Áudios de Robinho reforçam necessidade de cumprimento da pena por estupro

Gravações mostram desprezo de jogador pela vítima; para presidenta da UBM, cumprimento da pena fortalece luta contra violência à mulher

Foto: divulgação

A semana marcou mais um lamentável capítulo da trajetória de Robinho. Os áudios recém-revelados com falas do jogador sobre a vítima de estupro pelo  qual ele e um amigo foram condenados na Itália mostram um machismo do mais baixo nível e podem reforçar a necessidade de que os sentenciados cumpram a pena no Brasil. 

As gravações feitas com grampos autorizados pela Justiça fazem parte da investigação que levou à condenação de Robinho e de seu amigo, Ricardo Falco, a nove anos de prisão por estupro coletivo de uma mulher albanesa em Milão, em 2013. A sentença, que confirmou a versão da vítima, passou pelas três instâncias jurisdicionais — a última em 19 de janeiro de 2022 — e não cabe mais recurso. Os áudios foram revelados pelo portal UOL. 

Além do desprezo pela vítima demonstrado por Robinho, os áudios contradizem o jogador, que afirmou não ter feito sexo com a moça. “Por isso que eu estou rindo, eu não estou nem aí. A mina estava extremamente embriagada, não sabe nem quem que eu sou”, disse o jogador, como que buscando justificar num suposto comportamento impróprio da moça a violência da qual ela foi vítima. 

O jogador fala ainda como tentaria explicar a situação: “Vamos chutar errado: ‘Ah, deu alguma coisa, descobriram que o Ricardo participou, que o Neguinho comeu a mina.’ ‘É, eu comi, pô! Porque ela quis. Aonde eu forcei a mina? Eu comi a mina, ela fez chupeta pra mim e depois saí fora. Os caras continuaram lá’”. 

Na avaliação da presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Andréa Santos, “a verdade é que a mulher nunca está em paz na sociedade em país nenhum, nunca está numa posição em que ela mereça ser tratada dignamente como um ser humano”. 

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A entidade entrou, junto ao Ministério Público Federal, com ação para a retenção do passaporte do jogador, que vive no Brasil. O pedido foi acolhido pelo ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no final de março. 

Agora, a presidenta da UBM explica que a ideia é ampliar o movimento em favor da punição do jogador. “Semana que vem, a gente vai conversar com o Ministério da Mulher para tentar ganhar outras forças para esse processo porque essa é uma questão que deve servir de exemplo para muitos outros casos que têm acontecido”. 

Análise no STJ

Há pouco dias, também foi anunciada a realização de sessão ordinária da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, no dia 2 de agosto, que vai analisar pedido da defesa do ex-jogador para que o governo italiano envie ao país cópia traduzida da sentença condenatória.

Segundo informou O Globo, o caso estava “parado” desde 24 de abril, quando o ministro João Otávio de Noronha pediu vistas. Ele tinha prazo de 60 dias para revelar sua decisão ou, então, prorrogar por mais 30 dias a análise. Se na próxima sessão a Corte Especial negar o pedido, passa-se a julgar se o atleta deve ou não cumprir a pena no Brasil, uma vez que a Constituição veta a extradição de brasileiros natos.

Na avaliação do advogado da UBM, Carlos Nicodemu, o pedido “é uma manobra procrastinatória para o julgamento do caso, considerando que está se debatendo não mais o mérito do caso, mas sim a validação, a convalidação da sentença que foi dada na Itália”. O que esperamos, explica, “é uma improcedência a esse pedido de remessa do processo integral da Itália, pois é absolutamente desnecessário para a verificação dos requisitos formais que vão dar validade à sentença que condenou o jogador por estupro na Itália”. 

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Para Vanja, o caso Robinho e seu desfecho são importantes tanto para que seja feita justiça com relação ao crime cometido como forma de reforçar a luta contra o machismo, a misoginia e a violência contra a mulher. “Homens com certa projeção acabam se oportunizando da sua imagem de sucesso para fazer todo tipo de coisa e passar batido. A gente tem que acabar com isso, com o assédio moral e sexual em todos os ambientes. Acho que quanto mais casos punidos a gente tiver, mais a gente vai estar caminhando na construção de um mundo melhor, mais justo, digno e humano e com garantia de direitos para as mulheres”.