Campos Neto manobra para censurar Galípolo

Assessoria de imprensa do BC não repassava pedidos de entrevistas para o novo diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, indicado pelo governo Lula

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O Banco Central emitiu nota nesta quarta (19) negando censura prévia aos seus dirigentes por parte do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. Um documento interno revelado pelo jornal Folha de S.Paulo, no entanto, diz que “assuntos afetos à comunicação com os órgãos de imprensa fiquem subordinados diretamente ao presidente do BC”.

“Banco Central (BC) vem a público trazer os seguintes esclarecimentos para estabelecer que não existe e jamais existirá censura ou cerceamento de qualquer espécie à livre manifestação dos dirigentes do BC”, diz a nota.

A nota ainda afirma que o banco incentiva a manifestação dos diretores e que promove live semanal no YouTube. “Pelo contrário, os dirigentes do BC têm sido incentivados a se manifestar mais em público, o que pode se notar pela maior frequência de entrevistas e de outras manifestações públicas, incluindo a recém-lançada live semanal do BC no YouTube”, conclui.

Galípolo percebeu que a assessoria do BC não repassava pedidos de entrevistas que lhe eram feitos. Os profissionais da imprensa o procuravam diretamente após terem pedidos de entrevistas ignorados ou recusados pela assessoria. O diretor sequer era consultado.

A tentativa de condicionar as entrevistas dos diretores já era discutida no BC, mas se intensificou depois da indicação de Gabriel Galípolo para diretoria de política monetária pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula e Roberto Campos vem discutindo publicamente sobre a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. O governo defende a redução da Selic há meses enquanto o presidente do BC segue com a sanha contracionista mesmo com a queda da inflação.

A posição de Galípolo é conhecida pela opinião pública e, como reação, Campos Neto estaria tentando aplicar uma espécie de “lei da mordaça”. O novo diretor do Banco Central acha que passou da hora da autoridade monetária baixar os juros. Galípolo argumenta que a manutenção das taxas em níveis elevados pode comprometer o crescimento econômico.

Na sabatina para o Senado, o ex-secretário executivo da Fazenda pediu para que o BC respeitasse democrática. “Não cabe a nenhum economista, por mais excelência que tenha, impor o que ele entende ser o destino econômico do país à revelia da vontade democrática”, disse aos senadores.

Segundo a coluna da jornalista Mônica Bergamo, a proposta de Campos Neto de condicionar as entrevistas dos diretores do BC já foi discutida internamente. Técnicos da autarquia tentam interditá-la afirmando que os diretores do banco têm mandato, independência e autonomia garantidos por lei.

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