Às vésperas do G20, Mauro Vieira reafirma a necessidade de se falar em paz

Ao programa “Bom dia, Ministro”, o chanceler explicou as razões pelas quais o Conselho de Segurança da ONU precisa de uma reforma entre os países permanentes e não permanentes

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Às vésperas de embarcar com a delegação brasileira para a reunião do G20, em Nova Delhi, Índia, o ministro das Relações Internacionais Mauro Vieira reafirmou, nesta quarta (6), a necessidade de se falar em paz em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia.

A declaração foi dada ao programa “Bom Dia, Ministro”, da EBC, apresentado pela jornalista Karine Melo.

Lula e o chanceler Vieira viajam para a Índia nesta quinta (7), onde participam da Cúpula do G20. O Brasil assumirá a presidência rotativa do bloco pela primeira vez na história.

A programação oficial prevê pelo menos três sessões temáticas, que abordarão tópicos como desenvolvimento verde sustentável; meio ambiente e clima; transições energéticas; e global net zero, que é a ideia de emissão zero líquida de carbono.

Outros assuntos como crescimento inclusivo; cumprimento de metas dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS); saúde, educação, infraestrutura, transformações tecnológicas, reformas multilaterais e futuro do trabalho e emprego também estarão em pauta.

Aos ouvintes do programa, o chefe do Itamaraty, em linhas gerais, explicou a importância do bloco.

“O G20 é um local, um âmbito de negociação importantíssimo. Aí estão as maiores economias do mundo. Não só países e economias, mas também organismo internacionais. Por exemplo, a ONU, o secretário-geral da ONU participa da reunião, assim como a secretária-geral da Organização Mundial do Comércio e o presidente do Banco Mundial. Enfim, chama-se G20 mas tem mais de 20 unidades participando”, abordou Mauro Vieira.

Perguntado sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, e como o Brasil abordaria o tema na reunião, o ministro Mauro Vieira reafirmou as intenções do governo brasileiro de construir um ambiente para a elaboração de um acordo de paz.

“O presidente Lula vem fazendo um apelo para que se fale mais em paz e menos de guerra. Ele foi contra o começo da guerra, no período que ainda candidato, e agora, como presidente, continua, obviamente, contra a continuação dessa guerra. E ele vem fazendo um apelo, chamando a atenção de que é impossível continuar se falando em guerra vendo toda a destruição que acontece”, explicou.

“Isso não quer dizer que o Brasil esteja tomando um lado. Ao contrário. Nós condenamos a invasão da Rússia a Ucrânia, inclusive em foros internacionais, como na ONU. Mas também queremos seguir agora um caminho que leve a paz”, afirmou o chanceler.

Mauro Vieira ainda explicou que, para além do discurso oficioso do ocidente, em relação ao conflito, existe uma gama de outros países e atores internacionais que seguem a mesma ideia de paz do governo brasileiro.

“No G20 há países que se quer falam com a Rússia e países que tem atitude parecida com a brasileira. O local é ideal para este tipo de divulgação. O presidente Lula esteve em maio com o Papa Francisco e ambos lançaram um apelo neste sentido. Também houve uma delegação dos países da União Africana que foram a Ucrânia e a Rússia. Portanto, eu acho que essa caminho que o presidente Lula tem feio para chamar atenção para a necessidade de uma conversa, uma negociação de paz está surtindo efeito e poderá continuar a surtir efeito, sobretudo agora nessa importante reunião do G20”, afirmou.

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Conselho de Segurança da ONU e a nova governança mundial

O chanceler Mauro Vieira também afirmou que o Conselho de Segurança da ONU, responsável pela mediação dos conflitos e guerras no mundo, não reflete mais a configuração dos países do mundo, atualmente.

Para o ministro, o Conselho de Segurança precisa ser reformado.  “A ONU, quando foi criada, tinha 54 países porque só havia 54 países no mundo. Hoje são 193 nações depois do processo de descolonização dos anos 1960 e 197, que proporcionou a independência de um grande número de países. Não é possível que o conselho de segurança continue com a mesma composição de 1950”, defendeu.

O Conselho de Segurança tem duas categorias de membros: os cinco países permanentes, que, entre outros poderes, podem usar o direito de veto, bloqueando as decisões do grupo. Entre eles, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. E os membros não permanente, escolhidos em eleição na Assembleia Geral das Nações Unidas.

Na entrevista, o ministro do Itamaraty afirmou que os países que pertencem ao bloco dos Brics concordam com a reforma na Conselho de Segurança da ONU proposta por Lula.

“Todo os países que fazem parte do Brics estão de acordo que a governança mundial precisa ser reformada, sobretudo no Conselho de Segurança das Nações Unidas, aumentando o número de membros permanentes e não permanentes”.

Para Mauro Vieira os assentos no Conselho precisam ser mais representativos. “Que seja mais representativo do mundo de hoje. Precisamos adaptar e trazer um número maior de países, como a Índia, Brasil, no mínimo dois países da África, onde está uma grande massa populacional e que não tem voz neste órgão.

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