ONU aprova envio de forças lideradas pelo Quênia ao Haiti

Nova missão aprovada pelo Conselho de Segurança apoiará a polícia nacional haitiana no combate às gangues que aterrorizam o país e já dominam 80% da capital Porto Príncipe

Pessoas protestando nas ruas de Porto Príncipe no Haiti. Foto: UNICEF/Roger LeMoyne and U.S. CDC .

O Conselho de Segurança da Nações Unidas (ONU) aprovou, na segunda-feira (2), uma missão de auxílio às autoridades do Haiti para o treinamento de combate às gangues e proteção da infraestrutura do país. A força multinacional que será enviada será liderada pelo Quênia. A sessão que deliberou a missão foi a primeira sob comando do Brasil na presidência rotativa do órgão.

O documento foi aprovado por 13 votos no Conselho. Somente votaram pela abstenção Rússia e China.

O embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, disse que a medida tem como fundamento a solidariedade internacional.

As Nações Unidas destacam em seu site que, apesar da operação não ser liderada por ela, a missão atende ao chefe da ONU, António Guterres, que age para auxiliar o país em crise. Ele deverá criar um fundo para receber contribuições para a missão.

A previsão é de 12 meses de trabalho com a finalidade de reforçar o efetivo da Polícia Nacional Haitiana a fim de combater o banditismo e criar condições para eleições em um clima de paz.

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O presidente interino, o primeiro-ministro Ariel Henry, deveria ter deixado o cargo no início de 2022. Ele assumiu em 2021, após o assassinato do presidente Jovenel Moise. Porém, o clima de insegurança tem impedido que eleições ocorram, conforme aponta Henry.

A pacificação do Haiti a partir de eleições livres é uma das esperanças da população para controlar a atual crise.

Conforme o relatório da ONU que instaurou a missão, as gangues haitianas disparam indiscriminadamente contra as pessoas, realizam saques em massa, promovem incêndios em residências como forma de aterrorizar a população, além de atos de violência sexual.

Nesse sentido, as instituições e forças nacionais estão mal equipadas para combater e tentar retomar o controle da situação, o que insere a necessidade de apoio à polícia nacional.

Crise no Haiti

A nação caribenha passa por uma crise que se arrasta por décadas e ganhou novo impulso em 2021 com o assassinato do presidente Moise. Desde então as gangues ganharam ainda mais espaço na capital Porto Príncipe e ocupam 80% do território. Ondas de saques, sequestros, estupros e violência fizeram que mais de 200 mil pessoas fugissem da região metropolitana da capital desde então, além de centenas de milhares que procuraram refúgio fora do Haiti.

O país já passou por 6 missões da ONU desde os anos 90 até estabelecer o Escritório Integrado das Nações Unidas no Haiti, Binuh, em 2019. A missão de maior período ocorreu, entre 2004 e 2017, chamada de Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti ou MINUSTAH, e teve no comando militar o Exército Brasileiro na maior parte do tempo.

O legado dessa e outras missões é envolto à escândalos com acusação de abusos, disseminação de doenças como a cólera que devastou o país em 2022 e o aprofundamento dos problemas no país, sendo que após décadas de missões as condições materiais se deterioraram.

De acordo com dados da ONU, 2,5 mil pessoas foram assassinadas em 2023 e a combalida economia do país agravada pelo caos instalado acentuou a pobreza. Com isso, quase 5 milhões de haitianos estão em situação famélica.

*Com informações ONU