CPI da Americanas vai quebrar sigilo dos ex-diretores da rede

A decisão foi tomada após o presidente da empresa, Leonardo Coelho Pereira, reconhecer que houve fraude na empresa e não inconsistências contábeis.

(Foto: Tania Rego/Agência Brasil)

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Americanas vai pedir nesta terça-feira (20) a quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático dos ex-diretores da rede varejista Miguel Gutierrez, Márcio Cruz, Fábio Abrate e Timotheo Barros.

A decisão foi tomada após o presidente da empresa, Leonardo Coelho Pereira, reconhecer que houve fraude na empresa e não inconsistências contábeis. Ele depôs na CPI na semana passada.

A gigante varejista pediu recuperação judicial após revelar um rombo contábil entre R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões.

Em seu depoimento, Pereira apresentou e-mails e documentos internos que comprovam a fraude no balanço financeiro da empresa.

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Neles, há uma coluna chamada de “visão interna”, que mostrou um prejuízo de R$ 733 milhões. Em outra coluna, batizada de “visão do conselho”, apontou um lucro artificial de R$ 2,8 bilhões.

“Entre a visão interna e a visão conselho foram criados R$ 3,5 bilhões de resultado”, disse o CEO.

Pereira também afirmou que bancos, como Itaú e Santander, aceitaram modificar cartas de risco sacado para mitigar a situação da dívida.

“Observando com muita atenção cada palavra dita pelo senhor Leonardo Coelho Pereira, o que parece é que uma quadrilha dirigiu as Americanas, em conluio, inclusive, com auditoria e com bancos. Fiquei perplexo de observar fraude nos documentos internos. Portanto, ao que parece, é muito mais do que uma fraude contábil. Ao que parece, uma quadrilha dirigiu uma das principais empresas do varejo do Brasil. Daí a responsabilidade de ter essa comissão parlamentar de inquérito para adotar mecanismos, medidas que aperfeiçoe a legislação no Brasil para que uma armação da proporção que foi produzida aqui não se repita”, disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), autor do requerimento que resultou no depoimento do CEO.

Trio bilionário

Depois do depoimento, também cresceu a pressão para a convocação dos principais acionistas da empresa: os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

“Nós estamos falando do trio mais bilionário do país. E que foi beneficiado na prática com os dividendos e lucros a partir de uma fraude milionária que lesou muito. E lesou muito pequenos acionistas, fornecedores que vieram à falência e trabalhadores”, disse a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

“Não é crível, lógico e racional que os três principais acionistas, aliás, os homens mais bilionários não tivessem ciência [da situação]”, completou.

O relator, deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), disse que com os resultados preliminares das investigações, o prejuízo financeiro da empresa saltou de R$ 20 bilhões, para o patamar dos R$ 40 bilhões.

Nesta semana, os integrantes da CPI também querem ouvir o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), João Pedro Nascimento, e o diretor de fiscalização do Banco Central, Paulo Souza. Eles deverão esclarecer sobre as medidas que foram tomadas em relação à varejista.

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