CPI das Americanas blinda responsáveis por fraude de R$ 20 bilhões

No documento aprovado, não há qualquer menção à responsabilidade dos acionistas Carlos Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Hermann, controladores da empresa

Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, os donos das Lojas Americanas

Sem indiciar os supostos responsáveis pela fraude de R$ 20 bilhões e dívidas de R$ 42 bilhões na varejista, o relatório final da CPI das Americanas demonstrou que houve uma “blindagem” dos bilionários Carlos Alberto da Veiga Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Hermann, os principais controladores da empresa.

O documento aprovado, do relator Carlos Chiodini (MDB-SC), não faz qualquer menção à responsabilidade desse trio na fraude.

Numa clara demonstração de blindagem, o presidente do colegiado, deputado Gustinho Ribeiro (Republicanos-SE), assumiu a responsabilidade da não convocação desses acionistas.

Para justificar o engavetamento dos requerimentos de convocação, o deputado citou o regimento da Casa para afirmar que a elaboração da pauta é de sua prerrogativa.

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“É muita subserviência aos interesses do capital que lesa em bilhões de reais a empresa, quem paga são os trabalhadores, os pequenos acionistas e o povo brasileiro”, criticou a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS), que apresentou um voto em separado com o seu colega de legenda Tarcísio Motta (RJ).

“O mercado de capitais sofreu a maior corrupção de sua história promovida por aqueles que não só deveriam estar indiciados no relatório, deveriam estar presos”, afirmou a parlamentar.

Ela diz ainda ser vergonhoso ver as manobras para blindar os bilionários protagonistas da maior fraude do país.

No voto em separado, os deputados dizem não ser crível, por exemplo, que os três acionistas não tenham achado estranho que, no segundo semestre de 2022, pouco antes do anúncio da fraude, diretores tenham vendido mais de R$ 210 milhões em ações da Americanas S/A.

Naquele período, os diretores da empresa venderam as ações de modo quase cinco vezes a quantidade negociada entre maio de 2019 e junho de 2022.

“Essas operações renderam R$ 244,3 milhões em ações, em valores corrigidos pela inflação, um crescimento de 55% em relação a todas as operações registradas entre maio de 2019 e junho de 2022, mesmo que o valor dos papeis tenha caído ao longo do período”, dizem.

Com um patrimônio avaliado em R$180 bilhões, os parlamentares observaram que os controladores têm recursos suficientes para salvar mais de quatro vezes o Grupo Americanas.

“Os três possuem vasta experiência em operações financeiras e mercantis no mínimo questionáveis”, afirmam.

No documento, os deputados citam a carta encaminhada pelo ex-CEO do grupo Americanas S/A, Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, que apontou o envolvimento dos bilionários com a empresa.

Nela, o ex-CEO diz que a Americanas era controlada por esse conjunto de empresários que compõem a 3G Capital, todos com forte presença no dia a dia da companhia. Por meio da holding LTS, eles participavam da gestão e interagiam, de forma frequente, com o diretor-financeiro.

“Todas as decisões estratégicas na história do grupo, inclusive nos últimos anos, foram tomadas pelos controladores”, revelou o ex-CEO.

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