Ministra alerta que Brasil tem ‘alto risco’ de volta da paralisia infantil

Ministra da Saúde disse que quer recuperar alegria da vacinação e aumentar a cobertura do país em queda constante, desde o golpe de 2016.

Foto: Julia Prado/MS

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou na quinta-feira (15) que o Brasil precisa reforçar sua cobertura vacinal para evitar que doenças que não estavam mais em circulação, como a poliomielite, voltem a atingir a população. O próximo ciclo multivacinal começa em agosto e a exigência de vacinação do novo Bolsa Família deve fazer enorme diferença na campanha.

A gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Saúde tem entre suas prioridades reverter anos de campanha antivacina do governo de Jair Bolsonaro (PL). A pasta também planeja intensificar os investimentos em comunicação e vem cobrando dos secretários de estados e municípios mais resultados na área.

Em sessão para celebrar o Dia Nacional da Imunização, no Senado, ela afirmou que o quadro de vacinação se agravou nos últimos quatro anos e que reverter este cenário é prioridade de sua gestão. Mas a ministra afirmou que há outro objetivo a ser alcançado: resgatar a alegria do ato de se vacinar.

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Muitas mentiras já foram inventadas para desestimular a vacinação no Brasil, com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como o maior agente disseminador. O Ministério da Saúde alerta sobre a circulação de notícias falsas que prejudicam as iniciativas de ampliar as coberturas vacinais no país e orienta que a população busque informações nos canais oficiais para evitar desinformação.

“É muito importante não reproduzirmos vídeos e áudios para outras pessoas sem checar se é verdadeiro primeiro. Espalhar notícia falsa contra vacina é contribuir para aumentar o risco da volta de doenças muito graves, como a pólio”, alerta a ministra Nísia.

“O Zé Gotinha está em alta. Esteve no carnaval, no Rio de Janeiro, esteve na parada LGBT+. Ele está sempre presente quando queremos reforçar a campanha, mas a vacinação ainda precisa voltar a ser um orgulho do nosso país, como já foi”, destacou a ministra, lembrando que o personagem é sempre muito querido por onde passa e que os esforços do Ministério Saúde são para que esse apreço se estenda também ao ato de se imunizar.

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“Não temos ainda essa força que precisamos ter [na cobertura vacinal], e o Senado é fundamental, para que a vacinação volte a ser um orgulho do nosso país, como já foi”, disse.

Nísia também comemorou a volta da condicionante de imunização para crianças e jovens dentro do programa Bolsa Família e disse que, no cenário atual, a poliomielite é considerada com “alto risco” de retorno à circulação.

“Essa baixa das coberturas vacinais se agravou nos últimos quatro anos”, afirmou. “Por isso, infelizmente o Brasil passou a fazer parte da lista de países de alto risco para reintrodução de doenças que estavam eliminadas do ponto de vista da circulação dos agentes e vírus que as causavam”, completou.

A vacina contra poliomielite é aplicada em gotinhas, mas há uma discussão no Ministério da Saúde para substituir a vacina oral por injetável, que é uma versão mais aprimorada do imunizante, a partir do próximo ano.

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Desde maio, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo uma série de qualificações, com o objetivo de promover a formação de profissionais para a implantação das Atividades de Vacinação de Alta Qualidade e Microplanejamento do programa de rotina e intensificação de campanhas voltadas para os municípios do Amazonas e Acre. As ações de microplanejamento consistem em diversas atividades com foco na realidade local. Essas iniciativas contribuem para que as metas de vacinação sejam atingidas.

Covid

Também a vacinação contra covid preocupa, pela baixa vacinação com a vacina bivalente, que encerraria o ciclo vacinal. Até o momento, cerca de 22 milhões de doses da vacina bivalente foram aplicadas. Antes dela, muitos deixaram de tomar doses anteriores.

Como estratégia neste flanco, o Ministério da Saúde tenta se aproximar de líderes religiosos para que eles divulguem entre os fiéis a importância da imunização contra o coronavírus.

A medida integra os esforços do governo para intensificar a cobertura no país, que desperta preocupações na cúpula da pasta.

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A necessidade de envolver lideranças religiosas na campanha de imunização já foi abordada pelo próprio Lula ainda na transição. Ele se referiu ao assunto ao cobrar a responsabilização de quem propagou fake news sobre a vacinação.

O Ministério da Saúde tem expressado aos estados e municípios preocupação com a redução de pedidos de entrega de doses e com os estoques de vacinas.

Os dados mostram baixo percentual de crianças que receberam as duas doses de covid-19. Em ofício de 19 de abril deste ano, o ministério comandado por Nísia Trindade ressaltou que nenhum estado apresentava mais de 30% do grupo de crianças com idades entre 6 meses e 4 anos vacinada com as duas rodadas.

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Rede privada de vacinação

Também há uma preocupação em agregar as clínicas privadas na recuperação de coberturas vacinais.

De acordo com Eder Gatti, secretário do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI), em evento no último dia 8, o governo não pode fechar os olhos às doses que são aplicadas na rede privada de vacinação.

Ele observou que, para o Ministério da Saúde, interessa saber qual a proporção da população protegida e da população suscetível porque essa é uma das vigilâncias que faz. No entanto, falta integração dos dados da rede privada, inclusive sobre vacinas que o SUS não oferece.

Nos últimos anos, a pasta da saúde tentou migrar os sistemas de inserção de dados de doses aplicadas, processo que foi acelerado durante a pandemia da covid, com os dados da rede pública no sistema RNDS (Rede Nacional de Dados em Saúde). A ideia é que as clínicas privadas também tenham os dados migrados, e que, aos poucos, essa integração também seja feita com a RNDS.

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