Execução de Villavicencio beneficia ultradireita, diz jornalista da Hispantv

A dias das eleições e logo após assassinato do candidato à presidência do Equador, o presidente Lasso decreta Estado de Exceção

Foto: Reprodução Instagram

Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, foi assassinado na reta final da campanha com três tiros na cabeça, na tarde desta quarta-feira (9), quando saía de uma atividade eleitoral numa escola na zona norte de Quito.

A Procuradoria-Geral do Estado informou que o homem preso como suspeito pelo ataque morreu logo após ter sido transferido, gravemente ferido, para a Unidade de Flagrantes. Além disso, outras nove pessoas teriam sido baleadas, sendo duas mortas, no confronto entre atacantes e policiais que faziam a escolta.

Lasso coloca país em Estado de Exceção

Dizendo que é para “garantir a democracia” – mas a colocando, na verdade, em risco – o presidente do Equador, Guillermo Lasso, se aproveita do assassinato para convocar Estado de Exceção o que, na prática, tolhe liberdades democráticas.

Para o jornalista argentino e correspondente da HispanTV, Andrés Sal.lari, que acompanha o processo diretamente da capital equatoriana, não há a menor sombra de dúvida de que o crime “beneficia a ultradireita”.

Afinal, é a casta enraivecida, ditatorial e avessa ao diálogo quem se fortalece com candidatos como o mercenário Jan Topic, que diz ter combatido na Ucrânia, e alardeia a necessidade da “mão dura” do Estado, em detrimento do crescimento econômico e da geração de emprego e renda.

Além disso, esclarece Sal.lari, “muitos meios de comunicação sugerem que foi o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) – exilado na Bélgica – quem mandou matar Villavicencio”. “Isso tudo porque Villavicencio dizia que Correa tinha um acordo com o jornalista Julian Assange, fundador do WikiLeaks. E que iria mantê-lo asilado na Embaixada do Equador em Londres para que escondesse supostos casos de corrupção. Falava até de fundos secretos que Correa teria para o caso Assange”, recorda.

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Declarações estapafúrdias e sem qualquer base, logo seguidas pelas do grupo mafioso local “Los Lobos” que assume a autoria do assassinato.

“Num momento em que a candidata da Revolução Cidadã, Luisa González, candidata de Correa e favorita em todas as pesquisas, disputa cada ponto percentual para definir as eleições no primeiro turno, marcadas para o próximo dia 20, os dois ou três pontos que faltavam parecem ficar mais longe”, avalia o correspondente.

No país, para que as eleições sejam definidas no primeiro turno, é preciso que o candidato alcance 40% dos votos e abra uma vantagem de 10% sobre o segundo colocado. Conforme o instituto de pesquisas TelcoData, terça-feira (8), Villavicencio aparecia em quarto lugar com 6,8% dos votos, contra 30,5% de Luisa González.

O fato é que a grande mídia, assinala Andrés, começa a bater de forma subliminar, mas identificando claramente o alvo. “Uma repórter da Teleamazonas entrevista um eleitor de Villavicencio que culpa Correa. Pega o microfone, olha para a câmera e diz: ‘Assim é’…” Ou seja, não somos nós quem estamos emitindo uma opinião, mas “o povo”. “Não se pede precaução, investigação, análise”, acrescenta o correspondente.

Rafael Correa foi sintético no Twitter: “Fernando Villavicencio foi assassinado. O Equador se tornou um estado falido. Dói Pátria. Minha solidariedade à sua família e a todas as famílias das vítimas da violência. Os que pretendem semear ainda mais ódio com essa nova tragédia, espero que entendam que isso somente segue nos destruindo”.

“Com indignação recebo a terrível notícia do atentado que causou a morte de Fernando Villavicencio, isso nos entristece a todos. Meu abraço solidário a todos os seus familiares e companheiros. Este ato vil não ficará impune!“, destaca Luisa González.

Ameaçado pelo cartel de Sinaloa

Há poucos dias Villavicencio disse ter sido ameaçado pelo Cartel de Sinaloa – também conhecido como C.D.S, de Chapo Guzmán, um grande sindicato do narcotráfico e do crime organizado. Como esclareceu o candidato em entrevista, um relatório policial revelava “uma gravíssima ameaça de um dos chefes do Cartel de Sinaloa: refiro-me ao pseudônimo Fito, contra mim e minha equipe de campanha com a advertência de que se eu continuar citando ele e sua estrutura, eles me atacarão ou atentarão contra a minha vida”.

De acordo com o diretor da consultora Icare, Pedro Donoso, “Villavicencio foi a representação do anticorreísmo e as hipóteses vão apontar para isso”. “A campanha não será a mesma, para além do candidato assassinado”, acredita.

Execrado pela população, identificado com a lógica neocolonial de privatização, arrocho salarial e desemprego, o presidente Guillermo Lasso declarou sua “indignação” e jurou que “esse crime não ficará impune”. Para dar a dimensão da sua fúria, convocou para um “Gabinete de Segurança” no Palácio Carondelet, em Quito, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Diana Atamaint; a Procuradora-Geral do Estado, Diana Salazar; o presidente da Corte Nacional de Justiça, Iván Saquicela, e… as Forças Armadas.

Mais preocupada em criminalizar Correa e derrotar Luisa González, a mídia faz o jogo de Lasso, deturpando, manipulando ou invisibilizando os acontecimentos.

Diante das movimentações e da gravidade da situação – a violência multiplicou as mortes por cinco nos últimos seis anos – tudo indica que o assassinato de Villavicencio foi planejado para alterar o resultado eleitoral. Ou suspender as eleições.

Esta matéria foi produzida horas antes de embarcarmos a Quito para noticiar, desde o país latino-americano, as eleições presidenciais em iniciativa joranalística integrada com a equipe da Comunicasul

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