Na Rússia, Dilma encontra Putin e líderes africanos

A Cúpula do BRICS nos dias 22 a 24 de agosto, em Joanesburgo, e a expansão do banco que preside são os principais temas dos encontros.

Dilma e Putin durante encontro em São Petersburgo. Divulgação/Kremlin.

A ex-presidente brasileira e atual presidente do New Development Bank (NDB) – conhecido como “Banco do Brics” -, Dilma Rousseff, se reuniu nesta quarta-feira (26) com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Dilma acompanha as atividades da Cúpula Rússia-África, um fórum econômico que reúne diversos líderes mundiais em São Petersburgo, e aproveitou para marcar reuniões bilaterais com Putin e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

Segundo sua equipe, o objetivo dos encontros é discutir a próxima Cúpula do Brics, marcada para 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, e temas como a expansão de membros do NDB. Diz ainda que vai tratar da expansão do NDB e se reunir com governantes de outros países africanos, que estão na cidade russa.

“O NDB reiterou que não está considerando novos projetos na Rússia e opera em conformidade com as restrições aplicáveis nos mercados financeiros e de capitais internacionais”, afirma nota à imprensa. “Quaisquer especulações sobre tal assunto são infundadas.”

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Temas em debate

A expectativa é que o encontro entre Putin e os governantes africanos resulte na assinatura de acordos intergovernamentais nas áreas comercial, econômica, científica e humanitária, disse o Kremlin em comunicado divulgado ontem (25). Também discutirão a guerra na Ucrânia e a Iniciativa de Paz Africana, lançada em São Petersburgo em junho. 

Um dos temas principais da cúpula Rússia-África é a saída russa do acordo de grãos. A decisão de Putin, anunciada na semana passada, interrompeu o fornecimento de trigo da Rússia e da Ucrânia para os países africanos, que são muito dependentes do cereal exportado por ambos. Desde dezembro de 2021, a Rússia bloqueia o Mar Negro, por onde a Ucrânia escoava seus produtos.

O outro tema importante são as consequências do motim promovido pelo grupo de forças especiais russo Wagner. O grupo é contratado por vários países africanos para defendê-los de grupos armados insurgentes, sobretudo jihadistas. Putin, que selou um acordo com o dono do Wagner, Yevgeny Prigozhin, deve assegurar que nada muda nas operações do grupo na África.

Instituída para ser uma alternativa às fontes tradicionais de financiamento, a organização inclui os membros do grupo (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além de Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos. Fala-se na entrada de Argentina, Venezuela, Arábia Saudita, Irã e Argélia.

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Sanções

Isolado desde a invasão da Ucrânia, o governo russo tem contado com China e Índia para mitigar os efeitos das fortes sanções econômicas impostas pela Europa Ocidental e pelos Estados Unidos. Putin também vê no Brics uma boa oportunidade para encontrar novos parceiros.

As sanções internacionais impedem que a Rússia receba ajuda direta, como empréstimos de bancos como o NDB, por isso, ela foca na possibilidade de fazer negócios com outros países, especialmente na área de energia (petróleo e gás), que tem sido vendida a baixos preços para China e Índia. O país também é o principal responsável pelas remessas de fertilizantes para os países do Brics.

Apenas 1% das suas exportações de petróleo eram destinadas à Índia, antes do conflito, chegando a 18% em maio de 2022. A Rússia também promete aumentar a presença de carros chineses no país e a abertura de lojas de uma rede indiana de supermercados.

Além disso, junto aos demais membros do bloco, os russos têm avançado para diminuir sua dependência financeira de dólar e euro nas transações internacionais. A Rússia tem a quarta maior reserva em moeda estrangeira e ouro do mundo, que poderia ser usada para ajudar a sustentar o rublo, por um tempo considerável.

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Pequim é o principal parceiro de Moscou e aposta em um discurso de amizade, ao mesmo tempo em que reforça seu apoio à paz e à defesa da soberania. A Índia também tem se abstido na ONU sobre resoluções de condenação à Rússia.

Já Brasil e África do Sul adotam uma postura mais neutra, que preferem estimular conversações de paz entre os países em guerra. A África do Sul chegou a autorizar a presença de Vladimir Putin na cúpula de Joanesburgo no final de agosto, confrontando ameaças do Tribunal Penal Internacional (TPI). O Brasil chegou a assinar uma resolução de condenação à invasão da Ucrânia pela Rússia.

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