operação Eleições 2022 no segundo turno (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso no 4º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) acusado por omissão e conivência com os atos golpistas do 8/1, também está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) por tentar sabotar o segundo turno das eleições presidenciais.

De acordo com a coluna de Malu Gaspar, de O Globo, a PF apura uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), planejada pelo ex-ministro, para impedir o comparecimento às urnas dos eleitores de Lula no Nordeste.

O inquérito tenta reconstituir, segundo a colunista, a forma como o governo Bolsonaro se preparou para sabotar o adversário petista no segundo turno.

Essa investigação somada a minuta do golpe encontrada na residência do ex-ministro deixa a situação de Torres ainda mais complicada.

Interlocutores não descartam a possibilidade dele de fazer uma deleção premiada contra Bolsonaro. O ex-ministro, inclusive, afastou da sua defesa advogado ligado ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Leia mais: Bolsonaristas estão apavorados com chance de delação de Anderson Torres

A PF já apurou que, no final da manhã da quarta-feira 26 de outubro, Torres e seus assessores se reuniram com o superintendente da Polícia Federal na Bahia, Leandro Almada, e seus dois assessores diretos, os delegados Flávio Marcio Albergaria Silva e Marcelo Werner Derschum Filho.

Na reunião, o ex-ministro pediu que a PF ajudasse a PRF na operação que parariam todos os veículos que transportassem eleitores. Ele disse que sua pasta havia recebido muitas denúncias de compras de voto por petistas no Nordeste.

“Para ele, só isso explicava a grande diferença entre a votação de Lula e a de Bolsonaro no primeiro turno. Na Bahia, Lula tinha tido 5,8 milhões de votos (69,73%), contra 2 milhões (24,31%) do então presidente”, diz a coluna.

O plano não deu resultado por causa da ação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que após intensa movimentação da PRF, intimou o “diretor-geral da corporação a interrompê-la, sob pena de multa e afastamento do cargo”. A PF da Bahia também não se empenhou no plano.

Repercussão

Para a líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (RJ), o ministro tem muito a se explicar. “As novas descobertas da Polícia Federal mostram que o ex-ministro de Bolsonaro, que foi preso após os ataques golpistas de 8 de janeiro, também é suspeito de tentar sabotar, com a operação da PRF, os eleitores de Lula no segundo turno das eleições presidenciais. Anderson Torres, que já tinha muito o que explicar, agora precisa dar mais essa justificativa à Justiça e à sociedade”, afirmou a líder.

“Mais uma semana começa e mais crimes do esquema bolsonarista são revelados. Fizeram de tudo para impedir a manifestação soberana do povo, utilizaram a máquina pública criminosamente. Punição exemplar pra esse bando de golpistas”, cobrou o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).

“Fora a minuta do golpe, Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro, tinha mapa das votações e foi à Bahia organizar bloqueios da PRF pra impedir eleitores de votar no 2o turno. Aí a gente vê a dimensão da vitória de Lula. Anderson tá preso, falta o chefe. Sem anistia pra golpistas”, disse a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) considerou mais um caso grave. “A PRF tentou impedir a população de votar e a ação tinha como objetivo favorecer Bolsonaro. A PF descobriu documento de inteligência produzido por Anderson Torres com mapa detalhado dos locais onde Lula venceu no primeiro turno. Tá passando da hora de prenderem Bolsonaro!”, reagiu.

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