Trump vira réu e tenta politizar os crimes que cometeu visando 2024

O líder da extrema-direita se torna o primeiro presidente americano réu na esfera federal da Justiça. Trump é acusado de guardar consigo centenas de documentos ultrasigilosos

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O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump virou réu, nesta terça (13), por crimes federais. Trump esteve sob custódia em um tribunal federal em Miami para ouvir as 37 acusações criminais às quais responderá por manter consigo documentos secretos após deixar a Casa Branca.

O bilionário usa as investigações em que é alvo para movimentar sua base, apoiadores e milicianos, e criar um clima de guerra para as eleições presidenciais em 2024. Recentemente, se referiu aos processos em que enfrentará como a “batalha final” contra o que chamou de forças corruptas dos EUA.

Atualmente, Trump é o favorito para ganhar as primárias do Partido Republicano.

Perante o juiz, o ex-presidente se declarou inocente de todas as acusações listadas. Os poucos profissionais de imprensa autorizados a acompanhar a audiência relataram que Trump manteve os braços cruzados durante a sessão.

Trump chegou no tribunal da Justiça Federal de Miami por volta das 14h do horário local (15h do horário de Brasília) e sob forte aparato de segurança. Havia uma expectativa de tumulto, mas, no fim, o número de apoiadores do líder da extrema-direita americana estava reduzido.

A milícia de ultradireita Proud Boys chegou a convocar manifestação em frente ao tribunal nesta terça. O grupo tem integrantes condenados pela invasão violenta ao Capitólio, em 2021.

Alguns aliados do ex-presidente chegaram a dizer que o país “chegou à fase de guerra”.

Por meio de uma live, após a audiência, Trump acusou o atual presidente dos EUA Joe Biden de orquestrar as acusações federais contra ele. Sem apresentar provas e numa tentativa de inflamar sua base de seguidores, o empresário disse que Biden “será para sempre lembrado não apenas como o presidente mais corrupto da história de nosso país, mas talvez ainda mais importante, o presidente que, junto com um grupo de seus bandidos mais próximos, desajustados e marxistas tentaram destruir a democracia americana”.

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O caso

Em 2022, a polícia federal americana encontrou centenas de documentos oficiais na casa de Donald Trump e Mar-a-Lago, na Flórida. Nas caixas havia informações consideradas ultrasigilosas, como detalhes sobre o arsenal nuclear dos Estados Unidos e de outros países, e as vulnerabilidades americanas a um ataque militar.

O Departamento de Justiça afirma que Trump reteve intencionalmente centenas de documentos confidenciais que ele levou da Casa Branca para a casa dele em Mar-a-Lago, depois de deixar a presidência. Para a Corte, isso teria colocado em risco a segurança do país.

Nos EUA, a lei obriga os presidentes a enviarem todos os e-mails, cartas e outros documentos de trabalho para o Arquivo Nacional. A legislação também proíbe a manutenção de segredos de Estado em locais não autorizados e considerados inseguros.

O Departamento de Justiça divulgou fotos que mostram caixas de documentos armazenadas em um palco de um salão de festas, em um banheiro e espalhadas pelo chão de um depósito.

Ao juiz, os promotores afirmaram que não consideram que Trump pode fugir, portanto o ex-presidente vai responder esse processo em liberdade. Se considerado culpado, ele pode ser preso e cumprir pena de 10 a 20 anos para cada acusação.

É o segundo processo que o bilionário enfrenta na justiça dos EUA. Em abril, o promotor distrital de Manhattan acusou Trump de 34 acusações de falsificação de negócios.

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Eleições 2024

Os processos criminais enfrentados por Trump e alguns de seus aliados é considerado o primeiro grande teste às vésperas do período eleitoral americano. Isto porque Donald Trump é o principal candidato do partido Republicano e, ao mesmo tempo, o primeiro presidente dos EUA a se tornar réu na Justiça Federal do país.

Alegando inocência, Trump afirma que é vítima de uma perseguição política. Isto porque o Departamento de Justiça faz parte do Gabinete do poder executivo do país, ou seja, é comandado pelo governo, que atualmente é chefiado justamente por Joe Biden, seu adversário nas eleições de 2020 e possível adversário para 2024.

A Casa Branca, no entanto, tem se distanciado do processo, e Biden disse que não falou nem falará sobre o tema com seu secretário de Justiça, ‎Merrick Garland.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Segurança é uma mistura da versão do Ministério da Justiça e a Procuradoria Geral da República no Brasil. O departamento é chefiado pelo Procurador-Geral, indicado pelo presidente dos Estados Unidos e chancelado pelo Senado Federal do país.

“Eles estão usando isso porque não podem ganhar a eleição de forma justa e honesta”, disse Trump na segunda (12) em entrevista ao Americano Media, uma empresa de mídia localizada em Miami.

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