Lula mostra PAC como oportunidade ao BRICS e critica protecionismo ambiental

Programa de investimentos deve movimentar US$ 340 bilhões, com alto investimento em infraestrutura. O presidente criticou medidas de países europeus que chamou de neocolonialismo verde

Foto oficial do presidente Lula na reunião do Brics

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (22) que o novo programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representa uma oportunidade de investimento para países que integram o BRICS – bloco composto por Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil. Durante a abertura do Fórum Empresarial do Brics, na África do Sul, ele citou que o programa deve movimentar um total de US$ 340 bilhões.  

“Trata-se de um programa amplo, com muitas oportunidades que podem interessar aos investidores dos países do BRICS.” Lula informou que o comércio total do Brasil com o BRICS aumentou de 48 bilhões de dólares em 2009 para 178 bilhões em 2022 – um crescimento de 370% desde a criação do grupo.

Em sua fala, Lula destacou investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Segundo ele, o governo também dará prioridade a projetos envolvendo a geração de energia solar, eólica e a partir de biomassa, além do etanol e do biodiesel. “É enorme o nosso potencial de produção de hidrogênio verde”, completou. 

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O presidente brasileiro citou dados do FMI segundo os quais os países industrializados devem desacelerar seu crescimento de 2.7%, em 2022, para 1.4%, em 2024, ao passo que as nações em desenvolvimento têm previsão de crescer 4% neste ano e no próximo. “Isso mostra que o dinamismo da economia está no Sul Global e o BRICS é sua força motriz”.

Moeda própria

O presidente voltou a defender utilização de uma moeda alternativa ao dólar para o comércio entre os países do BRICS. Ele afirmou ainda que o Novo Banco de Desenvolvimento, chamado de banco dos Brics, deve ser um líder global no financiamento e uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre os países em desenvolvimento.

“As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento continuam muito altas. A falta de reformas substantivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes”, disse.

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África emergente

Lula também celebrou a relação do Brasil com os países africanos e disse que a África reúne “vastas oportunidades e enorme potencial de crescimento”. O presidente afirmou que é possível integrar as cadeias produtivas e agregar valor aos bens e serviços produzidos de forma sustentável nos dois continentes. 

Lula citou ainda a colaboração em áreas como agricultura e saúde. “Aliando investimento e tecnologia, o Brasil desenvolveu técnicas modernas de agricultura tropical que podem ser replicadas com sucesso”, disse.

Por fim, ele defendeu a ampliação das conexões marítimas e aéreas entre os dois lados do Atlântico. Segundo o presidente há uma proposta do Conselho Empresarial dos BRICS para o estabelecimento de acordo multilateral de serviços aéreos do grupo. 

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Foto: Ricardo Stuckert

Neocolonialismo verde

Lula afirmou que o Brasil não pode aceitar o que chamou de “neocolonialismo verde que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob o pretexto de proteger o meio ambiente”. Ele se refere à reação do parlamento francês ao acordo comercial do Brasil com a União Europeia, que para garantir protecionismo comercial para sua agricultura, alegou medidas ambientais que precisam ser cumpridas. Os franceses impedem, com isso, uma decisão favorável no Parlamento Europeu.

Lula voltou a defender os interesses dos países com florestas, que são cobrados pela preservação, sem compensações. “Os serviços ambientais e ecossistêmicos que as florestas tropicais fornecem para o mundo devem ser remunerados de forma justa e equitativa”, acrescentou.

Agenda africana

Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Lula iniciou os compromissos na África do Sul com uma reunião, na manhã desta terça-feira (22), com 13 representantes do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), em Joanesburgo. O partido do ex-presidente Nelson Mandela governa o país desde o fim do apartheid.

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A conversa, antes da participação do presidente no Fórum Empresarial do BRICS, teve como prioridade as situações políticas na América Latina e na África e como os dois continentes podem se aproximar mais para consolidar um mundo mais multipolar e menos desigual.

“Você superou um momento muito difícil e você tem grande experiência com coalizões. Viemos aprender com vocês”, disse Gwede Mantashe, presidente do ANC e atual ministro de Recursos Minerais do governo sul-africano. “Nós temos uma dificuldade, então, porque eu que vim aprender com vocês”, brincou o presidente Lula em seguida.

Os compromissos oficiais do presidente Lula na África do Sul incluíram também uma reunião com membros brasileiros do Conselho Empresarial do BRICS. Outra agenda foi uma participação no Fórum Empresarial do BRICS, com a presença de uma delegação de cerca de 30 empresários brasileiros que buscam ampliar parcerias com os demais países do bloco.

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No início da noite, houve o chamado retiro dos líderes, momento em que os chefes de Estado e governo do BRICS se reúnem por cerca de duas horas em um recinto privado, acompanhados dos respectivos ministros de Relações Exteriores, para debater os assuntos da cúpula de forma reservada e mais informal.

Além de Lula, participarão do retiro o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o presidente da China, Xi Jinping, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. O presidente russo, Vladimir Putin, participará por meio de videoconferência.

A cúpula do BRICS continua com duas reuniões de trabalho na quarta-feira (23) e uma outra, ampliada, na quinta (24). Após a participação na cúpula do BRICS, Lula segue para Angola, onde fará uma visita oficial até sábado (26). No domingo (27), ele participa da Cúpula de Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em São Tomé e Príncipe, antes de retornar ao Brasil.

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