Após execução de Villavicencio, disparam contra candidata à Assembleia do Equador

Após colocar o país em Estado de Exceção, presidente Guillermo Lasso é forçado a voltar atrás na sua tentativa de impedir liberdade de reunião, mas mantém vários obstáculos à campanha

Parte dianteira do carro de Estefany Puente foi crivada de balas, ampliando o clima de terror e medo (Twitter)

Menos de 24 horas após a execução na saída de uma escola de Quito do candidato presidencial Fernando Villavicencio, quarta-feira (9), a candidata à Assembleia Nacional, Estefany Puente, teve o carro crivado de balas em Quevedo, a 140 quilômetros da capital, ampliando o clima de terror às vésperas do processo eleitoral do próximo dia 20 (domingo).

“Hoje fui vítima de um atentado contra minha integridade”, denunciou Estefany Puente na quinta-feira (10). A aspirante à deputada da aliança “Claro que se pode” pela província de Los Ríos disse que esta crise de insegurança é consequência do abandono a que o povo foi submetido. “Fomos esquecidos por um governo inoperante, envolvido em corrupção, de máfias, resultado dos governos anteriores e do atual, dos que negociam com os grupos delitivos e são resguardados por tais”, acrescentou a candidata, partidária de Yaku Pérez, novo aliado da casta conservadora à presidência.

O assassinato de um homem alinhado a Washington, como Villavicencio, que vociferava contra o apoio do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) a Julian Assange e ao WikiLeaks na luta pela democratização da comunicação, e os disparos numa aliança colaboracionista, como Yaku, são utilizados pela mídia para atacar as forças de esquerda.

Em uníssono, grandes jornais, rádio e televisão fazem campanha aberta contra a advogada Luisa González, ex-deputada do movimento Revolução Cidadã. A candidata do “correísmo”, ao lado do economista Andrés Arauz busca fazer com que o país andino retome sua soberania contra o servilismo aos Estados Unidos.

“Estão tentando fazer com que a opinião pública não reflita sobre tudo o que foi feito nos anos de Correa e o responsabilize, sem qualquer prova, pela morte de Villavicencio”, declarou Anita, jovem motorista de Uber, enquanto conduzia a reportagem pelas ruas do Centro Histórico de Quito. “Eu não me deixo enganar e darei meu voto a Luisa, mas tudo é muito incerto”, acrescentou.

Nas redes sociais, há uma guerra de versões sobre a autoria da morte de Villavicencio. Inicialmente circulou um vídeo com pessoas fardadas de negro e com o rosto tapado, identificadas como integrantes da organização mafiosa “Los lobos”, admitindo a autoria do crime.

Villavicencio havia alertado que estava recebendo ameaças do Cartel de Sinaloa, do mexicano Chapo Guzmán, e de delinquentes ligados ao narcotráfico. Mais recentemente, circulam pelas redes declarações de hipotéticos membros dos Lobos, todos vestidos de branco, dizendo que “não assassinam políticos”.

Manto de silêncio

Diante da pressão dos mais amplos setores contra o manto de silêncio à campanha com o “Estado de Exceção” imposto ao país, o presidente banqueiro Guillermo Lasso voltou atrás e revogou a limitação do direito à liberdade de reunião em território nacional.

Gozando de enorme impopularidade, Lasso disse haver sido “mal interpretado” e que a medida não era de restrição à campanha eleitoral.

O novo decreto do Executivo, que estará vigente por 60 dias em todo o país, não inclui toque de recolher, mas continua impondo a mobilização das Forças Armadas para apoiar as arbitrariedades da Polícia – que já jogou até gás lacrimogêneo em Luisa González na porta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) -; autoriza as Forças Armadas e a Polícia a fazerem o “uso legítimo e excepcional da força” em contextos de controle de “ordem pública, proteção interna e segurança cidadã”, além de suspender o direito à inviolabilidade de domicílio, entre outras barbaridades dirigidas contra a democracia.

Para o ex-presidente Rafael Correa, defensor da candidatura de Luisa, “é preciso ter uma estratégia integral de segurança”. “O crime organizado não se combate somente com mais pistolas para a Polícia, que tampouco as têm, senão com inteligência, com tecnologia, com articulação internacional. O que se passa no Equador ‘não é azar’, é consequência do abandono, da negligência, da incompetência e inépcia de todos estes anos”, sublinhou.

De acordo com Correa, “desmantelaram tudo, diziam que era um Estado obeso. Eliminaram o Ministério Coordenador da Segurança, eliminaram o Ministério da Justiça, encarregado das penitenciárias, que agora estão sob o controle das máfias; eliminaram o Ministério do Interior, encarregado da segurança cidadã e do controle policial”.

A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições presidenciais e à Assembleia Nacional do Equador graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicatos dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP) e de Santa Catarina  (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS) e dezenas de contribuições individuais.

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