Pesquisador diz que invasores de terra estão no agronegócio

Bruno Stankevicius, coordenador do De Olho nos Ruralistas, fala em inversão de narrativas para criminalizar luta pela terra com CPI do MST

Foto: Daniel Beltra/Greenpeace (No relatório Os Invasores)

O pesquisador e coordenador do De Olho nos Ruralistas, Bruno Stankevicius, foi certeiro ao apontar quem são os reais invasores de terra no Brasil. Em artigo na Folha de São Paulo, ressaltou que foi o lobby político de latifundiários, por meio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Congresso Nacional, o responsável por criar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).  

Algo feito sob medida para perseguir movimentos que lutam pela reforma agrária e inverter uma narrativa para escamotear quem são os reais responsáveis por invasões de terras no país.

Nesse sentido, Stankevicius ressalta o lançamento do relatório “Os Invasores“, em que são revelados os nomes dos reais invasores de terras, especificamente de terras indígenas (TIs), que são ligados ao agronegócio e ao grande capital. Estes invasores, entre pessoas físicas e jurídicas, realizam o registro de imóveis rurais de forma sobreposta às áreas das TIs, o que é crime federal.

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Os dados tem como base informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Como principais apontamentos, o relatório denuncia:

• 1.692 sobreposições de fazendas em 213 terras indígenas homologadas ou em processo de homologação pela Funai;

• sobreposições que correspondem a 1,18 milhão de hectares, com 95,5% em territórios pendentes de demarcação;

• Os setores de grãos, carne, madeira, açúcar e etanol e fruticultura são os principais responsáveis pelas sobreposições;

• Entre os grupos multinacionais ligados a fazendas incidentes em terras indígenas figuram Bunge, Amaggi, Bom Futuro, Lactalis, Cosan, Ducoco e Nichio;

• Bancos e fundos de investimento estão diretamente envolvidos na pressão econômica contra as Tis: Itaú (por meio da subsidiária Kinea), Bradesco, XP, Gávea Investimentos, IFC e Mubadala;

• Entre 2008 e 2021, 46,9 mil hectares foram desmatados em áreas de sobreposição de fazendas em terras indígenas;

• Mato Grosso do Sul é o estado com maior número de sobreposições (630 em 238,9 mil hectares), seguido por Mato Grosso (247 em 371,5 mil ha), Maranhão (189 em 244,9 mil ha).

Como exemplo, o documento aponta a sobreposição de mil e quarenta e oito hectares, em Goiás, “que um punhado de bilionários brasileiros e expressivos fundos de investimento estrangeiros “herdaram” ao se tornarem os principais acionistas da Eletrobras, a estatal de energia elétrica privatizada em meados de 2022 pelo governo Bolsonaro.”

A sobreposição está quase toda nos limites declarados da TI Avá-Canoeiro. Entre os detentores da Eletrobras que ficaram com o conflito está a 3G Capital que “tem como sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira — o mesmo trio que protagonizou o escândalo do rombo bilionário na Americanas”.

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Para a Folha, Stankevicius também denunciou o roubo de terra por grileiros como ocorre no Pontal do Paranapanema, região oeste no estado de São Paulo. Ele lembra que o governador Tarcísio Freitas (Republicanos) lançou um desconto de 90% para a regularização fundiária na região, com base em lei aprovada ainda por João Dória (PSDB). Um verdadeiro “prêmio” para os grileiros. O tema será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Por fim, o pesquisador lembra que as invasões tem sempre os mesmos atores e nenhum deles é do MST ou de movimentos populares.

Confira na íntegra o relatório “Os Invasores: quem são os empresários brasileiros e estrangeiros com mais sobreposições em terras indígenas”, produzido pelo De Olho nos Ruralistas.

*Edição Vermelho, Murilo da Silva.

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