Putin: Rússia se esforçará para ajudar Cuba a superar sanções

Mais: Os apuros de Trump e os dilemas políticos / Taiwan deve escolher entre paz e guerra / A Guerra na Ucrânia e a visão do General Agostinho Costa / Cuba convoca G77.

Foto: EFE

A agência Sputnik News informa que, nesta quarta-feira (14), o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, em um encontro com o primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, declarou que a Rússia se esforçará para ajudar Cuba a superar as sanções dos Estados Unidos. “Sabemos que as sanções ilegais, sob as quais vive Cuba, duram décadas. No entanto, o povo cubano as enfrenta. De nossa parte, tudo faremos para que nossa interação econômica ajude a superar esses desafios trazidos de fora”, disse Putin. No dia anterior, Marrero se reuniu com seu homólogo russo, Mikhail Mishustin. Segundo o primeiro-ministro russo, Moscou e Havana estão trabalhando para garantir sua colaboração econômica mútua sob as condições das medidas restritivas impostas pelos países ocidentais, “Nossa cooperação foi testada pelo tempo e repetidamente mostrou sua resistência aos desafios externos, junto com os parceiros cubanos, estamos tomando medidas eficazes destinadas a proteger a cooperação bilateral da influência de sanções econômicas ilegítimas de estados hostis“, disse Mishustin. Por sua vez, Marrero destacou o acordo alcançado na terça-feira (13) com a petroleira russa Rosneft para um fornecimento estável de 1,64 milhão de toneladas de petróleo e derivados a Cuba por ano. O primeiro-ministro cubano, que chegou a Moscou no dia 6/6, terminará sua viagem à Rússia participando do Fórum Econômico Internacional em São Petersburgo, que começou ontem e irá até sábado (17), reunindo representantes oficiais de mais de 100 países.

Os apuros de Trump e os dilemas políticos estadunidenses

Para quem minimiza os efeitos dos embates internos que acontecem nos EUA, sugiro uma leitura do jornal O Globoedição desta quinta-feira (15), sobre os indiciamentos contra o ex-presidente dos EUA (2017-2021) e atual presidenciável Donald Trump, que teoricamente pode pegar até 400 anos de cadeia pelas acusações apresentadas até agora. Para além do que repórteres e colunistas escrevem, com textos que seriam perfeitamente adequados a um jornal oficial do Partido Democrata, inclusive sem qualquer referência às acusações cada vez mais graves contra Biden no escândalo ucraniano, como mostramos na Súmula de ontem, ressalta-se os dilemas internos que tais conflitos políticos exacerbam. O colunista Guga Chacra cita algumas declarações interessantes neste sentido: James Zogby, democrata, presidente do “Arab American Institute”, ONG que defende a população estadunidense de origem árabe: “Estou preocupado com o que acontecerá com o país em 2024. Acho que ainda não vimos nada. Não presenciamos o fim do que começou em 6 de janeiro (a invasão do capitólio, n. do e.)”. David Walters, ex-governador democrata de Oklahoma: “Os danos de longo prazo para a nação e o nosso sistema por não agir (contra Trump) superam em muito o risco político e de segurança (de agir)”. Mary Moe, ex-senadora democrata por Montana, “Não consigo imaginar colocar um ex-presidente, juntamente com sua equipe do Serviço Secreto, em uma prisão. Mas tem que haver alguma consequência. Estamos em território desconhecido aqui”. Liano Sharon, ativista democrata de Michigan: “Se ele não for condenado, será um golpe na já baixa confiança no governo, no Departamento de Justiça, nos tribunais e no Judiciário como um todo.” Bruce Ledewitz, democrata, professor de direito, segundo Guga Chacra “aconselhou os democratas a seguirem o exemplo do presidente Gerald Ford, que perdoou seu antecessor, Richard Nixon, para poupar o país do trauma”: “Trump pode ser presidente e estar na prisão. Não sei quem pensou que isso seria sensato para o país. Simplesmente não é”. Sheikh Rahman, senador democrata do estado da Geórgia: “Isso não é bom para o país em relação ao nosso status em todo o mundo. Todo mundo olha para nós, o mundo inteiro está olhando para nós e dizendo: ‘Como isso pode acontecer com os Estados Unidos?’”. Notem que este é o estado de espírito entre os democratas, que não representam sequer a metade do país. O clima entre parte significativa da outra metade é para lá de beligerante. A encrenca é grande e o que já está ruim pode até piorar.

A alternativa republicana

À esq., a manifestação pró DeSantis do último domingo, à dir. a manifestação de 2022

Donald Trump é o franco favorito na disputa pela indicação republicana, no entanto, as graves acusações que enfrenta lançam dúvidas sobre seu futuro e sua viabilidade. Trump inviabilizado, a alternativa mais competitiva, dentro do Partido Republicano, é o governador da Flórida Ron DeSantis. Ron DeSantis é tão de direita, mas tão de direita, que TRUMP (!) o acusa de ser um novo Hitler. Mostramos em algumas edições da Súmula as diversas medidas reacionárias e racistas de DeSantis, incluindo a proibição do ensino da história dos negros nas escolas públicas da Flórida. Em guerra com a Disney, que DeSantis acusa de fazer propaganda gay para as crianças, apoiadores nazistas do governador fizeram nova manifestação em frente ao parque neste domingo (11). Não é a primeira vez. Em 2022 já fizeram isso em frente a um centro de convenções (veja fotos acima). Na ocasião, a Revista RollingStone informou que “líderes judeus locais estão exigindo que o governador republicano Ron DeSantis condene um grupo de neonazistas que se reuniram do lado de fora de um centro de convenções de Tampa no fim de semana, distribuindo propaganda antissemita e exibindo suásticas ao lado de bandeiras onde se lia ‘País DeSantis’”. Tanto na época quanto agora Ron DeSantis jamais veio a público repudiar o apoio, silêncio relevador que mostra o caminho de acelerada degeneração dos EUA e de suas instituições.

China: Taiwan deve escolher entre paz e guerra, progresso e recessão

Uma porta-voz da República Popular da China declarou, nesta quarta-feira, que as relações através do Estreito de Taiwan estão divididas entre os caminhos da paz e da guerra e as perspectivas de prosperidade e recessão. “Os compatriotas taiwaneses devem refletir cuidadosamente e fazer a escolha certa de defender os grandes interesses nacionais e aderir ao Consenso de 1992 e ao caminho do desenvolvimento pacífico, ou endossar forças e atividades que vão contra esse consenso e desenvolvimento”, disse Zhu Fenglian, porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado durante uma coletiva de imprensa. “O desenvolvimento pacífico das relações através do Estreito é o caminho certo para salvaguardar a paz, promover o desenvolvimento comum e beneficiar as pessoas de ambos os lados”, disse Zhu, acrescentando que isso está perfeitamente alinhado com os interesses imediatos e o desejo comum dos compatriotas ao longo do Estreito, como bem com a tendência dos tempos. Os fatos provaram que aderir ao princípio de Uma Só China e ao Consenso de 1992 é a chave para garantir o desenvolvimento pacífico dos laços através do Estreito, de acordo com a porta-voz. “Somente se o Consenso de 1992 for mantido, as relações entre os dois lados do Estreito poderão melhorar e crescer, caso contrário, elas se tornarão tensas e voláteis”, declarou, acrescentando que esta é uma escolha entre a paz e guerra, entre desenvolvimento e recessão.

A Guerra na Ucrânia e a visão do Major General Agostinho Costa

Para quem deseja conhecer a visão um analista militar independente sobre a guerra na Ucrânia, sugiro fortemente que assista esta entrevista (acima) que o Major General português Agostinho Costa prestou ao canal do jornalista Rogério Anitablian, nesta segunda-feira (12). O militar começa advertindo que se coloca a “difícil tarefa” de analisar o conflito a partir da análise estratégica isenta e dos dados disponíveis que, ele ressalta, nem sempre são os suficientes pois em um conflito desta proporção durante certo tempo muita informação importante permanece oculta aos olhos dos analistas. Assim, mesmo evitando respostas terminativas, fica clara a avaliação do General de que a contraofensiva ucraniana, que no momento da entrevista transcorreria há nove dias, não está tendo sucesso e a própria perspectiva de vitória militar da Ucrânia contra a Rússia é muito limitada. O general defende que a destruição parcial da represa Nova Kakhovka foi obra do exército russo e ajudou a Rússia a enfrentar a contraofensiva, opinião polêmica, mas que Agostinho sustenta com argumentos críveis.

Agostinho Costa: Os cenários com os quais a Rússia trabalhou na Operação Especial Militar

Outros três pontos que me chamaram a atenção na entrevista do general: 1º) A Rússia, segundo ele, trabalhava com três cenários quando iniciou a Operação Militar Especial, o mais favorável previa ocupar o Donbass e fustigar Kiev fazendo desmoronar o governo Zelensky, caso isso não fosse possível (como não foi graças à resistência ucraniana) o cenário dois seria prosseguir o combate e obrigar a Ucrânia a fazer um acordo de paz positivo para a Rússia, o que quase se verificou nas negociações em Istambul, que só não foram concluídas pela intervenção do Ocidente que incentivou a continuidade do conflito e agora estamos no terceiro cenário previsto pelos russos que é a destruição de toda a força combatente da Ucrânia; 2º) A derrota ucraniana em Bakhmut teve caráter estratégico, ou seja, em boa medida determinou o rumo futuro da guerra; 3º) O batalhão Wagner é uma força criada e dirigida pelo Estado, cujo “proprietário” nominal é Yevgeny Prigozhin, que segundo o general é membro da inteligência russa. As críticas e polêmicas públicas entre Prigozhin e o Ministério da Defesa Russo, são ensaiadas para confundir o inimigo. Segundo o Major General, tanto EUA quanto o Reino Unido têm forças especiais que atuam sobre o manto de empresas privadas para ter mais liberdade de ação. A entrevista do general é muito rica e cada um pode destacar outros pontos, vale a pena assistir.

Ainda sobre o conflito na Ucrânia

Nesta terça-feira, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, esteve na Casa Branca e disse ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que a Ucrânia está “fazendo progressos” em sua contraofensiva contra a Rússia. “Enquanto falamos aqui, os ucranianos avançam na ofensiva que lançaram”, congratulou-se Stoltenberg perante a mídia no início da reunião. “Ainda é cedo, mas sabemos que quanto mais território os ucranianos liberarem, mais força terão na hora de negociar“, acrescentou, segundo informações da agência EFE. Esta última frase de Stoltenberg é significativa. Não faz muito tempo, o principal dirigente da Otan falava em “derrota total” da Rússia. Agora diz que a Ucrânia deve ter mais força na hora de negociar. Uma mudança e tanto de objetivo.

Cuba convoca o G77 para setembro

A agência Europa Press informa que o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, anunciou nesta quarta-feira que a cúpula de líderes do G77, reunindo um grupo de mais de cem países, será realizada nos dias 15 e 16 de setembro em Havana, com o objetivo de reforçar a unidade e enfrentar efetivamente os “desafios contemporâneos”. “Cada minuto conta na busca de uma solução para os problemas prementes de nossos povos“, proclamou Díaz-Canel, em um vídeo publicado nas redes sociais e com o qual quis confirmar a data de um fórum no qual a China, países africanos, países asiáticos e latino-americanos têm presença especial. O presidente de Cuba destacou que os membros do Grupo dos 77 – do qual fazem parte mais de 130 países – e a China representam 80% da população mundial e mais de um terço dos países das Nações Unidas. A reunião de setembro dará especial atenção ao desenvolvimento científico e tecnológico, levando em conta que continua “inacessível a grande parte da humanidade“, nas palavras do presidente cubano, que atribuiu esse desenvolvimento desigual à injusta ordem econômica internacional.

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