Comissão de Direitos Humanos debate racismo no futebol

Comissão reuniu representantes de entidades da sociedade civil, governo federal e a CBF para discutir o racismo no futebol e as formas de combate-lo

Geraldo Magela/Agência Senado

Em audiência pública no Senado, representantes de entidades da sociedade civil e ex-jogadores, do governo federal e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) discutiram o racismo no futebol e as formas de enfrentamento.

O senador Paulo Paim (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos no Senado Federal, manifestou que o país tem a obrigação de tratar as denúncias de racismo com mais severidade.

Ele considerou que o futebol tem o dever de ser exemplo, por ser o esporte mais popular, mas lamentou que a atividade ainda apresente uma faceta negativa da sociedade, que é a prática de racismo e da discriminação.

“Existem relatos da prática desse crime por atletas, torcedores, dirigentes e arbitragem, diversos atores do futebol. Nos últimos dias o mundo e o Brasil têm se debruçado diante do caso do crime de racismo cometido contra o jogador Vinícius Junior. O jogador da seleção brasileira já tinha sido vítima do crime de racismo mais de nove vezes e nada aconteceu. Que as autoridades espanholas se responsabilizem, investiguem e punam os criminosos”, disse o presidente da comissão.

Já o diretor de Desenvolvimento e Projetos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Leão, pediu a cooperação dos setores públicos e privado, além da sociedade civil, com a causa. Ele informou que a instituição já está implementando medidas de combate ao racismo, entre as quais, a responsabilização dos clubes pela má conduta de seus torcedores, jogadores e gestores, com sanções administrativas que podem ir de advertência, portões fechados e multas, podendo chegar à pena máxima na forma da perda de pontos.

“Há muito a ser feito, mas também há muito sendo feito. O racismo não é culpa da CBF, como não é de nenhuma outra instituição, mas assumir a responsabilidade significa que muito pode ser feito em prol da transformação que a gente precisa. Todas essas condutas, a exemplo do que aconteceu na Espanha com Vinicius Jr, têm sido enfrentadas juntamente com órgãos como o Itamaraty e até mesmo a Interpol, para investigar, instaurar os processos e punir esses criminosos”

Membros da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg) também estiveram presentes na audiência pública. O vice-presidente, Cleomar Marques de Paula, avaliou que as torcidas estão sendo punidas coletivamente, sem que se resolva o problema. Para ele, essa medida deve ser repensada porque acabar com o racismo no futebol envolve diversas medidas, “principalmente a de individualizar o crime, a fim de que a punição sirva de exemplo”, disse Cleomar.

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Caso Aranha

Também participou da audiência o ex-goleiro Aranha, alvo de injúria racial durante uma partida do Santos, sua então equipe, contra o Grêmio, em Porto Alegre, em 2014. Aranha participou virtualmente do debate e se colocou à disposição dos senadores para propor soluções.

“Quem se espanta com racismo no futebol não conhece a História. É preciso termos conhecimento profundo sobre esporte e sobre racismo, para termos avanços nessa jornada. E a mídia e os jogadores podem fazer total diferença nessa luta, por terem poder de influenciar meninos a mudar corte de cabelo, roupa e até forma de andar, por exemplo. Se a gente quer ter ídolos capacitados no futuro, devemos cuidar dos jovens hoje”, disse.

Governo

Coordenador de Políticas Transversais da Diretoria de Combate ao Racismo do Ministério da Igualdade Racial, Paulo Victor Silva Pacheco defendeu uma atuação mais intensiva das autoridades em defesa de direitos humanos, principalmente para que não se interrompam sonhos de jovens que se espelham em atletas como Vinicius Jr e o próprio Romário.

“Essa é a grande questão do governo federal, que retomou o plano Juventude Negra Viva, por exemplo, cujo objetivo é minimizar os efeitos da violência contra esse público. Formalizamos o grupo de trabalho interministerial, e o programa deve ser lançado em outubro, envolvendo todos os ministérios”.

*Com informações da Agência Senado

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