Guatemaltecos saem às ruas em defesa do presidente eleito

Procuradores considerados corruptos apreenderam e abriram urnas que davam vitória ao social-democrata Bernardo Arévolo.

A Guatemala enfrenta uma onda de protestos e greves em todo o país em apoio ao presidente eleito, Bernardo Arévalo, que foi recentemente alvo de uma tentativa de golpe de Estado. Os manifestantes estão nas ruas pedindo respeito à democracia e a renúncia das autoridades envolvidas na ação contra o presidente eleito.

As tensões aumentaram depois que promotores apreenderam e abriram as atas eleitorais, ação que recebeu uma condenação internacional firme, por ameaçar a transição pacífica de poder na Guatemala. A operação foi resultado da denúncia de um cidadão, mas apenas o TSE estaria autorizado a realizar tal verificação.

Organizações internacionais, incluindo a Organização dos Estados Americanos (OEA), os Estados Unidos, a Espanha, a União Europeia e outros expressaram sua rejeição à perseguição penal e consideraram que ela representa uma ameaça à democracia e à governabilidade da Guatemala.

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O governo brasileiro também expressou preocupação com as interrupções no processo de transição de poder na Guatemala e reafirmou, em comunicado publicado na segunda, o reconhecimento da eleição de Arévalo. 

Social-democrata, Arévalo visitou nesta terça-feira (3) os Estados Unidos, onde deve se reunir com o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, na Casa Branca. Eleito em 20 de agosto, após derrotar nas urnas a ex-primeira-dama Sandra Torres, ele reiniciou uma turnê internacional para denunciar a tentativa de golpe para impedir que ele assuma o cargo.

O partido de Arévalo, o Movimento Semente, tornou-se alvo de investigações do Ministério Público ainda durante o pleito e foi inabilitado apenas oito dias após sua vitória. 

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Protestos, greves e bloqueios

Os protestos ganharam força na madrugada desta terça-feira (3), quando centenas de guatemaltecos se reuniram na ponte Chixoy, em Quiché, como parte das jornadas de manifestações que ocorrem em mais de 30 pontos em todo o país. A greve, que começou na segunda-feira (2), não tem um prazo determinado.

Os protestos são realizados por manifestantes, em sua maioria indígenas e agricultores, bloqueando pelo menos 17 trechos de estradas, incluindo a Interamericana e as vias que levam às fronteiras com México, El Salvador e Honduras.

A mobilização popular foi liderada pelos prefeitos comunais dos 48 cantões do departamento de Totonicapán, que exigiram a renúncia da procuradora-geral, Consuelo Porras, sob a acusação de conspirar para impedir que Bernardo Arévalo assumisse a presidência.

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Os manifestantes expressam sua determinação em defender a democracia e rejeitar qualquer intervenção no processo eleitoral que escolheu Bernardo Arévalo como presidente.

Arévalo demonstrou apoio às manifestações em suas redes sociais e expressou seu desejo de participar dos protestos em frente ao Ministério Público do país. Ele instou a população a continuar se manifestando contra o golpe e a levantar suas vozes em defesa da democracia.

Corrupção e golpismo

Além de Consuelo Porras, os manifestantes pediram a remoção do promotor Rafael Curruchiche e do juiz Fredy Orellana, que lideraram uma campanha legal considerada como um “golpe de Estado” pelo presidente eleito. Os três servidores públicos foram incluídos em uma lista dos Estados Unidos de funcionários “corruptos” e antidemocráticos.

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Diante dos bloqueios, o Ministério do Interior emitiu um comunicado instruindo a Polícia Nacional Civil a usar a força para dissolver os protestos, mas também enfatizou a necessidade de uma análise para garantir a segurança dos envolvidos. A situação na Guatemala permanece tensa, enquanto a população continua a lutar pelo respeito à democracia e pela posse do presidente eleito, Bernardo Arévalo.

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