BRICS cresce em influência com mais seis países membros

Adesão é anunciada com Arábia, Argentina, Egito, Emirados, Etiópia e Irã, a partir de janeiro de 2024. Todos os países devem entrar no bloco como membros plenos, com os mesmos direitos de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

Joanesburgo, África do Sul, 24.08.2023 - Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participa da Sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, BRICS-Africa Outreach e BRICS Plus. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Cerca de 40 de países manifestaram interesse em aderir ao BRICS, o grupo que abrange Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e que está reunido esta semana em Joanesburgo. No entanto, as candidaturas de seis países foi discutida e aceita durante uma reunião privada dos atuais líderes do grupo, na noite de terça-feira (22), durante a 15ª cúpula dos Brics, em Joanesburgo, na África do Sul. O anúncio da adesão de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã foi feito pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante coletiva de imprensa nesta quinta (24). 

A Indonésia esteve entre os que tinham maior probabilidade de serem admitidos. No entanto, o governo do país adiou sua adesão porque está presidindo este ano a Associação dos Países do Sudoeste Asiático (Asean).

O Brasil defendeu a entrada da Argentina, parceiro comercial no Mercosul e a África do Sul defendeu a entrada de mais um país africano, além do Egito, o que acabou se tornando a adesão da Etiópia. Muito se falava da Nigéria, um dos países que mais crescem no continente. Não foi dessa vez.

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Todos os países devem entrar no bloco como membros plenos, com os mesmos direitos dos países originários: Brasil, Rússia, Índia e China – e da África do Sul, que se incorporou em 2011.

Central para a atração do grupo é o seu crescente peso econômico. Os cinco países do BRICS agora têm um produto interno bruto (PIB) combinado maior que o do G7 em termos de paridade de poder de compra. Em termos nominais, os países do BRICS são responsáveis por 26% do PIB global. Apesar disso, eles obtêm apenas 15% do poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Juntamente com as queixas sobre tais desequilíbrios, crescem as preocupações no Sul Global de que os EUA possam armar o dólar por meio de sanções, como fizeram contra a Rússia. Isso levou as nações do BRICS individualmente e coletivamente a tentarem reduzir sua dependência da moeda dos EUA enquanto aumentavam o comércio bilateral em suas próprias moedas.

Em 2015, o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – então conhecido como Banco do BRICS – foi fundado, com sede em Xangai, para oferecer uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.

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O BRICS se beneficia da ampliação de sua influência com Arábia, Argentina, Egito, Emirados Etiópia e Irã. Mas, quem ganha na loteria são os países que entram.

Foi um movimento que mostrou um atitude concreta e deu esperança aos países mais pobres, o Sul Global, que é possível desafiar a arquitetura institucional financeira global.

Quem decide, na cúpula da África do Sul, os novos membros do bloco

Retórica diplomática

A ideia da ampliação vinha sendo discutida há anos, mas tomou grande impulso recentemente por conta da disputa geopolítica cada vez mais acirrada entre China e Estados Unidos, as duas maiores economias do mundo, e pelo isolamento da Rússia por causa da invasão da Ucrânia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, é contra  tentativas de tornar o bloco Brics num agrupamento ideológico para enfrentar as pressões dos EUA e da União Europeia. Para ele, o grupo deve continuar sendo uma plataforma comercial e financeira para estimular um comércio mais justo, que não ocorre hoje com o clube fechado do G7. Assim como o Brasil, Índia e África do Sul também mantém relações sólidas com os países da Europa e com os EUA.

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O Brasil, como a Índia, também é um dos países que têm dúvidas de que um BRICS maior é necessariamente um BRICS mais forte. O clubinho fechado do G7 é uma prova dessa resistência à ampliação. Melhor sete países ricos unidos para definir os rumos do mundo, do que muitos países ricos sem capacidade de influência. 

As reticências de Lula sobre uma expansão, são vistas lá fora como um temor de que sua influência possa ser diluída, assim como pensa a África do Sul, já pouco influente no bloco. Ontem Lula usou a expressão Torre de Babel como um risco para o BRICS, ou seja, um amontoado de países que não se entendam, nem estejam comprometidos com o bloco. Tais diferenças minaram também o trabalho de outras grandes organizações de equilíbrio global, como a Organização da Cooperação Islâmica, o G77 e o Movimento dos Não-Alinhados.

O Norte Global mantém um olhar atento sobre como se comportam Xi Jinping e Narendra Modi nessas cúpulas, torcendo pelo fracasso ou limites do bloco. São duas lideranças com divergências de defesa muito fortes, devido a uma disputa de fronteiras. No entanto, a cúpula da África do Sul mostrou que o Ocidente não compreende a política externa da China, que apoiou a declaração final com sugestão de entrada da Índia no Conselho de Segurança da ONU.

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No entanto, a resposta do Ocidente à guerra da Rússia na Ucrânia – praticamente separando a Rússia do sistema financeiro global por meio de duras sanções – também assusta as economias emergentes preocupadas com a possibilidade de os EUA exercerem esse poder sobre todos eles também. Não à toa, vários dos postulantes ao BRICS são países sancionados por Washington, como Irã, Venezuela e Cuba. 

Sul Global

O principal interesse dos Brics é defender os interesses do grupo dentro de uma ordem global que vem mudando com muita rapidez e se transformando num mundo multipolar. No entanto, é inevitável que seja visto como um contraponto ao G7, uma posição de força que desafia a ordem mundial liderada por Washington, há muito tempo dominante, embora a retórica diplomática evite falar disso.

Um dos pedidos do Brasil para aceitar a entrada de novos membros era uma declaração clara da China e da Rússia de que defendem que o país tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O texto saiu na  Declaração de Joanesburgo no sétimo parágrafo:

“Apoiamos uma reforma abrangente da ONU, incluindo o seu Conselho de Segurança, com vista a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação dos países em desenvolvimento nos membros do Conselho, para que possa responder adequadamente às desafios globais prevalecentes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento de África, Ásia e América Latina, incluindo o Brasil, a Índia e a África do Sul, de desempenharem um papel mais importante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo o seu Conselho de Segurança”.

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O Ocidente gosta de dizer que a Índia não vê a China como uma voz do Sul Global, por exemplo. Em vez disso, Nova Deli veria a China como um “país desenvolvido que tenta interferir na narrativa do Sul Global”. Outros países temem que o bloco se encaminhe para se tornar um instrumento dos interesses chineses. Apesar disso, a China sabe que manter tudo como está lhe é mais favorável, do que pressionar em outro sentido.

Em junho, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, descreveu a atual concentração de poder econômico como uma que “deixa muitas nações à mercê de muito poucas”. Uma fala que cala fundo em todo o mundo em desenvolvimento, onde o poder de veto do Conselho de Segurança das Nações Unidas permanece limitado a cinco nações com base em um entendimento enraizado em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial.

O coro para derrubar o sistema unipolar pós-Guerra Fria só aumenta entre a África, a América Latina e as potências asiáticas emergentes, como a Índia.

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