China-Brasil: parceria pode gerar benefícios mútuos em investimentos e tecnologia

Na véspera da visita de Lula à China, a ministra Luciana Santos, do MCTI, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Povo.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) Luciana Santos (PCdoB) | Foto: Diego Galba/VG

A cooperação entre a China e o Brasil na área de ciência e tecnologia tem sido frutífera, com empreendimentos conjuntos bem-sucedidos, como o programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite). Essa parceria permitiu ao Brasil se tornar líder na geração de dados de sensoriamento remoto, com seis satélites já construídos e lançados para monitorar os biomas brasileiros, principalmente a Amazônia. As imagens geradas pelos satélites são essenciais para o controle do desmatamento e monitoramento dos recursos hídricos, crescimento urbano e uso do solo.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Povo, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos (PCdoB), afirmou que o Brasil pretende avançar no acordo de desenvolvimento CBERS-6, que revolucionará o monitoramento da Amazônia com tecnologia inovadora. Além disso, Brasil e China poderiam cooperar em outras áreas, como semicondutores, tecnologias quânticas e inteligência artificial, vitais para a industrialização do Brasil.

Leia a íntegra da entrevista abaixo.

Diário do Povo: Desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil, especialmente desde que os dois lados assinaram um acordo intergovernamental de cooperação científica e tecnológica em 1982, os dois países realizaram cooperação frutífera nas áreas aeroespacial, matemática, mudança climática, silvicultura, energia e outras áreas. O que você acha dos resultados da cooperação de ambos na área de ciência e tecnologia?

Luciana: A China é um parceiro estratégico para o Brasil, e o programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite) é o maior exemplo do sucesso da cooperação científica entre os dois países. Lembro que o CBERS nasceu de uma parceria inédita entre Brasil e China no setor aeroespacial ainda na década de 1980. Graças à essa cooperação, o Brasil passou a ser detentor da tecnologia de geração de dados de sensoriamento remoto.

Desde então, seis satélites já foram construídos e lançados de forma conjunta, aprimorando os nossos instrumentos de monitoramento dos biomas brasileiros, em especial, da Amazônia. As imagens geradas pelos satélites são fundamentais para controle do desmatamento e para o monitoramento das queimadas e dos nossos recursos hídricos, das áreas agrícolas, do crescimento urbano e da ocupação do solo.

Diário do Povo: Olhando para o futuro, sob a liderança do governo brasileiro, em quais áreas o Brasil irá cooperar com a China no campo da ciência e tecnologia?

Luciana: Ao resgatar o protagonismo do Brasil no mundo, o presidente Lula confere à cooperação científica status especial dentro da política externa do seu governo. Nesse sentido, temos a expectativa de avançar no acordo para o desenvolvimento do CBERS-6, que vai mudar o nosso monitoramento da Amazônia a partir de uma tecnologia inovadora. Esse será assinado durante a viagem oficial do presidente Lula à China na próxima semana.

Além disso, destaco os avanços que poderemos obter em outras áreas, como a de semicondutores, tecnologias quânticas e Inteligência Artificial, que são estratégicas para o processo de reindustrialização do Brasil. Nosso país tem potencial para se tornar um importante player global nessas áreas, e acredito que a nossa parceria estratégica com a China pode gerar benefícios para as duas nações em termos de investimentos e transferência de tecnologia.

Já iniciamos a atualização da política nacional de semicondutores ao instituir, nos primeiros dias de governo, um grupo de trabalho interministerial para analisar a reversão da liquidação da Ceitec, empresa de semicondutores ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil.

Outros temas que consideramos prioritários para a cooperação bilateral no futuro são Nanotecnologia; Biotecnologia, Saúde e Ciências Agrícolas; Cidades Inteligentes; Novos Materiais; Biodiversidade, Ciências Polares e Oceânicas; e Infraestruturas de Pesquisa.

Diário do Povo: Que aspectos positivos da cooperação entre a China e o Brasil no campo de ciência e tecnologia atuam na promoção das trocas amigáveis entre os dois países, promovendo a cooperação Sul-Sul e construindo uma comunidade com o futuro compartilhado para a humanidade?

Luciana: Desde que assumi o Ministério, tenho dito que a ciência, a tecnologia e a inovação são pilares fundamentais para o desenvolvimento do País e para o desenvolvimento de soluções para os desafios globais. Não há como enfrentar desafios como a fome, a desigualdade social, as mudanças climáticas, a transição energética e a transformação digital sem ciência. De igual modo, a cooperação internacional é fundamental para o enfrentamento dessas questões que afetam a humanidade.

Neste governo, reconhecemos a relevância da cooperação internacional e estamos fortalecendo nossas relações bilaterais e multilaterais. Nosso objetivo é ampliar o acesso da população aos benefícios da ciência e da tecnologia, melhorar a qualidade de vida das pessoas, transformar conhecimento em riqueza e promover o crescimento, criando mais oportunidades de emprego e renda.

Diário do Povo: A senhora acompanhará o presidente Lula em visita à China. Quais são suas expectativas para a visita?Durante a visita do presidente Lula à China, que atividades realizará como ministra de Ciência e Tecnologia?

Luciana: Tenho as melhores expectativas em relação à visita oficial do presidente Lula e da delegação brasileira à China. O governo brasileiro tem trabalhado para reinserir o Brasil na geopolítica mundial, ampliar e fortalecer as parcerias e os instrumentos de cooperação internacional. A viagem à China faz parte desse esforço da política externa do governo do presidente Lula. Na área científica e tecnológica, terei uma agenda robusta de encontros bilaterais com a Ministério da Ciência e Tecnologia da China (MOST), a Administração Nacional do Espaço da China (CNSA), a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST) e a Academia Chinesa de Ciências (CAS), além de visitas a Centros de Pesquisa e Desenvolvimento.

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Fonte: Diário do Povo
Edição: Bárbara Luz

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