EUA: candidatura independente de Kennedy Jr. complica mais Biden que Trump
Pesquisa Reuters/Ipsos mostra Kennedy Jr. com 14% da preferência do eleitorado. Trump tem 40%, e Biden, 38%. A família Fitizgerald Kennedy já teve um presidente, John F. Kennedy (JFK), e um presidenciável, Robert F. (Bob) Kennedy
Publicado 10/10/2023 17:50 | Editado 11/10/2023 17:01
A família Fitizgerald Kennedy, uma das mais tradicionais dos Estados Unidos, já teve um presidente da República, John F. Kennedy (JFK), e um presidenciável, Robert F. (Bob) Kennedy. Os dois foram assassinados nos anos 1960, quando cada um deles estava no auge e representava a esperança do Partido Democrata em estabelecer uma nova hegemonia na polícia norte-americana.
Agora, mais de seis décadas depois, um terceiro Kennedy entrará na corrida para a Casa Branca – e de um modo surpreendente. Embora democrata, o advogado Robert F. Kennedy Jr., filho de Bob e sobrinho de JFK, decidiu concorrer à sucessão de Jor Biden de modo independente.
O anúncio foi feito nesta segunda-feira (9), em coletiva de imprensa em frente ao Centro Nacional de Constituição, na Filadélfia, Pensilvânia. “As pessoas me abordam em todos os lugares – em aeroportos, hotéis, na rua. Elas me lembram que este país está pronto para uma mudança histórica”, discursou o advogado, que se destacou como ativista ambiental.
Uma candidatura independente é a forma como Kennedy Jr. se livra de disputar as primárias democratas contra Biden, que é o favorito interno, embora esteja com a popularidade em baixa. Se em 2020 Biden era visto como o melhor nome para impedir a reeleição de Donald Trump, agora ele já é apontado como o único democrata incapaz de derrotar seu rival, que deve vencer as prévias no Partido Republicano, caso não fique inelegível.
Kennedy Jr. fará eventos no Texas, na Flórida e Geórgia ainda em outubro. De acordo com a Reuters, ele já arrecadou US$ 17 milhões (cerca de R$ 87 milhões) para sua campanha. Um dos trunfos de sua candidatura – e também seu calcanhar-de-aquiles – é a Children’s Health Defense, ONG liderada por Kennedy Jr. que se notabilizou pela disseminação de fake news contra vacinas, incluindo o imunizante contra a Covid-19. Sua conta no Instagram chegou a ser removida por dois anos.
Com o slogan “Kennedy 24”, ele não terá uma campanha coadjuvante. Apoiadores e aliados de Trump já começam a atacá-lo nas redes sociais. A própria família Kennedy condenou o projeto eleitoral do advogado. “Bobby pode ter o mesmo nome de nosso pai, mas não compartilha os mesmos valores, visão ou julgamento. O anúncio de hoje é profundamente triste para nós”, afirmaram, em comunicado conjunto, seus irmãos Rory Kennedy, Kerry Kennedy, Joseph P. Kennedy II e Kathleen Kennedy Townsend. “Acreditamos que sua candidatura é perigosa para o nosso país.”
Muito embora Trump esteja associado à desinformação e ao negacionismo, Kennedy Jr. vai complicar ainda mais a situação de Biden. Desde 1992 – quando o empresário Ross Perot teve 8% de votos na eleição presidencial –, a “terceira via” patina nas urnas estadunidenses. O problema para os democratas é que o novo candidato tem potencial para se tornar uma alternativa aos eleitores que rejeitam Trump, mas não querem votar novamente em Biden.
Se Kennedy Jr. tiver uma votação similar à de Ross Perot, Biden provavelmente sairá derrotado do pleito. No começo do mês, pesquisa Reuters/Ipsos previa um cenário ainda melhor para o agora candidato independente, que desponta com 14% da preferência do eleitorado. À frente do levantamento, em empate técnico, estão Trump, com 40%, e Biden, com 38%.
Isso quer dizer que, se a eleição fosse hoje, Biden não teria nem sequer o voto de dois a cada cinco eleitores – patamar historicamente baixíssimo para um presidente que está no terceiro ano do primeiro mandato. Kennedy Jr., porém, tem cerca de um ano para organizar uma candidatura mais competitiva. Sem a força de um partido tradicional, ele precisará coletar dezenas de milhares de assinaturas, em cada estado, para ter seu nome nas cédulas eleitorais dessas regiões.