Só faz sentido país crescer se a riqueza for distribuída, diz Lula

Ao encerrar Marcha das Margaridas, Lula defende igualdade, anuncia novas medidas e diz que mulher “não é e não pode ser tratada como cidadã de segunda categoria”

FotoFabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Diante de uma Esplanada dos Ministérios lotada por mais de 100 mil pessoas, a grande maioria mulheres, no encerramento da Marcha das Margaridas nesta quarta-feira (16), o presidente Luiz Inácio da Silva e ministros anunciaram medidas voltadas especialmente às brasileiras do campo, das florestas e das águas. Lula também defendeu a igualdade, rechaçou o machismo e a violência e destacou: “Só faz sentido um país crescer se a riqueza desse crescimento for distribuída e chegar às mãos de vocês, para fazer a roda da economia girar e melhorar a vida das pessoas”. 

Dirigindo-se aos “poderosos, fascistas e golpistas”, Lula disse que eles “jamais evitarão a chegada da primavera”. E completou afirmando: “só pensa em dar golpe, no dia de hoje, quem não conhece a capacidade de luta dos homens e das mulheres deste país”. 

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Em referência a algumas das ações anunciadas em resposta às demandas da Marcha — levadas ao governo por suas organizadoras no dia 21 de junho —, o presidente destacou a retomada da reforma agrária com atenção especial às famílias chefiadas por mulheres; os Quintais Produtivos; o estímulo à agroecologia e o acesso à terra, à titulação, ao crédito e a equipamentos. “Foram prioridades definidas por vocês, demandas que temos o prazer de atender para que as mulheres do campo, das florestas e das águas possam viver com dignidade, tendo assegurado os seus direitos civis, políticos e sociais”, completou. 

Lula salientou, ainda, que “o Brasil voltou; voltou para dar atenção à mulher do campo e cuidar das brasileiras e dos brasileiros que mais precisam; o Brasil voltou com a ajuda das mãos de cada uma de vocês”. 

Após falar sobre as prioridades do governo, voltadas à superação das desigualdades, o presidente salientou a luta contra a violência e o preconceito que atingem a fatia feminina da população. “É preciso criar uma cultura de respeito no campo e nas cidades. Não toleraremos mais discriminação, misoginia e violência de gênero. Não podemos conviver com tantas mulheres sendo agredidas e mortas diariamente dentro de suas casas, como também não é possível achar normal que, exercendo uma mesma função, uma mulher ganhe menos que o homem”. 

A mulher, disse, “não é e não pode ser tratada como cidadã de segunda categoria. Vocês são protagonistas da história e podem fazer suas escolhas”. 

Golpe e retrocessos

Foto: Ricardo Stuckert

Ao lembrar da interrupção, pelo golpe de 2016, do projeto de país que vinha sendo construído desde seu primeiro mandato, Lula pontuou que naquele momento “ninguém podia imaginar que o Brasil pudesse retroceder tanto, sair do trilho da inclusão, destruir políticas voltadas para os mais pobres e entrar de novo no mapa da fome”. 

O presidente acrescentou que “nenhum de nós poderia imaginar que o Estado poderia fechar totalmente os olhos para as demandas dos que mais precisam, ou pior, que voltaria a usar toda a sua força para perseguir nosso projeto de um país inclusivo com justiça social”. 

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E, lembrando do assassinato, em 1983, da militante do campo que inspirou a marcha, Lula argumentou que “foi esse mesmo tipo de perseguição que há 40 anos tirou a nossa querida Margarida Alves, uma nordestina à frente do seu tempo. Essa mulher que foi morta a tiros na porta da sua casa por defender o básico que todo trabalhador e trabalhadora deveria ter: carteira assinada, férias, 13º, jornada de trabalho de oito horas diárias. Margarida é símbolo dessa marcha e de muitas lutas, inspiração para tantas outras mulheres que seguem resistindo e lutando por um mundo melhor, sendo, ainda vítimas de tanta violência”. 

O presidente também fez um breve balanço de algumas das ações dos primeiros sete meses de seu governo que incidem especialmente na vida das mulheres do campo, das florestas e das águas, citando a volta do Plano de Aquisição de Alimentos, o Plano Safra da agricultura familiar; as linhas de crédito exclusivas com juros menores no Pronaf Mulher; o Bolsa Família; o Minha Casa, Minha Vida; o Luz para Todos; o Mais Médicos; a Farmácia Popular e a construção de cisternas, entre outras. 

Lula também destacou o aumento real do salário mínimo e da merenda escolar, que há seis anos não era reajustada. “O resultado desse conjunto de ações já é visível. O preço dos alimentos está caindo, o desemprego também cai. O Brasil já está melhor, e vai melhorar ainda mais. A economia vai continuar crescendo e vamos dividir o resultado desse crescimento com o povo brasileiro”, declarou.

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Por fim, Lula afirmou: “a única razão pela qual eu voltei a ser presidente da República, tirando aquele fascista, aquele genocida do poder, foi provar a este país e ao mundo que o Brasil tem condição de tratar o seu povo com respeito, de melhorar a vida de vocês, de cuidar da saúde das nossas crianças, dos trabalhadores, das mulheres. Eles têm que saber que filho de agricultor vai sim entrar na universidade e vai virar doutor”. 

Entre os ministros presentes estavam Cida Gonçalves (Mulheres), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Nísia Trindade (Saúde), Marina Silva (Meio Ambiente), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Simone Tebet (Planejamento), Ana Moser (Esporte), Anielle Franco (Igualdade Racial), Margareth Menezes (Cultura), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), Márcio Macedo (Secretaria Geral da Presidência), Flávio Dino (Justiça), Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), Luiz Marinho (Trabalho), Camilo Santana (Educação), Jader Barbalho Filho (Cidades) além da primeira-dama, Janja e outras autoridades, parlamentares e lideranças dos movimentos sociais, entre os quais a secretária de Mulheres da Contag, Mazé Morais e o presidente da Contag, Aristides Santos.