Estratégia da Secom quer alcançar indecisos sobre avaliação do governo 

Para desidratar o bolsonarismo, o governo ignora eleitor ideológico e foca naquele que ainda desconfia de Lula

Ministro Paulo Pimenta mostra mapa que revela influência do agronegócio sobre eleitorado

Na noite desta terça-feira (18), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, participou de conversa com cerca de 150 jornalistas e comunicadores das mídias alternativas e independentes, em que abordou temas como as opções e as prioridades do governo Lula para a comunicação.

No encontro remoto, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Pimenta também falou sobre os desafios das mídias digitais e da regionalização da comunicação; a importância de comunicar as agendas positivas do governo numa situação difícil na composição do Parlamento; e ideias para alavancar o trabalho de fortalecimento da comunicação alternativa e independente no país.

Durante a entrevista, o ministro compartilhou informações sobre a estratégia do governo para reduzir o campo de influência do bolsonarismo. A base social que apoia o governo é fundamental para consolidar o discurso e avançar na ampliação do apoio, por isso era preciso contabilizá-la com precisão e de forma qualitativa.

O raciocínio tem como ponto de partida a eleição em que 24% da população não participou da eleição, seja por abstenção ou votos brancos e nulos. Com isso, no primeiro turno das eleições, Lula obteve 39% dos votos válidos. Depois disso, o ministro destaca dados de 15 avaliações de vários institutos sobre este início de governo, em que a avaliação de ótimo/bom do governo variou entre 37% e 41%, revelando a consolidação da margem de apoiadores fixos do governo Lula na sociedade.

As avaliações após os eventos de 8 de janeiro, quando ocorreu uma tentativa de golpe, mostram uma mudança nesse número com avanço do governo sobre uma parcela de bolsonaristas. Cerca de 20% dos eleitores de Bolsonaro rejeitaram o vandalismo golpista, levando a uma queda na avaliação ruim/péssimo, de 37% para 30% ou 26% na margem de erro. “Curiosamente, a avaliação de regular sai de 24% e vai a 30%, em alguns momentos, até mais que isso”, ressalta.

O Brasil Voltou, No Rumo Certo

Segundo o ministro, Lula conquistou a vitória eleitoral com eleitores que possuem uma renda de até 2 salários mínimos e ensino fundamental incompleto. No mapa da divisão política e eleitoral do país, é possível perceber uma divisão geográfica ressaltando a influência do agronegócio no cenário. “Essa divisão é resultado de clivagens geográficas, econômicas, sociais, escolaridade e de renda”, diz ele.

“Essas pessoas votaram em Lula devido à memória positiva e legado em que a memória afetiva de que a vida era melhor, com lembrança dos programas de governos passados”, ponderou. Por isso, a estratégia de comunicação do governo é mostrar que o Brasil está de volta, com essa perspectiva de recuperar as políticas públicas, garantindo que elas cheguem a essas pessoas.

Este foi um primeiro passo da estratégia de Comunicação. O governo alcançou o objetivo ao concentrar-se em consolidar o discurso e o apoio da sua base social. “O método de aferição é a avaliação do governo”, diz. O segundo passo é alcançar um outro público que considera o governo regular.

Segundo Paulo Pimenta, a estratégia de comunicação mobiliza-se, agora, para mostrar o “O Brasil no Rumo Certo”, e derrubar as resistências do eleitor que acompanha o governo com desconfiança, mas aberto aos resultados positivos. “De cada três pessoas que consideram o governo regular, duas não votaram em Lula, mas estão dispostas a ouvir suas propostas”, segundo o ministro.

Se 24% da população avalia o governo como ruim/péssimo, e 18% possuem uma visão ideológica calcificada, é preciso isolar este eleitorado com suas opiniões que não fazem frente à realidade de mudanças. Com isso, o governo consegue cumprir sua promessa de “união e reconstrução” ao tornar a sociedade brasileira menos polarizada. 

O ministro também ressaltou que a estratégia de comunicação será regionalizada, utilizando linguagens locais em cada estado. Ele citou campanhas que serão lançadas de multivacinação, do PAC e da avaliação dos seis meses, que terão 27 formatos diferentes, com imagens de cada estado. Ele falou em construir uma parceria com rádios comunitárias para isso. Mas ele apontou as dificuldades de assumir um Ministério que não existia como tal e, portanto, precisa reconstituir toda a estrutura de licitações para avançar.

“A estratégia de comunicação regionalizada e o foco nas pessoas que consideram o governo regular são as bases para alcançar esse objetivo”, segundo o ministro Paulo Pimenta. Ele mencionou que estuda formas de abordar os segmentos mais herméticos ao governo Lula, revelados na eleição, como as mulheres evangélicas, setores organizados, o universo do agronegócio e da segurança pública e os jovens das periferias.

Em sua apresentação, o ministro demonstrou que assim como o governo de frente ampla está em disputa, com várias tendências internas de nomes importantes, como ex-candidatos à Presidência da República, ex-governadores e presidentes de Partidos, há também uma comunicação para consolidar com foco no momento de união e reconstrução do Brasil.

Em seguida, o encontro foi aberto para perguntas e o ministro se comprometeu a buscar soluções para as principais demandas levantadas. Ele também se mostrou favorável a novos encontros e à realização de uma Conferência Nacional de Comunicação tão logo seja possível.

Assista à fala inicial do ministro Paulo Pimenta:

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