Novo diretor quer Banco Central menos técnico e mais democrático

Por um ano, o Copom do BC manteve o índice em 13,75%, levando o Brasil à liderança entre os países com as maiores taxas reais de juros

Gabriel Galípolo e Fernando Haddad Foto: ABr

Gabriel Galípolo quer “democratizar” o Banco Central (BC). À frente desde julho da Diretoria de Política Monetária da instituição, o economista, indicado ao cargo pelo presidente Lula, participou nesta terça-feira (15) de um debate virtual promovido pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon).

Sua tese sugere que o BC “independente”, sob a presidência do bolsonarista Roberto Campos Neto, é praticamente insensível aos interesses nacionais. A seu ver, isso se deve menos aos diretores do banco (temporários) e mais aos técnicos (servidores de carreira), que pouco participam de agendas públicas.

Para piorar, data de 2013 o último concurso realizado pelo BC para contratar funcionários com essa expertise. “A quantidade de informações trazida pelos técnicos facilita muito o processo de decisão. Mas não existe um modelo, não existe uma equação”, resumiu Galípolo.

Qual é, então, a saída: “Que os técnicos do Banco Central – sejam da área aqui de Política Monetária, sejam das demais áreas – possam também vir junto participar de apresentações e debates públicos. Ali há um depósito enorme de informações, debates e discussões que não deveriam estar limitadas ao sabor do diretor simplesmente de plantão”.

Na visão da CartaCapital, que cobriu o debate, o economista “mostra tendências não muito comuns entre seus colegas. Gabriel Galípolo é simpático à ideia de democratizar a atuação do BC, o que na prática significa tirar poder do ‘mercado’ sobre a autoridade monetária”. Em outras palavras, se quer ser uma autoridade monetária conectada à realidade nacional, o BC precisa falar “com pessoas e entidades de fora do sistema financeiro”.

A proposta é tentadora num momento em que, fora da “área técnica”, há consenso de que o Brasil não suporta mais uma taxa básica de juros (a Selic) tão alta. Por um ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC manteve o índice em 13,75%, levando o Brasil à liderança entre os países com as maiores taxas reais de juros. Apenas na semana passada, sob forte pressão nacional, a Selic foi reduzida a 13,25%.

Alinhado à diretriz de Galípolo, Antonio Correia de Lacerda, conselheiro e ex-presidente do Cofecon, concordou: não é possível “segurar” a inflação apenas pelo viés economicista, matemático, mercadológico. O Focus, boletim semanal do BC, exemplifica essa veia pró-mercado da instituição – apenas analistas do sistema financeiro são consultados.

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